• Maconha faz mal?

    Saiba mais sobre a fundamentação científica acerca dos efeitos da maconha sobre o organismo.

Onde tudo começa: Delegado afirma: 90% dos usuários de crack iniciaram com a maconha

Onde tudo começa

Delegado afirma: 90% dos usuários de crack iniciaram com a maconha 

Uma recente pesquisa realizada pela Universidade Federal de São Paulo apontou que o Brasil é o segundo maior consumidor de Cocaína do mundo. Considerada uma das drogas mais caras e destrutivas, a cocaína tem como subproduto o Crack, muito mais barato e mortal. Estima-se que o Crack já esteja presente em quase todas as cidades do País, principalmente nas que estão em desenvolvimento, como Passo Fundo. 

Conforme o delegado titular da Delegacia Especializada de Furto, Roubos e Capturas(DEFREC), Delegado Adroaldo Schenkel, Passo Fundo tem registrado aumento no consumo e tráfico de cocaína nos últimos anos. Ele explica que isso é esperado em cidades pólo, por agregar pessoas das mais diferentes regiões e também classes sociais. 

O Delegado afirmou que 90% dos usuários do Crack ou Cocaína começaram no vício com a Maconha. Mesmo nesse cenário de crescimento no consumo de drogas, especialmente derivados da cocaína, o Delegado lembra que as prisões de traficantes e quadrilhas também vem crescendo. Isso é resultado de um intenso trabalho realizado em parceria com outros órgãos de segurança. 

Fonte - Rádio Uirapuru Am - Passo Fundo/RS

Segue outra publicação relacionando a sequência de consumo de drogas por usuários, e as fases

Seqüência de drogas consumidas por usuários de crack e fatores interferentes

Progression on drug use and its intervening factors among crack users
Zila van der Meer Sanchez e Solange Aparecida Nappo
Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas do Departamento de Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, SP, Brasil
 
 

DESCRITORES
Transtornos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Drogas ilícitas. Tabagismo. Cocaína crack. Progressão de drogas. Estudo qualitativo. Interferentes de uma escalada.
RESUMO

OBJETIVO:
Identificar, entre usuários de crack, uma progressão no uso de drogas e seus fatores interferentes.

MÉTODOS:
Utilizou-se metodologia qualitativa para uma investigação mais profunda, considerando o ponto de vista que o entrevistado tem do fenômeno. Foram aplicados entrevistas de longa duração e questionários semi-estruturados. Foi delineada uma amostra intencional, e uma amostragem com critérios foi conseguida. Para atingir a saturação teórica, foram entrevistados 31 usuários ou ex-usuários de crack.

RESULTADOS:
Foram detectadas duas fases distintas de uso de drogas. A primeira, com drogas lícitas, sendo o cigarro e o álcool as mais citadas pela amostra. Parentes e amigos dos entrevistados foram os incentivadores do consumo, e o motivo alegado para o uso dessas substâncias foi a necessidade de autoconfiança. A idade precoce do consumo e o uso pesado de uma ou ambas as drogas foram determinantes para o início de uma escalada de drogas ilícitas. A maconha foi a primeira droga dessa segunda fase. Uma postura mais ativa na busca da droga como fonte de prazer passou a ser o motivo do consumo.

CONCLUSÕES:
O estudo revela que a identificação de uma seqüência de drogas parece estar mais associada a fatores externos (pressões de grupo, influência do tráfico etc.) do que à preferência do usuário. Foram identificadas duas progressões diferentes: entre os mais jovens (=30 anos), cuja a escalada começou com o cigarro e/ou álcool e passou pela maconha e cocaína aspirada até o uso de crack; e os mais velhos (>30 anos), que iniciaram o uso de drogas pelo cigarro e/ou álcool, seguido de maconha, medicamentos endovenosos, cocaína aspirada, cocaína endovenosa e, por fim, crack. 
Fonte - Scielo - Revista Saúde Pública

É muito simples

Onde tudo começa: Delegado afirma: 90% dos usuários de crack iniciaram com a maconha - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
Esta matéria é de setembro de 2012 (a primeira do topo da página), mas vale citar, devido ao possível peso da fonte; um delegado de polícia. Um delegado de polícia, ou policiais em geral, são fontes raras e únicas. Não possuem estudo ou formação direcionada na área de psicologia ou dependência química, mas são das poucas pessoas, que estão em contato direto e diário, com o usuário, com todo tipo de usuário. Estatísticamente falando, os dados fornecidos pela polícia, são precisos. Mesmo que a pessoa presa, minta em seu depoimento, ou se negue a falar, um delegado, ou policiais, sabem só de olhar, só pela observação de características comportamentais, se a pessoa  é ou não, um usuário de drogas, e se cometeu o crime seja ele qual for, tendo a droga como um motivador ou percussor, sendo que nada é claro, torna o crime justificável, mas de certo ponto de vista, ele é explicável, digamos assim. Os crimes mais comuns cometidos por usuários de drogas, são o furto, e o tráfico. 
Crimes violentos, em uma boa parcela estão também muitas vezes associados ao consumo de drogas ilegais/álcool, porém, em virtude da violência (agressões graves, homicídios etc) é certo que existe outra doença, ou psicopatia instalada, consequente ou não da dependência química. 
Leia também: Prisão ou tratamento ?

Não bastar o fato de que a maconha é uma droga, que causa dependência, que faz mal, que altera nossa mente e percepção, e que nos torna incrivelmente "piores, lentos, e apáticos" mentalmente falando, não resta a menor dúvida, que seguramente algo em torno de 90% dos usuários de crack ou cocaína, passaram pelo uso da maconha, não importando ou não, ou fato de terem usado esta apenas uma, ou duas vezes. O simples fato de usar a substância, cria de certa forma em nossa mente, uma "carta branca" ou "passe livre", para outras substâncias. O cérebro, define que: se usamos uma droga, lícita ou ilícita (e isto não faz muita diferença, mas a diferença está que a usamos), e que se: ela altera nosso humor, nossa percepção, causando das mais variadas e boas sensações no primeiro uso, há um sistema de recompensa, então não existem mais "limitações" morais ou práticas por assim dizer. Ora, começa pelo simples fato da pessoa ter a "necessidade" de usar algo, para "sentir-se bem". Só aí já indica, que a pessoa não está bem, não é um ser humano seguro, e se ainda por cima tiver a predisposição para a doença (dependência química), o resto é uma consequência, mais tempo, menos tempo. -Mais 24 Hrs

Mais 24 Hrs de Paz e Serenidade

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Estatísticas européias sobre consumo de maconha - Relatório Anual sobre a Evolução do Fenomeno da Droga na Europa/2012

Efeitos adversos para a saúde do consumo de cannabis

Estatísticas européias sobre consumo de maconha - Relatório Anual sobre a Evolução do Fenómeno da Droga na Europa/2012 - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
É geralmente aceite que os riscos para a saúde associados ao consumo de cannabis são inferiores aos riscos associados ao consumo de heroína ou de cocaína. No entanto, devido à elevada prevalência do consumo de cannabis, esta droga pode ter um impacto significativo na saúde pública. 

Foram identificados vários problemas de saúde agudos e crónicos associados ao consumo de cannabis. Entre os efeitos adversos agudos figuram a náusea, a diminuição da coordenação e do desempenho, a ansiedade e os sintomas psicóticos, que podem ser mais comummente mencionados por pessoas que a consomem pela primeira vez. Estudos de observação epidemiológicos revelaram que o consumo de cannabis por parte dos condutores aumenta igualmente o risco de envolvimento na colisão de veículos rodoviários (Asbridge e outros, 2012). Entre os efeitos crónicos do consumo de cannabis figuram a dependência e as doenças respiratórias. 

O consumo regular de cannabis na adolescência pode ter efeitos adversos na saúde mental dos jovens adultos, e existem dados que apontam para maiores riscos de sintomas psicóticos e de perturbações que aumentam com a frequência e a quantidade do consumo (Hall e Degenhardt, 2009).


Tratamento

Procura de tratamento

Em 2010, a cannabis era a droga principal de cerca de 108 000 pacientes em início de tratamento registados em 29 países (25% do total), o que a torna a segunda droga mais referida a seguir à heroína. 
Além disso, a cannabis foi a droga secundária mais mencionada, tendo sido referida em cerca de 98 000 citações. Os consumidores de cannabis que a consomem como droga principal correspondem a mais de 30% dos pacientes que iniciam o tratamento na Alemanha, Bélgica, Chipre, Dinamarca, França, Hungria, Países Baixos e Polónia, mas a menos de 10% na Bulgária, Eslovénia, Estónia, Luxemburgo, Malta e Roménia, e entre 10% e 30% nos restantes países) (52). 
Quase 70% da totalidade dos consumidores de cannabis que iniciam o tratamento na Europa são notificados pela Alemanha, Espanha, França e Reino Unido. As diferenças na prevalência do consumo de cannabis e os problemas conexos ajudam a explicar uma parte da variação constatada entre os diversos países no que respeita à percentagem de indivíduos que iniciam tratamento. Outros fatores, como as práticas de encaminhamento e o tipo de oferta de tratamento, são igualmente importantes. 

França, por exemplo, possui um sistema de centros de aconselhamento especificamente direcionados para pacientes jovens, que são sobretudo consumidores de cannabis (53), enquanto a Hungria oferece aos delinquentes consumidores de cannabis a possibilidade de fazerem tratamento em alternativa às sanções penais; ambos os sistemas contribuem para aumentar o número de pessoas que inicia tratamento. 
Nos últimos cinco anos, nos 25 países relativamente aos quais existem dados disponíveis, registou-se um aumento global (de 73 000 pacientes , em 2005, para 106 000, em 2010) do número de pacientes consumidores de cannabis que iniciam tratamento, em especial daqueles que iniciaram tratamento pela primeira vez na vida. 

