Afeto e Limites Claros podem manter os filhos longe das drogas |
Faz parte da natureza do adolescente querer testar limites,
confrontar, experimentar. Por isso, é crucial preparar o jovem para as
oportunidades que, com certeza, virão para que ele prove drogas ilícitas
nessa fase da vida.
Faz parte da natureza do adolescente querer testar limites,
confrontar, experimentar. Por isso, é crucial preparar o jovem para as
oportunidades que, com certeza, virão para que ele prove drogas ilícitas
nessa fase da vida. Não há como isolar seu filho diante da ampla oferta
na sociedade atual, mas uma postura clara dos pais sobre o assunto –e o
vínculo afetivo que foi construído– pode determinar como será a reação
do jovem.
"A atenção da família é muito importante e se constrói ao longo da
vida, não só na adolescência", afirma Ivone Ponczek, diretora do Nepad
(Núcleo de Estudos e Pesquisa em Atenção ao Uso de Drogas) da UERJ
(Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
No artigo "Fatores de Risco e de Proteção para o Uso de Drogas na
Adolescência", Miriam Schenker, do Nepad, e Maria Cecília de Souza
Minayo, do Centro Latino-Americano de Estudos da Violência e Saúde Jorge
Careli, também colocam que "relações familiares saudáveis desde o
nascimento da criança servem como fator de proteção para toda a vida e,
de forma muito particular, para o adolescente".
Mas, para estabelecer uma comunicação eficiente, os pais têm de
buscar compreender o que leva o adolescente a usar drogas, o que passa,
entre outros fatores, pela busca de prazer, não de sofrimento. O jovem
quer experimentar sensações como extroversão, fazer parte de um grupo,
sentir que tem autonomia em relação à família.
Nesse contexto, segundo Vera Lúcia Polverini, do CAPS AD 3 Luís Brant
(Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas), de Guarulhos (SP),
unidade de saúde responsável por atender dependentes de álcool e de
drogas, de nada adiantam os discursos sobre os malefícios das drogas
feitos por pais que, raramente, conversam com os filhos. O resultado da
fala é apenas um sermão desagradável ao qual os adolescentes não dão a
menor atenção.
"O discurso do traficante é muito sedutor e a linguagem dele é
parecida com a do adolescente. Por isso, a conversa dos pais precisa ser
informativa sobre o mundo das drogas e agradável de escutar", diz a
especialista.
A conversa com o jovem tem de abordar os riscos associados ao uso de
substâncias químicas, como a possibilidade de se tornar dependente delas
e de comprometer o desenvolvimento como pessoa.
Na construção de um diálogo franco e aberto, é importante que os pais
saibam que é imprescindível ouvir muito o que o adolescente tem a
dizer, pois ele vai trazer informações sobre o comportamento de sua
geração, que os pais desconhecem –e que podem ser esclarecedoras sobre a
forma como ela se relaciona com as drogas.
Em seu texto, as pesquisadoras Miriam e Maria Cecília colocam que, na
sociedade atual, o uso de drogas tem o mesmo “significado social e
psicológico” que a bebida alcoólica teve para gerações anteriores, muito
calcado na construção de uma imagem de independência.
Ivone Ponczek diz que uma estratégia que os pais podem utilizar
quando o filho se mostra arredio em conversar é buscar a ajuda de uma
pessoa com quem o jovem tenha uma relação de proximidade. "Vale um tio,
um amigo, namorado ou namorada. Mas tem de ser alguém, verdadeiramente,
disposto a ajudar."
E não há regras estabelecidas sobre o que falar com o filho, já que
cada família tem seus valores e crenças. Mas Ivone recomenda cautela
para os pais que resolvem compartilhar experiências que tiveram com
drogas na juventude. "Tem de tomar muito cuidado para a fala não soar
como apologia", declara a especialista.
Segundo as especialistas, para "blindar" os filhos contra as drogas,
os pais devem deixar clara sua postura em relação ao uso dessas
substâncias e estabelecer limites. Permissividade e superproteção também
podem influenciar negativamente, assim como rigidez em excesso.
