Anticolinérgicos

Anticolinérgicos
São plantas e substâncias sintéticas que possuem em comum uma série de efeitos no corpo humano, alterando funções psíquicas. Entre as plantas temos as popularmente conhecidas como Saia Branca, Lírio, Trombeta, Trombeteira, Zabumba, Cartucho, Estramônio, entre outras.

São plantas do gênero Datura e que produzem duas substâncias a atropina e a escopolamina, que são as responsáveis pelos efeitos. Entre as substâncias sintéticas existem aquelas com o mesmo tipo de efeitos que as substâncias naturais (atropina e escopolamina) e estão presentes em medicamentos como o Artane® , o Akineton® , além de colírios e outros. Esses medicamentos têm utilidade terapêutica no tratamento da Síndrome de Parkinson e como antiespasmódico.

Anticolinérgicos podem ser substâncias extraídas de plantas ou ser sinteticamente produzidas. Sua característica é inibir a produção de acetilcolina. Os anticolinérgicos são classificados como diretos e indiretos. Os anticolinérgicos diretos também chamados de anti-muscarínicos, que são drogas que antagonizam, nos receptores muscarínicos e anti-nicotínicos por antagonizar a ação da acetilcolina nos receptores nicotínicos. Os anticolinérgicos indiretos agem interferindo na síntese, armazenagem e liberação da acetilcolina, a exemplo da toxina botulínica.

A nicotina e seus antagonistas, diferem anti-muscarínicos porque a ação parasimpaticolítica destes é devida à sua atuação nas sinapses neuroefetoras do parasimpático enquanto que a classe das drogas nicotínicas (similares ou derivadas das extraídas da Nicotiana tabacum) agem na sinapse ganglionar inibindo a ação da acetilcolina. Por essa característica são estudados separadamente e denominados ganglioplégicos ou bloqueadores ganglionares, muito uteis no processo da anestesia cirúrgica. 


Obs: O cultivo, ou posse de algumas destas plantas não são considerados ilegais no Brasil, porém, a extração dos princípios ativos para fins de uso recreativo são equiparados a qualquer outra droga ilegal, ou seja, há diretrizes penais para o usuário, bem como crime previsto para o caso de tráfico.

Histórico
Foram usados durante a Segunda Guerra Mundial por organismos militares, que viram neles um "soro da verdade", pois sob seu efeito a pessoa sente-se como que embriagada e facilmente sugestionável.

Em 1866, um médico da Bahia descreve o seguinte quadro em dois escravos:

Fui chamado a visitar estes doentes no dia seguinte às 8 horas da manhã. Já podiam caminhar, mas estavam ainda trôpegos e hallucinados, vendo objetos himaginários, phantasmas, ratos a passear pela camara etc., de que procuravam fugir dirigindo-se para a porta. Ambos tinham as pupilas dilatadas... a boca e faces nada oferecem de notável... Na panela que servia para vazer o cosimento estavam dous ramos com muitas folhas e algumas flores rudimentares, de uma planta que conheci ser trombeteira (Datura arborea, Lin).

Em 1984, um jovem advogado de São Paulo narrou sua experiência após ingerir chá de saia-branca:

Os sintomas iniciam-se cerca de 10 minutos mais tarde com queixas de não enxergar direito, vendo tudo embaraçado e fora de foco. As pupilas estão totalmente dilatadas. Seguem-se alucinações terrificantes, visão de animais e plantas ameaçadoras, cadáveres de índios, pessoas etc. Algumas horas mais tarde relata que perdeu o pulso e engoliu a língua sendo levado para o pronto socorro.

Ainda em uma manhã de 1989, um menino de rua com as pupilas muito dilatadas descreveu o que sentia após tomar 10 comprimidos de Artane® (medicamento à base de triexafenidila, utilizado para mal de Parkinson, mas usado como droga de abuso devido as suas propriedades em produzir alucinações):

Via elefante correndo pela rua e rato saindo do buraco, se olhava para o céu via estrelas de dia. Tava tudo embaçado e dava medo, mas era também bonito.
Conforme as descrições acima, tanto o chá da planta como o medicamento Artane® foram capazes de produzir dilatação das pupilas (midríase) e alterações mentais do tipo percepção sem objetivo (ver ratos, índios e estrelas quando esses objetos não existiam), isto é, alucinações.