Perfil dos pacientes em tratamento

A maioria dos pacientes que consomem cannabis inicia tratamento em regime ambulatório e constitui um dos grupos de pacientes mais jovens em início de tratamento, com uma média de idades de 25 anos. 
Os jovens que mencionam a cannabis como droga principal representam 76% dos pacientes que iniciam tratamento registados na faixa etária dos 15 aos 19 anos e 86% dos que têm menos de 15 anos. A proporção entre homens e mulheres é a mais elevada registada entre os pacientes (cerca de cinco homens para cada mulher). Globalmente, cerca de metade dos pacientes que têm a cannabis como droga principal consomem-na diariamente, cerca de 21% consomem-na 2 a 6 vezes por semana, 13% consomem-na semanalmente ou com menos frequência e 17% são consumidores ocasionais, alguns dos quais não consumiram a droga no mês anterior ao início do tratamento. 
Existem diferenças consideráveis entre os países. Na Hungria, por exemplo, onde a maioria dos consumidores de cannabis que iniciam tratamento são encaminhados pelo sistema de justiça penal, os pacientes são na sua maioria consumidores ocasionais ou não consumiram a droga no mês anterior ao início do tratamento (54).

Fonte - Relatório  Anual 2012 do Observatório Europeu sobre Drogas e Dependência Química - European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction (EMCDDA)

Link para o original em pdf - Idioma: PT
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Convênio vai ampliar o combate ao crack em São Paulo

Convênio vai ampliar o combate ao crack em São Paulo

Convênio vai ampliar o combate ao crack em São Paulo - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
Usuários de crack  na rua General Osório, próximo a rua Mauá, em SP

O governador Geraldo Alckmin (PSDB) e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), firmaram ontem convênio para a criação até o final do ano de cinco novos Caps (Centro de Atenção Psicossocial) 24 horas para atender viciados em crack. Com isso, serão 11 unidades do gênero (em tempo integral e dirigido a esse público) -seis delas já funcionam na capital. Além disso, cinco ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) serão destinadas especialmente ao socorro de dependentes químicos.
Até o fim de 2014, a meta dos governos estadual e municipal é que 31 Caps dessa rede funcionem o dia todo. O anúncio integra programa conjunto de combate ao crack na cidade. É a primeira vez que o prefeito assume compromisso público com o governador sobre o tema.

Há três meses, o Estado criou, em parceria com a Justiça, Ministério Público, OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e Defensoria Pública, um plantão judiciário para agilizar internações de dependentes químicos.

O plantão ocorre no Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e outras Drogas do Estado), unidade nas proximidades da cracolândia, na região central da cidade. Na ocasião, o prefeito não se mostrou favorável, pois havia o temor que ocorressem internações compulsórias (contra a vontade do usuário) em massa, o que não ocorreu.

Esse tipo de internação é possível com base em uma determinação de um juiz, com aval de psiquiatras. Segundo juízes que atuam no Cratod, o plantão começou a sobrecarregar o atendimento nos Caps. Os magistrados apontaram demora para liberação de leitos psiquiátricos e falta de ambulância para suprir a demanda das ações que envolvem esse público.

Segundo o secretário estadual de Saúde, Giovanni Cerri, o Estado terá cem leitos à disposição dos Caps em hospitais da Grande São Paulo mais próximos da capital.

"Houve maior procura dos dependentes e de suas famílias. Isso mostrou que há necessidade de trabalhar em sintonia", disse Cerri.

Fonte - Folha São Paulo

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World Drug Report - Estimativas do comércio mundial de drogas Cocaína e Heroína

UNODC - Escrtório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime
O tráfico de drogas
introdução

O tráfico de drogas é um comércio ilícito global, envolvendo o cultivo, a produção, distribuição e venda de substâncias que estão sujeitas a leis anti-drogas. A UNODC está continuamente monitorando e pesquisando mercados globais de drogas ilícitas, a fim de obter uma compreensão mais abrangente de sua dinâmica. O tráfico de drogas é uma parte fundamental desta pesquisa. Mais informações podem ser encontradas no Relatório Anual Mundial sobre Drogas.

Heroína
Nos níveis atuais, o consumo de heroína mundial (340 toneladas) e as apreensões representam um fluxo anual de 430-450 toneladas de heroína. Desse total, o ópio de Mianmar e República Democrática Popular do Laos produz cerca de 50 toneladas, enquanto o restante, cerca de 380 toneladas de heroína e morfina, é produzido exclusivamente a partir do ópio afegão. Enquanto cerca de 5 mil toneladas são consumidas e apreendidas no Afeganistão, a maior parte remanescente das 375 toneladas restantes é traficada em todo o mundo através de vias que fluem para dentro e através dos países vizinhos do Afeganistão.

Os Balkans as rotas do norte são os principais corredores de tráfico de heroína no Afeganistão ligando aos grandes mercados da Rússia e Europa Ocidental. A rota dos Balcãs atravessa a República Islâmica do Irã (muitas vezes via Paquistão), Turquia, Grécia e Bulgária em toda a Europa do Sudeste para o mercado da Europa Ocidental, com um valor de cerca de 20 bilhões de dólares anualmente. A rota do norte é executada principalmente através do Tajiquistão e Quirguistão (ou Uzbequistão ou Turquemenistão) para o Cazaquistão e da Federação Russa. O tamanho desse mercado é estimado total de US $ 13 bilhões ao ano.

Rotas da Heroína
Rotas da heroína
Em 2008, as apreensões globais de heroína atingiram um nível recorde de 73,7 toneladas. A maior parte da heroína foi apreendida na Europa Central (10 por cento) Próximo e Médio Oriente e Sudoeste da Ásia (39 por cento do total global), o Sudeste da Europa (24 por cento) e Europa Ocidental e Central por outra parte menor. (10 por cento). O aumento global em apreensões de heroína ao longo do período 2006-2008 foi impulsionado principalmente pelo continuados ataques crescentes na República Islâmica do Irã e da Turquia. Em 2008, esses dois países foram responsáveis ​​por mais da metade das apreensões de heroína globais e registrados, pelo terceiro ano consecutivo, a maior e a segunda maior apreensão mundial, respectivamente.

Cocaína
Em 2007 e 2008, a cocaína foi usada por aproximadamente 16-17 milhões de pessoas em todo o mundo, semelhante ao número de usuários globais de opiáceos. A América do Norte respondeu por mais de 40% do consumo global de cocaína (o total foi estimado em cerca de 470 toneladas), enquanto os estados da União Europeia e quatro países do Comércio Livre da Associação Europeia outros 27% , ou seja, mais de um quarto do consumo total. Estas duas regiões são responsáveis ​​por mais de 80 por cento do valor total do mercado global de cocaína, que foi estimado em 88 bilhões de dólares americanos em 2008.

Para o mercado norte-americano, a cocaína é normalmente transportada da Colômbia para o México ou da América Central por mar e por terra, em seguida, parte para os Estados Unidos e Canadá. A cocaína é traficada para a Europa principalmente por mar, muitas vezes nos embarques de contêineres.

A Colômbia continua sendo a principal fonte da cocaína encontrada na Europa, mas os embarques diretos de Peru eo Estado Plurinacional da Bolívia são muito mais comuns do que no mercado dos Estados Unidos.


Rotas da Cocaína
Após um aumento significativo ao longo do período 2002-2005, totais globais de apreensão de cocaína recentemente seguiu uma tendência estável, totalizando 712 toneladas em 2007 e 711 toneladas em 2008.

Continuaram a concentrar-se nas Américas e na Europa. No entanto, a transição 2007-2008 trouxe uma mudança geográfica nas apreensões em relação aos países de origem para a cocaína. As apreensões na América do Sul foram responsáveis por 59 por cento do total mundial em 2008, em comparação com 45 por cento em 2007.

Nota : Somente a cocaína e a heroína, somam um mercado aproximado de 100 bilhões de dólares anuais. Esta é uma publicação da UNODC, constante do World Drugs Report (Relatório Mundial sobre Drogas - 2012)

Tradução - GT
Mais 24 Hrs de Paz e Serenidade
  

Como parei de fumar

Época Online
14 personalidades revelam como conseguiram se livrar do vício que atormenta 25 milhões de brasileiros. Qual estratégia combina com você?

Como parei de fumar - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
Meu primeiro cigarro foi presente da indústria do tabaco. Tinha 14 anos quando fui abordada na porta da escola, na Zona Norte de São Paulo, pela propagandista de uma marca nova. A moça era mais bonita, mais velha e, sobretudo, parecia mais segura que eu. Vestia um macacão fashion, com um grande bolso na altura do peito. De lá, tirou uma amostra grátis com três cigarros e me ofereceu. Naquele instante, de nada adiantou ter sido educada numa família não fumante. Enfiei a caixinha no bolso e corri para o quintal de casa. Sentada no chão e torcendo para ninguém aparecer, acendi um cigarro. Por sorte ou por genética, tossi, odiei o sabor e a experiência. Nunca mais tentei.

Poderia ter sido diferente. Hoje, poderia ser um dos 25 milhões de brasileiros dependentes de nicotina. A maioria luta para se livrar do vício e fracassa. Sou do tempo em que a indústria se achava no direito de viciar crianças na porta da escola. Daquela tarde de1984 para cá, muita coisa mudou. Leis foram aprovadas para inibir a propaganda e o consumo de cigarros. A população fumante caiu de 35% em 1989 para 15% em 2011. Cresceu a consciência sobre os males do tabagismo, a principal causa evitável de morte em todo o mundo. Um em cada dois fumantes morre de doenças cardiovasculares, câncer e uma lista enorme de males associados ao vício. São 5 milhões de óbitos por ano – 200 mil deles no Brasil.

Um fenômeno, infelizmente, não se alterou: a idade precoce da primeira experiência. Em algumas capitais, ela ocorre por volta dos 13 anos. No interior, aos 10. A informação faz parte de um inquérito nacional publicado em agosto pelo Instituto Nacional de Câncer, o Inca (leia a ilustração abaixo). O vício se instala na adolescência, antes que o indivíduo tenha maturidade para tomar decisões conscientes. Fumar ou não fumar não é, ao que parece, questão de escolha.

O estranhamento que o cigarro pode causar no primeiro contato – a sensação ruim que me salvou – é um desafio para a indústria. Para superá-lo, os fabricantes lançam produtos com sabor de menta, baunilha, chocolate e morango. Eles instigam a curiosidade e procuram amenizar o gosto desagradável. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pretende proibir a venda desses produtos. O assunto será discutido numa audiência pública no dia 6.

