Projeto de lei que  prevê, entre outros pontos, a determinação judicial de encaminhamento a  tratamento ou à internação compulsória de usuário de drogas foi aprovado  nesta quarta-feira (10) pela Comissão de Assuntos Sociais (CAS). Os  senadores aprovaram o substitutivo da senadora Ana Amélia (PP-RS) com o  compromisso de ampliar a discussão na Comissão de Direitos Humanos e  Legislação Participativa (CDH).
| Senadores Ana Amélia e Waldemir Moka, durante reunião da CAS | 
Os senadores Humberto Costa (PT-PE) e Eduardo Suplicy (PT-SP) se  abstiveram de votar por considerar que a proposta ainda possui pontos  polêmicos. Depois de votada na CDH, a matéria ainda será examinada pela  Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), na qual receberá  decisão terminativa e, se aprovada, seguirá para a Câmara dos Deputados.
O projeto (PLS 111/2010)  foi apresentado pelo ex-senador Demóstenes Torres. Segundo o  substitutivo, que altera a Lei de Drogas (Lei 11.343/2006), a  determinação do juiz deve ser fundamentada em laudo de comissão técnica.  Tal colegiado será formado por três profissionais de saúde com  experiência no tratamento de dependência de drogas, dos quais pelo menos  um deverá ser médico. A comissão técnica, de acordo como substitutivo,  funcionará junto ao tribunal ou juízo competente.
O projeto de lei original prevê pena privativa de liberdade, que  poderia ser substituída por tratamento especializado, se assim  determinar o juiz após laudo de comissão multidisciplinar. A senadora  Ana Amélia disse que alterou o texto por considerá-lo "policialesco". Já  o substitutivo, explicou, trata da dependência de drogas como um  problema de saúde.
A senadora disse que existe uma visão conflitante sobre o problema  dentro do governo: o Ministério da Justiça veria o tema como um assunto  de segurança pública e, por isso, tenderia à repressão, enquanto o da  Saúde teria uma percepção clara de que a dependência química é uma  doença.
– Temos como referência que o dependente químico é um doente e não um  criminoso que precisa ir para a cadeia. O substitutivo tem uma visão  muito mais humanista e de saúde pública – ressaltou Ana Amélia, ao  registrar o trabalho da Consultoria Legislativa do Senado durante dois  anos no projeto.
Equilíbrio
O presidente da CAS, senador Waldemir Moka (PMDB-MS), disse que, como  médico, considera o substitutivo adequado. O senador observou haver  usuários de drogas que nunca se tornam viciados. No entanto, ressaltou,  há outros que até matam para adquirir dinheiro para o consumo, o que, em  sua opinião, requer internação. Moka considera equilibrado o  substitutivo, pois exige que comissão técnica avalie a situação  individual antes de determinar a internação do paciente.
Já na avaliação do senador Sodré Santoro (PTB-RR), o usuário de  drogas tem grande chance de se tornar viciado e, posteriormente,  traficante. O senador criticou a flexibilização da legislação em  benefício dos usuários, pois, para ele, o consumo de drogas “acaba  minando a juventude”.
- O usuário de hoje é o viciado de amanhã e o traficante de depois de amanhã – disse Santoro.
O senador Humberto Costa (PT-PE) disse que não é necessário incluir a  internação compulsória do usuário na Lei de Drogas. Em sua opinião, não  é adequado dar natureza penal a essa questão, uma vez que cada  envolvido no problema das drogas deve receber tratamento diferenciado.
Em sua visão, há três atores envolvidos: o traficante, que precisa  ser combatido e receber penas mais rigorosas; o dependente químico, que  consome drogas em razão de predisposições ou fatores socioculturais; e o  usuário, que utiliza drogas de forma eventual.
Na opinião de Humberto, que é médico e foi ministro da Saúde, ao  incluir o tema na Lei de Drogas, o problema será tratado no âmbito  criminal. Em sua avaliação, o investimento público no que se refere às  drogas deve ser feito de forma individualizada e ser alocado tanto para a  repressão como para o tratamento médico, de acordo com a situação.
- Temos um problema conceitual de diferenciar usuário e dependente.  Propor a internação compulsória para alguém que, em sendo usuário, não  se sente desconfortável com essa condição, seria uma imposição da  sociedade de um tratamento que não seria aplicável. O fato de ser  usuário não pressupõe que aquela pessoa seja dependente.
Ao concordar com os argumentos de Humberto Costa, a senadora Ana Rita  (PT-ES) prometeu aprofundar a discussão da matéria na CDH, presidida  por ela. A senadora ressaltou que a matéria não pode mais ficar  estagnada e o debate com especialistas possibilitará construir uma  posição mais adequada sobre a matéria.
Agência Senado
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