O que existe de comum entre a planta trombeteira ou lírio e o medicamento Artane® que produz efeitos físicos e psíquicos semelhantes é que duas substâncias (atropina e/ou escopolamina) sintetizadas pela planta e o princípio ativo (triexafenidil) do medicamento produzem um efeito no organismo que a medicina chama de efeito anticolinérgico. E sabe-se que todas as drogas anticolinérgicas são capazes de, em doses elevadas, além dos efeitos no corpo, alterarem as funções psíquicas.

Plantas anticolinérgicas
Beladona (Atropa belladonna)
Trombeta (Datura suaveolens)
Estramônio (Datura stramonium)
Mandrágora (Mandragora officinarum)
Curare (Strychnos toxifera, Anomospermum grandiflora, e outras)

Os efeitos anticolinérgicos dessas plantas são devidos principalmente à produção das substâncias: atropina e escopolamina.
Substâncias sintéticas e semi-sintéticas

Atropina obtida sinteticamente desde 1901

Antagonistas muscarínicos
Atropina (Atopion (Ariston))
Biperideno (Akineton®)
Benactizina (Asmosterona®)
Butilbrometo de escopolamina (Buscopan)
Diciclomina (Bentyl®)
Homatropina (Flagss Baby (Ache))
Ipratrópio
Triexafenid (Artane®)
Tropicamida Antagonistas nicotínicos (curarizantes)
Atracúrio
Pancurônio
Succinilcolina
Tubocurarina

Mecanismos de Ação
 

Anticolinérgicos
Os anticolinérgicos, tanto de origem vegetal como os sintetizados em laboratório, atuam principalmente produzindo delírios e alucinações. São comuns as descrições pelas pessoas intoxicadas de se sentirem perseguidas, de verem pessoas e bichos etc. Esses delírios e alucinações dependem bastante da personalidade do indivíduo e de sua condição, assim, nas descrições de usuários dessas drogas, encontram-se relatos de visões de santos, animais, estrelas, fantasmas, entre outras imagens.

Os efeitos são bastante intensos, podendo demorar de dois a três dias. Apesar disso, o uso de medicamentos anticolinérgicos (com controle médico) é muito eficaz no tratamento de várias doenças, como Síndrome de Parkinson e diarréia.

Efeitos no organismo
As drogas anticolinérgicas são capazes de produzir muitos efeitos periféricos além dos provocados no sistema nervoso central. Assim, as pupilas ficam muito dilatadas, a boca seca e o coração pode disparar. Os intestinos ficam paralisados – tanto que eles são usados medicamente como antidiarréicos – e a bexiga fica “preguiçosa” ou há retenção de urina.

Conseqüências Negativas
Os anticolinérgicos podem produzir, em doses elevadas, grande elevação da temperatura, que chega às vezes até 40 ou 41ºC. Nesses casos, felizmente não muito comuns, a pessoa apresenta-se com a pele muito seca e quente, com vermelhidão principalmente no rosto e no pescoço.

A temperatura elevada pode provocar convulsões (“ataques”) e são bastante perigosas. Também existem pessoas que descrevem ter “engolido a língua” e quase se sufocarem por causa disso. Ainda, em casos de dosagens elevadas, o número de batimentos do coração sobe exageradamente, podendo ultrapassar 150 batimentos por minuto.

Consumo no Brasil
O abuso dessas substâncias é relativamente comum no Brasil. O Artane® chega a ser a terceira droga mais usada entre meninos de rua de algumas capitais no Nordeste (depois dos inalantes e da maconha). Nas demais regiões, o uso de anticolinérgicos é bem menos freqüente.

Essas drogas não desenvolvem tolerância no organismo e não há descrição de síndrome de abstinência, ou seja, quando a pessoa pára de usar abruptamente essas substâncias, não apresenta reações desagradáveis.

Fontes - Obid - Wikipédia - BrasilEscola
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