A iniciativa se junta a outras três que estimulam os brasileiros a refletir sobre o tabagismo. Há duas semanas, o Senado aprovou uma medida provisória que proíbe em todo o país o fumo em ambientes fechados – a exemplo do que já ocorre em São Paulo, no Rio de Janeiro e no Paraná. O texto também proíbe a propaganda de cigarros nos pontos de venda e exige que os alertas sobre os malefícios do cigarro ocupem 30% da área frontal do maço. Procurada por ÉPOCA, a Souza Cruz emitiu uma nota: "A MP 540 excede o equilíbrio e a razoabilidade ao proibir totalmente a propaganda de cigarros, a qual desde o ano 2000 já é restrita apenas a cartazes nos pontos de venda, e ao prever a ampliação das advertências nas carteiras de cigarros que, segundo estudo do IBGE, já são conhecidas por 96,1% da população".


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Outro item aprovado pelo Senado foi o aumento de 300% na alíquota do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Com o reajuste, o cigarro ficará cerca de 20% mais caro. Até 2015, o valor do reajuste poderá chegar a 55%. A medida passará a valer a partir da sanção da presidente Dilma Rousseff, que apoia a decisão. O ex-ministro da Fazenda e ex-fumante Maílson da Nóbrega (leia seu depoimento abaixo) defende a forte tributação e a proibição da propaganda e dos fumódromos. "Não concordo com o argumento de liberais que defendem o direito de escolha individual", diz. "Se o argumento liberal valesse nesse caso, o Estado poderia ser indiferente ao suicídio, uma escolha pessoal e trágica." Na semana passada, a Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou, por unanimidade, um projeto de lei que prevê a proibição de propaganda de cigarro em bares, padarias e lanchonetes. Segundo o texto, os displays só serão permitidos em tabacarias. Para entrar em vigor, a lei precisa ser sancionada pelo governador Geraldo Alckmin.

À decisão dos senadores e dos deputados paulistas, soma-se uma mobilização popular sem precedentes. Ela é liderada pelo médico Drauzio Varella, que apresenta a série "Brasil sem cigarro" no Fantástico, da TV Globo. Mais que um programa de TV, a iniciativa é uma campanha nacional que alcança 20 milhões de telespectadores todos os domingos. Além de convocar os fumantes a abandonar o vício e ensiná-los a melhor forma de fazer isso, Varella percorrerá dez capitais. Mais de 27 mil pessoas já participaram desses eventos, realizados em parceria com o Inca e com o Sesc. Os interessados fazem testes de dependência de nicotina e recebem orientação.

"Não acho que vamos conseguir fazer o Brasil inteiro largar o cigarro", diz Varella. "Nossa contribuição é retirar a discussão sobre tabagismo do âmbito do estilo de vida e colocá-la em seu devido lugar: o das drogas." Para ajudar os que decidiram se livrar do vício, ÉPOCA selecionou histórias inspiradoras de personalidades que abandonaram o cigarro. Eles serão dependentes para sempre, mas, no momento, são exemplos de sucesso. As estratégias adotadas são as mais variadas. Elas demonstram que não existe uma fórmula única e vencedora.
Fumar é um hábito ancestral. O tabaco, usado essencialmente em rituais religiosos pelos povos nativos das Américas, começou a ganhar o mundo por intermédio dos navegadores portugueses e espanhóis. O reconhecimento de seus efeitos deletérios atravessa os séculos. Em 1623, o filósofo Francis Bacon escreveu sobre o vício, na obra Historia vitae et mortis: "O uso do tabaco está conquistando homens com um certo prazer secreto, de tal modo que quem a ele se acostuma dificilmente pode se refrear daí por diante". Desde os anos 1950, acumulam-se estudos sobre os danos do cigarro à saúde dos fumantes e dos fumantes passivos. Nada se iguala, porém, à qualidade das evidências atuais sobre a forma como a nicotina age no cérebro.

Não há dúvida: o cigarro é uma droga pesada, com alta capacidade de viciar. Um terço das pessoas que experimentam nicotina se torna dependente. Isso ocorre com apenas um quarto dos que têm contato com a heroína. "O fumante chega a consumir cigarros em intervalos de 15 minutos durante o dia e à noite. Nem o crack produz tal comportamento", diz a psiquiatra Ana Cecília Marques, da Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A fumaça do cigarro contém mais de 7 mil substâncias perigosas (leia a ilustração abaixo). A nicotina é a pior delas. Estimula várias regiões do cérebro e causa efeitos variados. Reduz o sono, melhora a capacidade de concentração, diminui o apetite, aumenta a frequência cardíaca e a pressão arterial. Quando o uso de cigarro fica crônico (algo que pode ocorrer já nos primeiros dois anos), a ação da nicotina é inversa. O sujeito fica desatento, irritado, improdutivo. O vício pode desencadear problemas graves como depressão e crises de pânico.

Uma minoria dos fumantes consegue abandonar o vício por conta própria, sem remédios, psicoterapia ou outras formas de apoio. "Entre os que não recebem atendimento, a chance de ficar um ano sem fumar é de 3%", diz a psiquiatra Analice Gigliotti, da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e Outras Drogas. "Com apoio especializado, a chance de sucesso sobe para 30%." Alguns dependentes precisam de um ou vários antidepressivos (os mais usados são a bupropiona e a nortriptilina). Outros podem contar com adesivos, gomas de mascar ou pastilhas de nicotina para amenizar as síndromes de abstinência. Alguns precisam de mudanças ambientais na casa para quebrar os rituais associados ao fumo (trocar os móveis e a cor das paredes, por exemplo). Nos casos mais graves, recomenda-se internação em clínicas de desintoxicação. Trocar o cigarro por charutos ou cigarrilhas não é uma boa estratégia. Eles podem ter até três vezes mais nicotina e dez vezes mais substâncias tóxicas que o cigarro comum. Quem troca 20 cigarros por dia por dois charutos pode pensar que reduziu os danos à saúde. Na verdade, continua exposto à mesma quantidade de compostos nocivos.

A maior dificuldade é garantir que o ex-fumante mantenha-se longe do vício para sempre. "Somos capazes de ajudar a pessoa a parar de fumar no curto prazo, mas esse sucesso é muito pequeno dois anos depois da intervenção", diz Gregory Connolly, professor de saúde pública da Universidade Harvard. "Precisamos criar métodos de longo prazo, capazes de evitar recaídas."
Técnicas pouco convencionais podem ajudar. Uma revisão da literatura médica demonstrou que esse é o caso da acupuntura. As evidências sugerem que o tratamento realizado com agulhas espetadas na orelha, durante uma semana ou mais, contribui para o sucesso. O trabalho foi publicado na revista científica britânica Acupuntura na Medicina. "Quando quis parar, há cerca de 20 anos, usei a acupuntura", diz o médico e editor-chefe, Adrian White. "Além de reduzir minha vontade de fumar, ela tornava explícita minha decisão. Era um marco do meu compromisso."
Por que alguns se viciam e outros não? A tendência ao vício está ligada à genética. Ela pode ser modificada pelo estresse, antes mesmo do nascimento. "Se sua mãe estivesse combatendo uma infecção viral ou passando por algum estresse emocional durante a gestação, isso aumentaria suas chances de se viciar na vida adulta", disse a ÉPOCA David Linden, professor do Departamento de Neurociência da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore, e autor do livro A origem do prazer (Editora Campus/Elsevier). "O mesmo acontece depois do nascimento. Isso não é psicologia. É biologia." Hoje se sabe que o vício muda o cérebro. Nos dependentes de qualquer coisa (cigarro, jogo, sexo etc.), a região responsável pelo prazer sofre alterações físicas, químicas, elétricas e anatômicas. "O cérebro de quem se recupera do vício nunca mais volta ao normal. O retorno é parcial", diz Linden. Se alguém consegue passar 20 anos longe do cigarro e decide fumar uma única vez, o prazer que ela sentirá será maior que o experimentado por quem nunca fumou. Por isso é tão importante resistir. Drauzio Varella sabe disso e se considera um eterno dependente em recuperação. Graças ao médico mais popular do país, milhões de brasileiros têm agora um estímulo para decidir, resistir e persistir.

Drauzio Varella { 68 ANOS }
Médico

"Comecei a fumar aos 17 anos. Era tímido e nunca sabia o que fazer com as mãos nas festinhas. O cigarro me ajudava a sentir segurança. Tinha prometido parar quando começasse a tossir – acho horrível a tosse de fumante. Um dia voltei do trabalho e encontrei minhas filhas (na época com 4 e 2 anos) me esperando no hall do elevador. Morávamos no 10º andar. Elas disseram que sabiam que eu estava chegando porque reconheciam minha tosse. Ouviam o som desde lá de baixo. Era cancerologista e vivia com o maço de cigarros no bolso. Que moral tinha para mandar o paciente parar? Decidi parar na noite em que eu e um amigo que havia infartado fumamos dois maços. Nos primeiros dias, sentia vontade, ficava irritado. Não usei remédio, adesivo, nada. Parar foi fácil. O difícil foi tomar a decisão. Passei os 12 anos seguintes pedindo para meu irmão (o médico Fernando Varella) parar. Ele não parou e diagnosticou nele mesmo um câncer de pulmão. Em nove meses, estava morto."

Neto {45 ANOS }
Ex-jogador de futebol

"Tinha 17 anos quando comecei. Fui lá, comprei um maço, gostei e não parei mais. Fumei até os 38, todo o período em que joguei. Nunca tinha tentado parar. Até que uma história mexeu comigo. Jogava truco toda segunda-feira com amigos de Santo Antônio de Posse, e um deles comentou que o médico tinha dito ao Edmur, um amigão meu, que ele tinha cinco anos de vida se parasse de fumar. Ele morreu 15 dias depois. Abri a janela e joguei o maço de cigarros fora. Nunca mais fumei. Não quero que minha filha perca o pai por causa de cigarro. Mas é só falar em cigarro que dá água na boca. Não acredito em nenhum desses métodos. O que manda é a vontade."