"Atitudes extremas de controle e de policiamento não ajudam. O
adolescente pode sentir prazer em driblar a vigilância", afirma Ivone. A
especialista do Nepad diz acreditar que famílias muito invasivas –que
investigam os pertences pessoais do jovem ou descobrem senhas das redes
sociais das quais ele participa– também não ajudam a manter o
adolescente longe das drogas.
"O importante é achar o equilíbrio para não ser negligente ou
repressor. Há que se descobrir o caminho do meio. Esse é um processo de
aprendizado para toda a família", afirma a psicóloga Marília Castello
Branco, do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Unifesp
(Universidade Federal de São Paulo).
Os pais não devem cair na tentação de se tornarem melhores amigos dos
filhos, como diz o sociólogo e jornalista argentino Sergio Sinay em seu
livro "A Sociedade dos Filhos Órfãos" (Editora BestSeller), lançado em
maio no Brasil. "O amiguismo paterno é um fenômeno devastador", diz o
escritor em um trecho da obra. Sinay afirma que os pais não podem deixar
de lado seu papel principal na vida dos filhos, que é o de orientar.
Vera Lúcia diz que a postura excessivamente crítica de alguns pais
pode ser prejudicial na relação com o filho. "Antes de criticar o
adolescente, é preciso corrigir os próprios hábitos, muitas vezes,
nocivos."
Um menino que viu a vida inteira o pai tomar muita bebida alcoólica
ou uma mãe fumando excessivamente, não consegue encarar com seriedade as
palavras dos dois. "O velho ditado do ‘faça o que eu digo, não faça o
que eu faço" não funciona mais. Os filhos necessitam de bons exemplos",
afirma Vera Lúcia.
Sergio Sinay também destaca, em sua obra já citada, a importância dos
pais como um espelho para o filho adolescente. "Não é possível
conversar sobre alcoolismo com os jovens com um copo na mão (...).
Nossos filhos não refletem apenas nossa imagem; imitam-na e a devolvem
para nós", diz em outra passagem.
Os pais também têm de estar atentos ao comportamento do filho e
conhecer de perto o grupo de amigos –e os pais deles– do qual ele faz
parte. Só a proximidade e a participação ativa na vida do adolescente
vai permitir que notem se ele está deprimido, ansioso, eufórico, triste
ou revoltado. Estados que podem ser, simplesmente, parte do turbilhão de
emoções que envolvem o jovem nessa fase ou sinal de envolvimento com
substâncias tóxicas.
Outra orientação é evitar críticas aos amigos do jovem, o que não
quer dizer ignorar com quem o filho anda. Dizer "aquele fulano não
presta" ou "aquela menina é drogada" pode soar como ofensa. Afinal, se
são seus amigos, é porque ele nutre afeto por aquelas pessoas. O melhor é
convidar os colegas para frequentar a sua casa, em reuniões de estudo,
para ouvir música ou assistir a um filme. "Os pais podem ficar,
discretamente, por perto e observar como se comportam", declara Vera
Lúcia.
Uma forma de os pais prepararem o filho para fazer escolhas
conscientes passa pelo entendimento de algumas circunstâncias que
favorecem o uso de drogas. "O abuso de bebidas alcoólicas abre caminho
para uma porção de coisas, inclusive drogas mais pesadas", diz a
psicóloga Marília.
"Como o adolescente se acha um ser poderoso e que nada pode acontecer
com ele, acaba caindo nessa combinação álcool e drogas, que é muito
perigosa", fala Marília, acrescentando que, quando os pais não se
sentirem capazes de decifrar o comportamento do filho, é hora de
procurarem a ajuda de um profissional da psicologia ou da psiquiatria.
0 comentários:
Postar um comentário
Orientações para comentários
Por favor, certifique-se de que seu comentário tenha relação com o artigo em questão, ou com o conteúdo deste blog.
Comentários OFENSIVOS, ou que façam APOLOGIA a qualquer tipo de DROGA LEGAL, ou ILEGAL, não serão publicados, bem como anúncios comerciais de qualquer espécie.
Para anúncios, entre em contato com blogmais24hrs@gmail.com
Sua opinião e participação, são muito importantes. Participe !
Obrigado, Emerson - Administrador