Postos de saúde têm dificuldade em identificar usuários de drogas, diz USP

Postos de saúde têm dificuldade em identificar usuários de drogas, diz USP
Dependentes encaminhados a tratamento por unidades de saúde são 22%. - Estudo aponta ainda que 66% busca ajuda sozinho ou com apoio familiar.

As unidades públicas de saúde têm dificuldade em diagnosticar dependentes químicos e, principalmente, encaminhá-los a tratamentos específicos. A constatação é de um estudo realizado pela Escola de Enfermagem da USP em Ribeirão Preto (SP), que traçou o perfil dos usuários de drogas na cidade: 66,31% dos que estavam em tratamento no Centro de Atenção Psicossocial para Álcool e outras Drogas (CAPSad) buscaram auxílio sozinhos ou com apoio da família, enquanto apenas 22,1% foram encaminhadas por hospitais ou postos de saúde.

“Quando chega nesses serviços, o que eles fazem? Medicam e manda embora. Eles não vão querer uma pessoa lá que bebeu ou usou drogas dando trabalho. Pode até medicar, mas tem que fazer um encaminhamento, explicar que existe tratamento e mandar para um serviço de apoio”, explica a enfermeira Josélia Carneiro Domingos, autora do estudo que avaliou o perfil de 95 dependentes no CAPSad, no segundo semestre de 2012.

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O resultado do levantamento aponta ainda que 6,31% chegaram CAPSad por outras instituições do mesmo segmento, 3,15% por serviços comunitários e 2,1% por determinação da Justiça – internação involuntária. “O principal problema é a falta de profissionais qualificados atuando em atendimentos de urgência e emergência. Não adianta só medicar e mandar embora”, critica.

A situação descrita por Josélia foi vivida muitas vezes pela agente de segurança Carolina, de 34 anos, dependente de álcool desde os 15 anos. Ela conta que chegou a consumir três litros de cachaça por dia e, algumas vezes, foi levada pela família – e até mesmo pela polícia – para unidades básicas distritais de saúde, por estar alcoolizada. “Sempre davam glicose e mandavam para casa.”

Somente em abril do ano passado, após ser atendida por um médico amigo da tia, que é enfermeira, Carolina conseguiu encaminhamento para tratar o vício no CAPSad. “Agora, eu conheço pessoas com histórias até piores que as minhas. Isso faz eu olhar para mim mesma e lutar para conseguir me livrar da bebida”, diz.

Doenças associadas

Josélia afirma ainda que a maioria dos usuários de drogas tem problemas de saúde associados ao vício, como pneumonia ou tuberculose, por exemplo, o que torna o primeiro atendimento prestado nas unidades de saúde ainda mais importante, no que se refere ao diagnóstico precoce dessas doenças.

O estudo da USP aponta que entre os dependentes entrevistados que possuíam algum tipo de enfermidade, 21% tinham problema de hipertensão arterial severa ou doenças cardíacas, 15,78% sofriam com doenças respiratórias ou tuberculose, 9,47% eram epiléticos ou tinham convulsões frequentes, 5,26% foram diagnosticados com diabetes, 5,26% tinham hepatite, 2,1% HIV e 13,68% outras doenças crônicas.

“Se a gente tiver profissionais preparados, principalmente, nas unidades básicas e serviços de urgência, a gente vai ter um retorno positivo, porque não sobrecarrega o CAPSad e começa a fazer um trabalho precoce, ou seja, as doenças não são descobertas em estágio avançado”, diz a enfermeira.
Usuários não reconhecem

Para a coordenadora do CAPSad, a psicóloga Gisela Pires Marchini, é arriscado afirmar que os dependentes químicos desenvolvem doenças associadas ao vício por falta de diagnóstico nas unidades de saúde. Apesar de reconhecer que, em algumas situações, os profissionais tem um número grande de pacientes para atender, Gisela diz que, na maioria das vezes, são os próprios usuários de drogas que negam a dependência.

“Há uma complexidade muito grande nessa questão. Muitas vezes, o paciente acaba negando o vício, ou afirma que só utiliza aos finais de semana. Ele não consegue reconhecer que não está bem, leva muito tempo para ver isso. Às vezes, quando chega à UBDS, acaba colocando apenas as questões clínicas”, diz.

Ainda de acordo com Gisela, também é preciso levar em consideração que nem sempre o usuário é atendido na mesma unidade de saúde, ou com o mesmo profissional. “Ora é uma pessoa que atende, ora é outra pessoa. Além disso, o dependente só consegue ter essa percepção quando é ameaçado de romper um casamento, com a possibilidade de perder a guarda dos filhos, ou uma questão clínica, cirrose, diabetes, etc. Mas aí, a situação está muito grave”, afirma.

Fonte - G1 - Adriano Oliveira Do G1 Ribeirão e Franca
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