Washington Olivetto { 60 ANOS }
Publicitário e presidente da agência WMcCann

"Comecei a fumar aos 18 anos, logo que entrei na faculdade. Queria impressionar as meninas. Na época, as mulheres estavam começando a fumar, e eu não tinha cigarro a oferecer. Aí resolvi provar também. Fumei um maço e meio até 2001, quando fui sequestrado. Fiquei 53 dias confinado sem nem um cigarro sequer. E não me importei. Estava angustiado com coisas muito mais importantes que meu vício. Logo que saí dali, pensei que tiraria pelo menos alguma coisa boa daquilo tudo, e não fumei mais cigarro. Desde o sequestro, só fumo charutos. Elejo datas muito especiais, como meu aniversário, Natal e Ano-Novo, e, mesmo assim, fumo bem pouco. Tem uma conotação diferente de consumo, é outra história. A legislação brasileira para a publicidade do cigarro é bastante adequada. As pessoas devem ter senso crítico para decidir o que querem fazer. Vale refletir sobre um raciocínio simples: uma coisa que custa menos de R$ 4 e vem em 20 unidades não pode ser boa para você."

Raquel Zimmermann { 28 ANOS }
Modelo

"Comecei a fumar no início da carreira, aos 15 anos, logo que saí de casa, em Bom Retiro do Sul, Rio Grande do Sul, para morar sozinha no Japão. Na solidão, o cigarro acabou sendo uma forma de preenchimento. Foram 12 anos fumando um maço por dia. Há nove meses, consegui abandonar. Comecei a fazer meditação transcendental, passei a refletir sobre meu interior e me dei conta de que o cigarro estava me poluindo. Não foi fácil parar, o segredo foi a acupuntura chinesa. Senti que minha pele ficou mais radiante, meu cabelo cresceu mais. Meu corpo também está mais bonito por causa da ioga, que só comecei por ter parado de fumar."

Letícia Birkheuer { 33 ANOS }
Ex-modelo, atriz e empresária

"Comecei a fumar aos 18 anos, no meu primeiro trabalho. Estava com uma modelo mais experiente e contei a ela que precisava emagrecer. Como praticava esportes, meu corpo era muito atlético para a profissão. Ela, fumante, disse que o cigarro era a resposta e me ofereceu o primeiro. Não demorei a me viciar – o cigarro era meu refúgio. Era cool fumar no mundo da moda. Tentei parar quatro vezes. As primeiras, com a ajuda de adesivo e chiclete de nicotina, não deram certo. Na terceira, tomei um remédio, fiquei quatro meses sem fumar, até que tive alguns problemas pessoais. Quando conheci meu marido, tentei de novo. Passei a fumar dois cigarros por dia. Depois, engravidei e parei de vez."

Geddel Vieira Lima { 52 ANOS }
Ex-ministro da Integração Nacional e vice-presidente da Caixa Econômica Federal

"Fumei pela primeira vez aos 16 anos. Fui vítima das propagandas de cigarro. Não posso atribuir meus 28 anos de fumante só a elas, mas fui muito influenciado pelos carrões e caubóis em comerciais da TV. Cheguei a fumar três maços e meio por dia. Só comecei a pensar em parar quando meu pai, que fumou por 40 anos, teve um infarto, em 1986. Dez anos depois, fiz uma cirurgia de apendicite e, saindo da anestesia, senti dificuldade de respirar. E me veio à mente a imagem de meu pai pedindo para aprender com o que aconteceu com ele. Tentei parar umas dez vezes e não consegui. Tomei remédios e usei adesivos de nicotina. Nada resolveu. Só consegui na força de vontade."

João Gordo { 47 ANOS }
Apresentador de TV e músico

"Comecei a fumar aos 15, com uns moleques punks, e fumei três maços por dia por 20 anos. O cigarro é a droga mais forte que existe, pior que heroína e cocaína. Já cheguei a ir a pontos de ônibus na madrugada para pegar bitucas no chão. Parei em 2000, quando tive um derrame pleural e fiquei 23 dias internado. Foi uma combinação de drogas com obesidade mórbida e uma costela quebrada. Mas foi o cigarro que me assustou. O médico tirou do meu pulmão 900 mililitros de nicotina com sangue – vi aquilo e fiquei traumatizado. Decidi parar. Não tive recaídas e sentia náuseas com o cheiro da fumaça. Mas bastou colocar um cigarro na boca para tudo voltar. Fumei escondido da minha mulher por três anos. Só melhorei no ano passado, depois de uma psiquiatra me receitar um ansiolítico. O remédio segura a barra, mas ainda é complicado parar de uma vez. A indústria do cigarro devia fechar suas portas e indenizar."

Ney Latorraca { 67 ANOS }
Ator

"Comecei a fumar com 15 anos e não tinha noção de quanto aquilo me faria mal. Havia uma mentalidade de que comprar o próprio maço de cigarros era atingir a maturidade. Não parei mais: fumei até meus 43. Tentei parar duas vezes, mas recaí porque não estava preparado psicologicamente. Nunca usei adesivos ou remédios, queria que minha convicção bastasse. Parei para valer no dia 23 de abril de 2003, Dia de São Jorge. Na época, fumava quase três maços por dia. Minha mãe dizia que era um absurdo um ator fazer isso com a própria voz. Estava fazendo uma peça de teatro quando caiu a ficha e percebi que não queria mais o cigarro na minha vida. Peguei um tipo de gripe e não parava de tossir. Liguei para o médico. Era um início de enfisema pulmonar. Aproveitei a mudança para um apartamento em frente à Lagoa Rodrigo de Freitas para cortar o cigarro. Foi um processo gradual, pensando que pararia por um dia."

Manuela D"Ávila { 30 ANOS }
Deputada federal pelo PcdoB

"Comecei a fumar com 13 ou 14 anos, na frente da escola, com a ideia de ser adulta. Fumei 16 anos, quase duas carteiras por dia. Nunca havia tentado parar até que, em 2008, fiz as contas e percebi que já estava há mais tempo fumando do que sem fumar. Decidi parar, mas tive um problema familiar sério e percebi que não conseguiria. Quase dois anos depois, em dezembro de 2010, consegui. Foi muito difícil. Três meses de sono frágil, energia excessiva, ansiedade. Fiquei um mês sem conseguir escrever, pois só sabia fumando. A acupuntura a laser ajudou muito. Todos os dias dá vontade em algum momento. Fumaria um cigarro agora. Não tem nada que resolva se não se quer muito."

Beth Carvalho { 65 ANOS }
Cantora

"Há dez anos, fui fazer um show para uma plateia cheia de médicos. Para chegar ao palco, subi um degrau. Cheguei tão ofegante ao microfone que foi difícil dizer "Boa noite". Expliquei que, por causa do cigarro, não estava conseguindo falar. Fumava havia 45 anos. O engraçado foi que o público começou a me mandar receitas com prescrições médicas. Desde então, parei. Tinha tentado mais de dez vezes, mas fracassei porque não estava convicta. Testei de tudo, mas só funcionou quando eu quis mesmo. Usei medicamento e um pouco de adesivos, mas sei que minha vontade é que foi crucial. Dei meu primeiro trago aos 13 anos e hoje sei que, quando comprei o primeiro maço, fui condenada ao vício."

Maílson da Nóbrega { 69 ANOS }
Ex-ministro da Fazenda e sócio da Tendências Consultoria Integrada

"Fumei pela primeira vez aos 12 anos e continuei, com interrupções, por 39. Consegui parar três vezes, mas fui malsucedido muitas outras. Usei adesivo de nicotina, sem efeito. Em 1993, disse a mim mesmo: "Já que parei outras vezes, por que não fazê-lo de novo?". Achei que poderia dedicar o gesto a meu filho Gabriel, três meses antes de ele nascer. Foi uma forte motivação, o que eu não tinha antes. Completo 18 anos sem fumar e não concordo com o argumento liberal que defende o livre uso de cigarro, alegando o direito de escolha individual. O Estado tem de restringir o cigarro em recintos fechados."

Fernanda Paes Leme { 28 ANOS }
Atriz

"Desde pequena, via minha avó fumando. Com 16 anos, roubei um cigarro dela. Achei horrível e comecei a tossir. Quando me mudei para o Rio de Janeiro, aos 19, morei com um amigo fumante. Às vezes, rolava ansiedade e pedia uns tragos. Dizia: "Não sou viciada, paro quando quiser". Quando percebi, estava comprando um maço por dia. Parei há três meses. Meu último namorado era atleta e levava uma vida saudável. Nunca deixei que ele me visse fumando quando ia a Nova York ficar com ele. Depois de um mês lá sem fumar, decidi que era o incentivo para parar. Minha família já tinha insistido muito, e me apavorava ver como as fumantes mais velhas tinham a pele e a voz muito estragadas."

Fernanda Young { 41 ANOS }
Escritora e apresentadora de TV

"Comecei a fumar aos 13 anos como forma de rebeldia. Foi a bobagem mais absurda que fiz na adolescência, o erro que mais durou. Fumei 21 anos. Corria a São Silvestre com um cigarro no bolso para acender assim que terminasse. Parei na gestação das minhas filhas, mas voltei com mais apego. Parecia a única coisa que tinha como indivíduo. Eu me trancava no banheiro e fumava em frente ao espelho. Então vi como eu parecia fraca e idiota com um cigarro na boca. A análise e a meditação me fizeram entender por que eu fumava. Quando vi que o cigarro não preencheria meu vazio nem supria minhas carências emocionais, ele se tornou inútil e estúpido para mim."

Marcello Novaes { 49 ANOS }
Ator

"Meus filhos reclamavam que eu cheirava mal e perguntavam: "Por que você fuma, pai?". Comecei com 21 anos por modismo: o cigarro era charmoso. Um dia, indo surfar com um amigo, comentamos sobre o ranço do cigarro. Estávamos com ressaca de fumaça – nossa garganta doía e não tínhamos o mesmo fôlego para pegar onda. Amassamos os maços e jogamos no lixo. Fiquei 11 anos sem fumar. Tive uma recaída em 1999, quando me apresentaram o cigarro de folha de uva como algo natural. Falsa ilusão. Um dia estava dirigindo até o Projac com a janela aberta, fumando. Parei no semáforo e me reconheceram: pela primeira vez, morri de vergonha. Aquilo não combinava comigo, que sempre tive uma imagem de saúde. Vi que não tinha mais disposição física e sexual, além de me sentir excluído socialmente. Um dia depois do meu aniversário, com a ajuda de um remédio que reduz a angústia da abstinência, parei de fumar. Faz quatro meses."


Fonte - Abead
Matéria original - Época Online 

Por que a exceção não deve ser a regra


Porque a exceção não deve ser a regra - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
O consumo de drogas, especialmente o crack, nas ruas das cidades brasileiras tem gerado enorme debate público a respeito de qual seria a resposta mais eficaz para o problema. Propostas de ações voltadas à internação involuntária têm se multiplicado tanto nas ruas como na esfera legislativa.
A internação sem consentimento deve se aplicar a situações de absoluta emergência; deve ser a exceção, e não a regra

Por Rafael Franzini, representante do Escritório de Ligação e Parceria do UNODC no Brasil, e Amerigo Incalcaterra, representante regional para a América do Sul do Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos

No entanto evidências científicas apontam para a direção contrária: a lógica da saúde pode ser mais efetiva na redução do uso problemático de drogas.

Segundo diretrizes do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) e da Organização Mundial da Saúde (OMS), a atenção e o tratamento devem estar de acordo com os princípios da ética do cuidado em saúde e respeitar a autonomia e a dignidade individuais. Além disso, os tratados internacionais de direitos humanos exigem garantias processuais para a detenção e privação de liberdade de qualquer pessoa.

Recentemente, o Ministério Público do Rio de Janeiro, a Defensoria Pública de São Paulo e duas missões das Nações Unidas demonstraram grande preocupação com a forma violenta, degradante e desumana com que usuários de drogas têm sido recolhidos das ruas brasileiras em nome de uma abordagem de saúde.

A tendência mundial crescente de propostas de tratamento sem consentimento gerou um posicionamento da ONU em 2012 contra centros de detenção/tratamento compulsório, destacando que a privação da liberdade arbitrária é uma violação das normas internacionais de direitos humanos.

Da mesma forma, um editorial de 2012 da revista "Addiction", uma das mais respeitadas do mundo no tema, diz que as internações involuntárias caíram em desuso em países desenvolvidos por serem ineficazes no tratamento da dependência de drogas e favorecerem a violação dos direitos humanos dos usuários.

A internação sem consentimento deve se aplicar a situações de absoluta emergência e ter como justificativa a proteção, quando houver risco para a segurança do sujeito e/ou de terceiros, e ser proporcional. Em outras palavras, a internação deve ser a exceção, e não a regra.

Mesmo nesses casos, é essencial observar princípios éticos e legais para que não haja violação dos direitos garantidos pelas convenções internacionais. Os procedimentos devem ser transparentes e legalmente estabelecidos para evitar uma aplicação ampla e arbitrária desse recurso.

Para tanto, as pessoas em internação involuntária devem ter o direito de recorrer a um tribunal para que seja decidida rapidamente a legalidade da privação de liberdade. Os casos judicialmente autorizados devem ser periodicamente revisados para determinar a necessidade da continuação da internação.

É certo que o uso problemático de drogas está vinculado a condições sociais de vulnerabilidade e risco, mas há poucas pesquisas e informações confiáveis sobre o número de usuários que realmente necessitariam de internação.

A experiência internacional demonstra que a reabilitação e a reintegração de usuários de drogas passam muito mais por intervenções que respeitem os direitos humanos dos usuários e sejam adequadas às suas necessidades sociais e de saúde do que pela sua segregação em centros de tratamento.

Fonte - UNODC (Escitório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime - Conesul) 

Tratamento da dependência de drogas: da coerção à coesão

Tratamento da dependência de drogas: da coerção à coesão - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
Pensar políticas públicas relacionadas ao uso problemático de drogas é um dos grandes desafios globais da atualidade. Respostas eficazes e balanceadas também devem focar na necessidades de saúde dos dependentes sem estigma nem discriminação.

Por Gilberto Gerra, Chefe do Departamento de Prevenção às Drogas e Saúde do UNODC

Yuri Fedotov, Diretor Executivo do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), afirmou na abertura da 56ª Sessão da Comissão de Narcóticos em março que "considerações a respeito de direitos humanos e saúde pública precisam estar no centro da resposta internacional ao uso de drogas e ao HIV". Como um dos objetivos das convenções sobre drogas é a proteção da saúde dos indivíduos e da sociedade dos efeitos adversos associados ao consumo, fica evidente a importância de ações que promovam o deslocamento de uma lógica da penalidade para uma do cuidado em saúde.

Recentemente o Brasil recebeu duas importantes missões da ONU: o Relator Especial sobre Tortura, Juan E. Méndez; e o Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária. Ambas evidenciaram o quanto o tratamento do usuário de drogas no país está se confundindo com a penalização no campo da justiça criminal. As duas missões alertaram para o risco de que a internação involuntária de usuários de drogas atravesse o "limiar de maus-tratos, equivalentes à tortura, ou a tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes", como colocou Méndez.

O Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária mostrou preocupação com o confinamento involuntário de usuários de crack, especialmente de crianças e adolescentes em situação de rua, cujos familiares teriam relatado dificuldades no acesso à informação sobre o local de internação. Vladimir Tochilovsky, membro do Grupo, destacou: "Durante a visita nos apresentaram casos de pessoas que moram nas ruas e são dependentes de drogas, e que são apreendidos, detidos e aprisionados pela polícia, não por crimes cometidos, mas por uma questão de saúde."

O tratamento para a dependência química deve ser baseado em evidências, voluntário, confidencial e com consentimento informado, além de ser realizado na comunidade através de intervenções clínicas e sociais no âmbito do sistema de saúde, com uma abordagem que siga os princípios da ética do cuidado em saúde. Ações de apoio social que atendam às necessidades básicas de acolhimento e alimentação também são essenciais, assim como o acesso a programas de educação, geração de renda, micro-crédito e orientação vocacional para promover a reintegração social dos indivíduos.

O confinamento involuntário de usuários de drogas em prisões ou em centros de tratamento deve ser somente uma medida emergencial por alguns dias e com base em laudos de pelo menos dois profissionais de saúde, para proteger o indivíduo e a comunidade em situações de intoxicação aguda, ou caso o indivíduo possa colocar em risco a sua própria segurança ou a de outros. Vários estudos mostram que não há evidências da eficácia dessas medidas, que pelo contrário, fortalecem o estigma, contribuem para o processo de exclusão, fragilizam vínculos sociais e aumentam o risco de infeçcões pelo HIV.

O UNODC e a Organização Mundial de Saúde destacam a disponibilidade e a acessibilidade como princípios necessários para o tratamento efetivo da dependência química. Serviços mais acessíveis, com maior capacidade de acolhimento, qualificados e com menos estigma podem ajudar a reduzir o uso de medidas legais para fazer com que as pessoas que necessitam de tratamento o iniciem.

Engajamento pessoal e envolvimento emocional são essenciais para desenvolver um projeto conjunto de tratamento humanizado que motive pacientes, familiares e comunidades, apresentando assim um caminho para transformar espaços de tratamento involuntário em espaços comunitários de coesão.

Fonte - UNODC (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime) - Cone Sul 

Dependência Química: Apenas duas palavras ?


Dependência Química: Apenas duas palavras ? - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
Interessante é, como as opiniões se multiplicam, quando o assunto trata da dependência química. Assuntos como "legalização da maconha", "despenalização (sem prisão do usuário)", "descriminalização do uso/usuário de drogas", tratamento involuntário, tratamento compulsório, "cracolândia",  para citar os mais atuais. Opiniões de todo tipo. Os que argumentam sem nenhum fundamento, os que argumentam utilizando da situação como platafoma política, "grupos de defensores disto, ou daquilo", enfim, um "balaio de gatos". Mas também, existem muitos e muitos profissionais sérios, pesquisadores, médicos, cientistas, envolvidos nesta questão com um único objetivo em comum: A VIDA. 


Diante disto, o que mais falta é informação adequada a grande parcela da população. Isto, desde a educação nas escolas (onde hoje, já existe uma evolução), até a educação no núcleo familiar e comunitário. E incrível é, quer acreditem ou não, que para uma boa parcela da população, trata-se (a DQ, ou o uso e abuso de Spa's) de "falta de vergonha na cara", ou "sem-vergonhice", ou "falha de caráter", o uso de drogas. Estas pessoas simplesmente, e inocentemente desconhecem o que é, como age, do que se trata a DQ. A realidade é que hoje, quando se relaciona uma pessoa às palavras: DEPENDENTE QUÍMICO, EX-USUÁRIO DE DROGAS, etc, cria-se imediatamente, em uma grande parcela da sociedade, um estigma, um pré-conceito, um "rótulo". 

Vários pensamentos associados: "ele não é normal...(porque já usou drogas)", "é meio doido...(porque já usou drogas)", "não dá pra confiar muito...(porque já usou drogas)", "ele está bem, mas sabe como é já usou drogas e tal...(porque já usou drogas)", etc.

Vários sentimentos também: medo, aversão, etc.

Muito se deve ao fato de que, as pessoas relacionam o DQ com o uso de substâncias, ou seja, veêm na pessoa, a própria substância. 
Em dependência química, não há "cura", mas há recuperação, e é esta recuperação que "trás de volta" a pessoa da escuridão do uso de drogas, para a luz de uma vida normal, sem o uso de drogas. E se esta recuperação, for vivenciada realmente, o dependente químico, ou adicto, ou ex-usuário, terá até, o que muitas pessoas que não são portadoras da doença hoje não tem: QUALIDADE DE VIDA.
Enfim, ainda levará muito tempo, até a informação, e a educação, chegar a todos, de igual forma, e com consistência. Depois então, qualquer pré-conceito, ou sentimento negativo, será inerente a ignorância de cada um. Claro, que não dá pra se culpar, e não este o objetivo. 
 De igual forma que o dependente químico, não tem culpa de ser portador da doença mas sim tem responsabilidade por sua recuperação, as pessoas que hoje tem uma visão errada, ou sentimentos errados, com respeito ao DQ, não tem culpa destes, visto que quando se desconhece, ou se ignora algo, a primeira reação normal da maioria de nós, é o medo, e a opinião que formamos, e quando formamos, geralmente é a de "acompanhar os outros", ou optar por uma "opinião" ou "visão" já existente. Portanto, creio que, cada um é responsável pelo conhecimento que busca, não só para si, mas para repassar aos seus, com intuito inclusive de proteger e educar.

A respeito da DQ, o que segue, é informação facilmente encontrada em dezenas de sites, e é baseada na ciência, óbvio, mediante pesquisa, experimentação, e resultados, portanto é informação já consolidada, até o presente conhecimento humano.


Definição: 
 
A dependência química ou física é uma condição orgânica que nasce da utilização constante de certas drogas psicoativas, as quais consequentemente provocam o aparecimento de sintomas que envolvem especialmente o Sistema Nervoso Central, o qual se torna dependente de uma dada substância, sofrendo assim os efeitos de uma abstinência repentina e prolongada. O uso abusivo do álcool, de drogas consideradas ilegais como a heroína, e da nicotina pode gerar esta reação corporal.

A dependência é distinta do vício, que leva o usuário ao consumo excessivo e compulsivo da droga, gerando uma conexão psíquica e emocional mais profunda, uma ligação patológica com as substâncias utilizadas. Mas a sujeição química também é uma enfermidade, que exige tratamento eficaz e muitas vezes urgente. As drogas mais comuns que geram a dependência psicológica e psíquica, são por exemplo a maconha, cocaína, crack, etc. O crack e a cocaína, quase não possuem sintomas de dependência física, inclusive síndromes de abstinência física como dores musculares, a abstinência, é psíquica e psicológica.

Explicando: O dependente do álcool, pode chegar em determinado estágio, que envolve tremores, sudoreses, e outros sintomas, onde que o "remédio" que o dependente tem, é o próprio álcool. Dores musculares também fazem parte do quadro. Seria a dependência química (psicológica) aliada a dependência física (organismo). Assim acontece com os dependentes da heroína também. O início do processo de tratamento, para estes casos, é por vezes mais doloroso, e requer o auxílio de medicação, e inclusive internação hospitalar para os primeiros dias.

Acrescentando que, a DQ tem características físicas, emocionais, sociais, e principalmente espirituais (ou ausência). 


Segundo Ballone GJ - Dependência Química - in. PsiqWeb:

A Dependência Química é um conjunto de fenômenos que envolvem o comportamento, a cognição e a fisiologia corporal conseqüente ao consumo repetido de uma substância psicoativa, associado ao forte desejo de usar esta substância, juntamente com dificuldade em controlar sua utilização persistente apesar das suas conseqüências danosas. Na dependência geralmente há prioridade ao uso da droga em detrimento de outras atividades e obrigações sócio-ocupacionais.

A tolerância é o primeiro critério relacionado à dependência. Tolerância é a necessidade de crescentes quantidades da substância para se atingir o efeito desejado ou, quando não se aumenta a dose, é entendida também como um efeito acentuadamente diminuído com o uso continuado da mesma quantidade da substância. O grau em que a tolerância se desenvolve varia imensamente entre as substâncias.

Existe um padrão de uso repetido da substância que geralmente resulta em tolerância, abstinência e comportamento compulsivo de consumo da droga. Um diagnóstico de Dependência de Substância pode ser aplicado a qualquer classe de substâncias. Os sintomas de dependência são similares entre as várias substâncias, variando na quantidade e gravidade de tais sintomas entre uma e outra droga. Os sintomas psíquicos e sociais decorrentes da dependência do fumo, por exemplo, são absolutamente menores do que aqueles da dependência ao álcool.

Chama-se "fissura" o forte impulso subjetivo ou compulsão incontrolável para usar a substância. Embora não seja especificamente relacionada como um critério, a “fissura” tende a ser experimentada pela maioria dos indivíduos com Dependência de Substância (se não por todos). A dependência é definida como um agrupamento de três ou mais dos sintomas relacionados adiante, ocorrendo a qualquer momento, no mesmo período de 12 meses.

Os indivíduos com uso pesado de opióides e estimulantes podem desenvolver níveis gravíssimos de tolerância, por exemplo, como se necessitasse dez vezes mais quantidade depois de algum tempo. Freqüentemente essas dosagens da tolerância seriam letais para uma pessoa não-usuária. Muitos fumantes consomem mais de 20 cigarros por dia, uma quantidade que teria produzido sintomas de toxicidade para uma pessoa que está começando a fumar.

Os indivíduos com uso pesado de maconha em geral não têm consciência de que desenvolveram tolerância, embora esta tenha sido largamente demonstrada em estudos com animais e em alguns indivíduos. A tolerância pode ser difícil de determinar com base apenas na estória oferecida pela pessoa, porém, os testes laboratoriais acabam mostrando altos níveis sangüíneos daquela substância, juntamente com poucas evidências de intoxicação, o que sugere fortemente uma provável tolerância.

Critérios para definição da dependência:

Um padrão mal-adaptado de uso de substância, levando a prejuízo ou sofrimento clinicamente significativo, manifestado por três (ou mais) dos seguintes critérios, ocorrendo a qualquer momento no mesmo período de 12 meses: 

(1) tolerância, definida por qualquer um dos seguintes aspectos:
(a) necessidade de quantidades progressivamente maiores da substância para adquirir a intoxicação ou efeito desejado
(b) acentuada redução do efeito com o uso continuado da mesma quantidade de substância
(2) abstinência, manifestada por qualquer dos seguintes aspectos:
(a) síndrome de abstinência característica para a substância
(b) a substância (ou outra estreitamente relacionada a ela) é consumida para aliviar ou evitar sintomas de abstinência
(3) a substância é freqüentemente consumida em maiores quantidades ou por um período mais longo do que o pretendido
(4) existe um desejo persistente ou esforços mal-sucedidos no sentido de reduzir ou controlar o uso da substância
(5) muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção da substância (por ex., consultas a múltiplos médicos ou fazer longas viagens de automóvel), na utilização da substância (por ex., fumar em grupo) ou na recuperação de seus efeitos
(6) importantes atividades sociais, ocupacionais ou recreativas são abandonadas ou reduzidas em virtude do uso da substância
(7) o uso da substância continua, apesar da consciência de ter um problema físico ou psicológico persistente ou recorrente que tende a ser causado ou exacerbado pela substância (por ex., uso atual de cocaína, embora o indivíduo reconheça que sua depressão é induzida por ela, ou consumo continuado de bebidas alcoólicas, embora o indivíduo reconheça que uma úlcera piorou pelo consumo do álcool) (Fonte - Psiqweb)

"Sem Vergonhice", "Falta de Caráter" ?, ou Doença:

A Organização Mundial de Saúde reconhece as dependências químicas como doenças. O No Código Internacional de Doenças (CID), ela está representada nos ítens de F10 a F19. Uma doença é uma alteração da estrutura e funcionamento normal da pessoa, que lhe seja prejudicial. Por definição, como o diabete ou a pressão alta, a doença da dependência não é culpa do dependente; o paciente somente pode ser responsabilizado por não querer o tratamento, se for o caso. Exatamente da mesma maneira que poderíamos cobrar o diabético ou o cardíaco de não querer tomar os medicamentos prescritos ou seguir a dieta necessária. Dependência química não é simplesmente "falta de vergonha na cara" ou um problema moral.

E é uma doença progressiva, incurável e fatal, ou seja: CRÔNICA. Se não tratada, e ESTAGNADA, ela progride, avança exponencialmente, levando a morte por overdose, por uma doença adquirida, ou por consequência de meios ambientes e/ou ações relacionadas (está intimemente ligada à violência urbana), e incurável, porque não há no momento, cura. 
Existem pesquisas avançadas a respeito de vacinas e bloqueadores, mas veja bem, que isto é, e será importante, porém atingirá somente uma parte da doença. O uso em si. A dependência química, vai além disto. Ela reside por exemplo, na inabilidade do doente, de lidar com situações e problemas. Na inabildade do equilíbrio em sua vida.

O que acontece no país:

Vejo nas ações do governo, muito pouco de eficácia. Representam, como estão, poucas chances, para os usuários de crack de São Paulo por exemplo, apesar de parecerem o contrário. E realmente, queremos, todos nós, crer que irão dar bons resultados, queremos crer, que haverá progresso e evolução, neste combate ao crack, ao uso deste. A matemática, por assim dizer é simples:

Etapas cronológicas do dependente químico submetido a internação compulsória (até o momento segundo noticiado, em sua grande parcela):

  1. Estágio de quase morte (nas ruas).
  2. Resgate
  3. Desintoxicação: Levado para um Hospital Psiquiátrico por períodos que variam de 45 a 90 dias. (desintoxicado, razoavelmente com saúde física recuperada).
  4. Alta após recuperação física, e administração provável de medicação estabilizadora de humor durante o período.
  5. Liberado com "Alta" médica. 
  6. Estado após alta: Bem fisicamente, mas sem teto (em muitos casos), sem família (em muitos casos), sem trabalho (em muitos casos), sem apoio psicológico (em muitos casos), sem medicação contínua (em sua grande parcela).
  7. Resultado = Retorno ao mesmo ambiente familiar de antes, as ruas, e consequentemente a volta ao uso. 
  8. Dados:
    (...) No última quinta-feira, ele foi liberado. Segundo Sonia, o hospital já havia tentado liberar o filho outras duas vezes, dizendo que ele já havia passado pela desintoxicação.
    "Na primeira vez, o médico chegou a assinar a alta, mas meu filho disse que não tinha condições de sair, que sonhava que estava usando a droga e acordava com o gosto dela na boca", conta. O jovem saiu e foi orientado a continuar o tratamento num Caps (Centro de Atenção Psicossocial), da prefeitura, onde havia sido tratado anteriormente, sem sucesso. No dia seguinte à alta, o rapaz fugiu. "Meu filho não tinha condições de ter alta ainda. O hospital está dando alta para todo mundo em 15 dias, um mês, para poder abrir vagas", diz Sonia. (...) 
    Um dos principais pontos, é o resultado final, é a reinserção social e familiar do dependente químico. Sem planejamento adequado, sem o mínimo de estrutura e acompanhamento eficazes, a tendência é o retorno ao uso, e às ruas. A adicção, não se trata somente com remédios, soro, e alimento.
Dados do Governo de São Paulo:

Atualmente a Secretaria de Estadual de Saúde mantém 691 leitos públicos para dependentes químicos, dos quais 209 foram implantados na atual gestão (aumento de 43%). Outros 488 novos leitos estão em processo de implantação e devem estar disponíveis até o final de 2014, quando o Estado contará com 1.179 leitos. O Governo de São Paulo foi o primeiro do Brasil a criar clínicas com leitos públicos para internação de dependentes, processo que começou em 2010. Todos estes leitos são financiados com recursos exclusivos do governo do Estado, sem a participação do governo federal.


Desde o dia 3 de dezembro de 2012, o trabalho de abordagem social para auxiliar os dependentes a largar as drogas está sendo realizado com o apoio de 56 agentes da Associação Missão Belém. Os agentes são pessoas que já estiveram em situação de rua e dependência química e foram reinseridos socialmente pelo trabalho da própria Missão. Até o momento mais de 400 dependentes foram retirados do centro e levados para as casas de triagem da Missão. Diariamente, de 10 a 15 pessoas têm concordado em ir para as casas de triagem. Depois de passar pelas casas de triagem e por tratamento de saúde, os usuários podem ser recebidos em moradias assistidas, onde se iniciará a reinserção social. Nesta etapa, o processo conta com atividades de educação, trabalho, lazer, esporte e cultura, além de incentivo para o retorno ao convívio familiar. Do Portal do Governo do Estado e da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania
 A recaída, quando se fala de drogas, é em muitos casos, fatal.

Não faço uma crítica. Existem de fato, oportunistas políticos
 envolvidos em toda esta questão, mas também, existem profissionais sérios, capazes, e que até voluntariamente dedicam-se a causa com a finalidade de obter o verdadeiro resultado: a recuperação do indivíduo. Não é tarefa fácil.

O indivíduo

A recuperação pessoal, envolve muitas vezes, mais que a pessoa que se submete ou é levada para um tratamento. Parte claro, da vontade desta, da sua conscientização e interiorização de que tem um problema, e necessita da solução. 

Porém, o ambiente onde se dá este tratamento, deve ser favorável, e deve proporcionar "ferramentas" que possibilitem tratar sua dependência química, seja por meios medicamentosos e por terapias, ou pelo ambiente adequado. Posteriormente a internação, vem uma etapa primordial, a continuidade, a "manutenção" daquilo que absorveu durante o período em que esteve internado. Isto requer agora, muito mais da parte do indivíduo, que irá de encontro aos ambientes onde se dará esta continuidade, também se for o caso, adquando o seu próprio lar. Aliado a isto, não menos importante, estão as condições de vida: Trabalho, saúde, moradia, estudo, lazer, etc. Ter acesso, e buscar a estes meios, na prática, pode definir o sucesso de um tratamento. 

Alguns, o próprio dependente químico terá de ir buscar, outros, o estado deve proporcionar, principalmente no caso de moradores de rua. A recuperação da pessoa, quando se fala em combate ao crack, cracolândia, tratamento compulsório e involuntário, deveria prever e suportar estas etapas. Existem progressos já, no sentido do tratamento. O Estado de São Paulo por exemplo, disponibilizará vagas de uma Comunidade Terapêutica, assim como já por certo mantém convenios com muitas outras. A situação após a desinternação, apesar de já existir um programa específico do governo e casas de apoio, é que creio eu está longe de ser adequada.

Mais 24 Hrs de Paz e Serenidade

Lei contra as drogas: eis o caso mais escandaloso de manipulação da notícia em muitos anos. Ou: O poderoso lobby em favor da descriminação das drogas distorce um texto correto e mente sobre seu conteúdo

Blog do reinaldo Azevedo
Caros leitores e senhores deputados federais,


não tenho memória de assistir a tamanho espetáculo de manipulação, de mentiras orquestradas e de desinformação como o que envolve o projeto do deputado Osmar Terra (PMDB-RS), que melhora, e muito!, a Lei Antidrogas no Brasil. Este post é longo, mas vai às minúcias da fraude em curso. Veículos de comunicação, algumas lideranças políticas, um site de petições… Toda essa gente se uniu, alguns por ideologia, outros por desinformação e outros ainda por picaretagem, para produzir ruído em vez de produzir informação.


Vamos a uma tarefa um tanto longa, mas necessária. É impressionante a força que tem, especialmente na imprensa, o lobby dos defensores da descriminação das drogas, muito especialmente da maconha. Não estranha quem sabe como e por quem são feitas as salsichas… Até aí, tudo bem! As pessoas têm o direito de dizer o que bem entendem — quero-me entre os defensores intransigentes da liberdade de opinião e de expressão. Mas ninguém tem o direito de mentir, de distorcer, de manipular os fatos só para facilitar a sua crítica. Aí é desonestidade intelectual das mais grosseiras. O deputado Osmar Terra (PMDB-RS) apresentou o Projeto de Lei 7663/2010, que muda a Lei 11.343, conhecida como Lei Antidrogas. Os links estão aí. Noto que Osmar Terra passou a apanhar ao mesmo tempo em que se escondia o texto dos leitores. O que propõe o deputado?
– a definição clara das esferas de competência de cada um dos três entes da federação: municípios, estados, união;
– endurece a pena para traficantes;
– distingue as drogas de maior risco daquelas de menor risco;
– inclui as comunidades terapêuticas na rede de atendimento público — ou o estado dispõe de uma rede de serviços?;
– define as circunstâncias das internações voluntária, involuntária e compulsória.

É o que está lá. Sei que dá trabalho ler o projeto. É preciso fazê-lo recorrendo à lei em vigor. É complicado. Teve início, então, um formidável show de desinformação. Até o jornal O Globo fez a respeito o editorial que certamente entrará para a antologia dos mais equivocados de sua história, forçando a mão e citando dados que esqueceram de acontecer. O último a engrossar o coro fora do tom e dos fatos foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Vênia máxima ao grande político, certamente falou sem ler. Passou adiante o peixe que lhe venderam embrulhado. Como a sua opinião sobre as drogas não reflete o seu lado mais iluminado, o conjunto resultou em mais desinformação.

Os picaretas e vigaristas costumam pegar carona na onda dos equivocados. O site de petições Avaaz, comandado por Pedro Abramovay — aquele rapaz que, quando no governo, propôs que não se prendam pequenos traficantes —, mantém uma no ar com a seguinte proposição (tudo em maiúsculas, no original): “DIGA NÃO AO PROJETO DE LEI QUE VAI MANDAR USUÁRIOS DE DROGAS PARA A CADEIA”. Abramovay já deixou claro que o Avaaz, no Brasil, tem lado e ideologia. Só prosperam as petições que contam com a concordância dos “sócios”. Aí vale tudo! Inclusive, percebo agora, a mentira mais descarada. Essa petição se refere ao projeto de Osmar Terra. ATENÇÃO! É MENTIRA QUE O PROJETO DO DEPUTADO PROPONHA CADEIA PARA USUÁRIOS DE DROGAS. Pior: a página que está no ar traz, como citação, um trecho do editorial do Globo.

Mentiras formidáveis começaram a ser atribuídas ao projeto:
– ele criaria um cadastro de usuários de drogas. Não cria!
– ele mandaria para a cadeia os usuários. Falso! Não manda!
– obrigaria diretores de escola a criar um cadastro de alunos usuários. Mentira também.
– aumentaria a pena de usuários — trata-se de um exagero ridículo, e direi por quê.


O texto já passou por todas as comissões da Câmara, inclusive a de Constituição e Justiça, e está pronta para ir a plenário. Boa parte do PT torce o nariz. FHC pediu para os tucanos repensarem e coisa e tal. E o que propõe Osmar Terra?

O que é tráfico? O que é consumo?
A palavra de ordem da militância em favor da descriminação das drogas é a distinção clara, na lei — com definição de quantidade da substância —, entre consumo é tráfico. Trata-se de uma trapaça intelectual e de um passo em direção não à descriminação do consumo, mas à legalização das drogas. Na base dessa proposição, está a avaliação bucéfala de que, se a repressão, até agora, não acabou com o tráfico, que tal tentar o contrário? Nem a epidemia do crack, com seus efeitos trágicos Brasil afora, convenceu essa gente de que precisamos de menos drogas circulando, não de mais. O projeto de lei de Osmar Terra continua a deixar a critério do juiz, pesadas todas as circunstâncias, a avaliação. E, sim, continua a considerar crime o consumo de drogas — SÓ QUE ESSE CONSUMIDOR NÃO SERÁ SUBMETIDO À PENA DE PRISÃO.

Os “bacanas” defendem que a lei estabeleça a quantidade do que é tráfico e do que é consumo. A turma que elaborou a proposta aloprada do novo Código Penal, que tramita no Senado, acha que, se o sujeito portar drogas para cinco dias, isso não deve ser considerado tráfico. O deputado petista Paulo Teixeira (SP) quer mais: 10 dias. Há viciados em crack que fumam até 10 pedras por dia. No país de Teixeira, se alguém for surpreendido com 100 pedras, isso é coisa só de consumidor, não de traficante. QUE DEPUTADO É FAVORÁVEL A ISSO? QUE MOSTREM A CARA!

Imaginem os nossos congressistas à volta de uma mesa a definir quantos gramas de maconha seria “normal” consumir num dia para, então, estabelecer os gramas de cinco ou dez dias… Deem uma única boa razão para que os traficantes não se aproveitassem dessa janela e mandassem seus “vapores” sair por aí com a quantidade “permitida”…

O projeto de Terra não faz essa distinção — e, entendo, nem deve. Seria a porta aberta para legalização do tráfico. Afinal, o deputado, que é médico, elaborou um projeto para combater as drogas, não para legalizá-las.

Manda usuário para a cadeia?
Trata-se de uma mentira estúpida, divulgada pelo site Avaaz e por outros que fazem a apologia da maconha. Em seu estupefaciente editorial de dezembro do ano passado, afirma o Globo:
“Em qualquer lista dos mais equivocados projetos em tramitação no Congresso, um, do deputado Osmar Terra (PMDBRS), ganharia destaque. E com méritos, porque trata de aumentar o castigo penal do usuário de drogas, na contramão da tendência correta de se descriminalizar o usuário, tratando-o como uma questão de saúde pública e não de polícia.”

Em qualquer lista dos mais equivocados editoriais do Globo, este ganha destaque, com méritos. Em primeiro lugar, porque basta ler o texto (o link vai acima) para constatar que ele não faz outra coisa a não ser tratar o viciado como uma questão de… saúde pública! Em segundo lugar, em que consiste o “aumento do castigo penal do usuário”? Explico.

O Artigo 28 da lei que está em vigência estabelece a seguinte pena para quem for flagrado consumindo maconha ou portando uma quantidade que o juiz não considera tráfico (prestem atenção!):
I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

Esses são os grandes sofrimentos a que são submetidos os consumidores de substâncias ilícitas. No caso dos incisos II e III, a obrigação deve ser cumprida por cinco meses. Havendo reincidência, dez. A suposta fúria punitiva de Terra estende o primeiro período para seis meses; o reincidente pode ser submetido à medida por pelo menos 12 meses, podendo chegar a 24, com restrições a frequentar determinados lugares.

E isso é tudo.

Aumenta a pena do traficante
O que o projeto de lei do deputado faz, isto sim, é aumentar a pena do traficante. E cria ainda uma espécie de hierarquia entre as drogas. As de maior potencial destrutivo podem ser um fator de aumento da pena. Para que se entenda direito a sua proposta, é preciso visitar os artigos 33 a 37 da atual lei, que me permito transcrever (NOTEM QUE TODOS ELES DIZEM RESPEITO À AÇÃO DE TRAFICANTES, NÃO DE USUÁRIOS) — segue em azul.

Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem:
I – importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas;
II – semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas;
III – utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas.

§ 2o Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa.

§ 3o Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para juntos a consumirem:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.

§ 4o Nos delitos definidos no caput e no § 1o deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. (Vide Resolução nº 5, de 2012)

Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.

Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do caput deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.

Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.

Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1o, e 34 desta Lei:
Pena – reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa.


Voltei

Muito bem. O Artigo 40 dessa lei estabelece quando as penas acima definidas podem ser acrescidas de um sexto a até dois terços (são os chamados fatores agravantes). Vejam se vocês discordam de alguma:
I – a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito;
II – o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância;
III – a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos;
IV – o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva;
V – caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal;
VI – sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação;
VII – o agente financiar ou custear a prática do crime.

Osmar Terra, esse homem malvado, acrescentou aos sete incisos acima mais dois. A pena também seria agravada quando:
VIII – o crime envolve drogas de alto poder de causar dependência, de acordo com a classificação prevista na alínea “c” do inciso I, do parágrafo único, do art. 1º desta Lei; e
IX – o crime envolve a mistura de drogas como forma de aumentar a capacidade de causar dependência.”

Terra é mesmo um homem mau!!!

O cadastro único dos usuários
Até eu cheguei a recear que houvesse mesmo na lei a proposta de criação de um cadastro único de usuários de drogas. Se houvesse, seria, obviamente, contra. Mas isso não está lá. É conversa mole. É papo furado. Contaram esse negócio para FHC, e ele acreditou. Ligou para deputados tucanos para fazer pressão.

Cadastro? Vamos ver o que vai no texto (em azul):

“§ 4º Todas as internações e altas de que trata esta Lei deverão ser registradas no Sistema Nacional de Informações sobre Drogas às quais terão acesso o Ministério Público, Conselhos de Políticas sobre Drogas e outros órgãos de fiscalização, na forma do regulamento.
§ 5º É garantido o sigilo das informações disponíveis no sistema e o acesso permitido apenas aos cadastrados e àqueles autorizados para o trato dessas informações, cuja inobservância fica sujeita ao disposto no Artigo 39-A desta lei”


ISSO É CADASTRO DE USUÁRIOS?
Ora, tenham a santa paciência! Reconhecendo-se que o estado tem a obrigação de tratar o dependente, reconhecendo-se que o programa precisa de acompanhamento, reconhecendo-se que é preciso avaliar se as medidas estão ou não adequadas, o que se pretende? Eu não gosto, deixo claro, é dos tais “outros órgãos de fiscalização”. Quais órgãos?

Quer dizer que devemos fazer uma política pública à matroca? Os bacanas que defendem o “uso medicinal” da maconha não querem ter até carteirinha? Não se trata de criar “cadastro de usuários”, mas de uma lista, então, de doentes. Não é esse o entendimento firmado sobre o assunto? Quer dizer que o estado pode ter listados os pacientes de câncer, de tuberculose, de hanseníase, mas não os das drogas? A gritaria trai má consciência e fraude intelectual: no fundo, essa gente acha que “ser drogado” é um direito, e o estado tem a obrigação de arcar permanentemente com os custos do tratamento, mas “sem controle”…

Internações
E há a grita também porque o projeto de lei disciplina, no que faz muito bem, as internações. Reproduzo o texto:

“Art. 23-A A internação de usuário ou dependente de drogas obedecerá ao seguinte:
I – será realizada por médico devidamente registrado no Conselho Regional de Medicina (CRM) do Estado onde se localize o estabelecimento no qual se dará a internação e com base na avaliação da equipe técnica;

II – ocorrerá em uma das seguintes situações:
a) internação voluntária: aquela que é consentida pela pessoa a ser internada;
b) internação involuntária: aquela que se dá sem o consentimento do usuário e a pedido de terceiro; e
c) internação compulsória: aquela determinada pela
Justiça.
§ 1º A internação voluntária:
I – deve ser precedida da elaboração de documento que formalize, no momento da admissão, a vontade da pessoa que optou por esse regime de tratamento; e
II – seu término dar-se-á por determinação do médico responsável ou por solicitação escrita da pessoa que deseja interromper o tratamento.
§ 2º A internação involuntária:
I – deve ser precedida da elaboração de documento que formalize, no momento da admissão, a vontade da pessoa que solicita a internação; e
II – seu término dar-se-á por determinação do médico responsável ou por solicitação escrita de familiar, ou responsável legal.
§ 3º A internação compulsória é determinada, de acordo
com a legislação vigente, pelo juiz competente.


Comento
A internação compulsória já é possível na atual legislação. O texto não inova nesse particular. Em seu editorial de dezembro, escreve o Globo, num trecho notável que nega o que afirma:
“está provado que o sucesso em internações compulsórias ocorre apenas em 2% a 3% dos casos. Há situações em que não existe alternativa, e a coação serve para proteger o próprio drogado. Mas não pode ser a primeira e única alternativa. Portugal, um dos mais avançados na Europa na descriminalização, constata a queda no consumo de drogas.”

O projeto de Terra, obviamente, trata das situações em que não há alternativa. Sei que isso dispensa o jornal de apresentar, então, uma alternativa, mas deveria dizer o que há de errado com o projeto do deputado nesse particular. Ainda tratarei da grita contra as internações involuntárias, uma das faces mais perversas do suposto humanismo dos que querem descriminar ou legalizar as drogas. Há um indisfarçável traço de classe nessa história. Os pobres não têm como descansar, de vez em quando, em clínicas de bacanas. A alternativa é a sarjeta. Terra fez um projeto que integra a rede de tratamento a viciados no sistema público de saúde. Ora, se não for isso, será o quê? A turma do miolo mole da “antipsiquiatria” conseguiu acabar com as instituições públicas para internais doentes assim, quando o certo seria humanizá-las. Reitero que voltarei a esse particular em outros textos.

Caminhando para a conclusão
Eis aí. Essas são as grandes maldades do texto de Osmar Terra, que está sendo combatido com unhas, dentes e mentiras. É mentira, também, que o texto queira obrigar diretores de escola a denunciar alunos consumidores. Alguém sugeriu que os estabelecimentos de ensino fossem obrigadas a denunciar o tráfico em suas dependências ou algo assim — o que, parece-me, é obrigação de qualquer um, mas deve ficar fora dessa lei.

O texto de Terra está sendo tratado com óbvio preconceito e má vontade por aqueles que não concordam com ele — ou porque acham que o certo é descriminalizar, talvez legalizar, ou porque se oponham às internações. Que apontem, então, um caminho. Lá no Ministério da Justiça, parece, discute-se a possibilidade de oferecer maconha a viciados em crack, numa suposta estratégia de redução de danos… É um jeito de ver o mundo…

Encerro lembrando mais um trecho do editorial do Globo:
“Portugal, um dos mais avançados na Europa na descriminalização, constata a queda no consumo de drogas.” Seria bom para a tese se fosse verdade — além, claro!, de ser uma revolução na lógica. Pela primeira vez na história da humanidade, ao se facilitar enormemente a circulação de uma determinada substância, haveria queda da exposição das pessoas à dita- cuja. Os números de Portugal desmentem a afirmação, não eu. De resto, ainda que verdade fosse, seria uma mentira: a parte continental de Portugal, com o mar a oeste e ao sul, tem uma costa de 1.230 km apenas; ao norte e ao leste, um único vizinho: a Espanha. Banânia tem 9.230 km de litoral a serem vigiados e faz fronteira com nove países. Quatro deles são produtores de cocaína: Colômbia, Venezuela, Peru e Bolívia. E o Paraguai é origem de parte considerável na maconha que circula no Brasil. A população de Portugal inteiro é menor do que a da cidade de São Paulo.

Evoque-se, então, em nome da responsabilidade e da razoabilidade, um único país com características similares às do Brasil que tenha descriminado o consumo de drogas, e aí começaremos a conversar. O editorial do Globo, num dado momento, chega até a ter laivos de antiamericanismo: “A paquidérmica ONU, influenciada pelos Estados Unidos, defensores da militarização do problema da droga, apesar da legalização em alguns estados americanos, formalmente não se moveu.”

Meio tarde para enveredar por esse caminho, não?

Que os deputados votem com responsabilidade e sem temer a patrulha. E que votem no texto, não no que dizem estar no texto.
Texto publicado originalmente às 5h39 
Por Reinaldo Azevedo
Fonte - Veja Online - Blog do Reinaldo Azevedo