Polêmica, internação compulsória para viciados em drogas está em discussão na CAS
A Comissão de Assuntos Sociais do Senado (CAS) está para votar um projeto de lei envolto em polêmica: o PLS 111/10, que permite a internação compulsória de dependentes
 de drogas. Apresentado pelo senador Demóstenes Torres (DEM-GO), o texto
 original previa inclusive a prisão dos usuários para induzi-los ao 
tratamento médico, mas essa possibilidade foi excluída pela senadora Ana
 Amélia (PP-RS) em seu relatório sobre a matéria.
O
 projeto também determina que o combate ao tráfico de drogas terá o 
apoio das Forças Armadas, "com ênfase nas áreas de fronteira". Além 
disso, Ana Amélia acrescentou um dispositivo que prevê a aplicação de 
multas aos usuários - medida que foi questionada nesta semana pelos 
senadores Paulo Davim (PV-RN) e Waldemir Moka (PMDB-MS).
As discordâncias quanto ao projeto ficaram evidentes na audiência pública realizada em setembro
 pela CAS, quando representantes do governo e médicos especialistas em 
dependência química apresentaram posições contrárias: os representantes 
do governo contra a proposta (que na ocasião ainda incluía a 
possibilidade de prisão) e os especialistas a favor das medidas 
sugeridas por Demóstenes Torres.
Nem mesmo dentro do governo 
parece haver consenso: recentemente, a imprensa noticiou que o ministro 
da Saúde, Alexandre Padilha, defendeu a "internação
 involuntária" sob determinadas condições, como a existência de risco de
 vida e a avaliação de profissionais qualificados. Para Ana Amélia, o 
ministro se utilizou de um eufemismo para evitar a palavra "compulsória".
Um dos argumentos dos que são contra a internação compulsória
 é que essa medida desrespeitaria o direito à liberdade e a autonomia 
dos indivíduos - uma violação, portanto, de direitos humanos. Outras 
críticas comparam a iniciativa ao que se fazia antes com os doentes 
mentais e ainda há as que afirmam que a medida afetaria apenas a 
população mais pobre.
Além de ser relatora do projeto, Ana Amélia 
também foi relatora, no ano passado, da Subcomissão Temporária de 
Políticas Sociais para Dependentes Químicos de Álcool, Crack e outras Drogas. 
Prisão
Quando
 apresentou a proposta, em abril de 2010, Demóstenes declarou que era 
preciso resgatar a possibilidade de prisão para o consumidor de drogas, 
pois, em sua opinião, "a despenalização foi uma experiência ruim". Ele 
argumenta que a Lei 11.343, de 2006,
 também conhecida como Lei de Drogas, ao acabar com a pena de prisão 
para os usuários, fez com que "familiares, educadores e o próprio Poder 
Judiciário ficassem de pés e mãos atados para internar o dependente:
 se ele quiser se tratar, arruma-se uma clínica, mas, se ele recusar o 
tratamento, nada se pode fazer além de assistir a sua autodestruição". 
De acordo com o senador, a medida seria ainda mais necessária frente ao 
crescente consumo de crack no país.
Apesar de concordar com a proposta de internação compulsória,
 Ana Amélia retirou do texto a possibilidade de prisão, "pois isso rompe
 com a lógica da Lei 11.343 e representaria a volta a um modelo centrado
 em medidas repressivas que se mostrou incapaz de responder 
adequadamente às necessidades de saúde dos dependentes químicos".
A
 senadora ressalta que há várias entidades contrárias à prisão dos 
usuários, como a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad, 
vinculada ao Ministério da Justiça), a área técnica do Ministério da 
Saúde que trata de saúde mental e o Escritório das Nações Unidas sobre 
Drogas e Crimes para o Brasil e o Cone Sul. Um dos argumentos dos que 
são contrários à medida é que ela pode afastar os viciados da busca por 
tratamento, justamente pelo receio de serem presos.
Apoio popular
Ao defender a internação compulsória,
 Ana Amélia cita a recente pesquisa do Datafolha segundo a qual 90% dos 
brasileiros são favoráveis à medida para adultos viciados em crack. Assim como Demóstenes, ela afirma que a internação compulsória é uma forma de garantir o tratamento do dependente químico, "já que este, como refém da droga, perde a condição de decidir e perde a própria vontade".
De acordo com o projeto, esse tipo de internação
 poderá ser determinado por um juiz, desde que a decisão esteja baseada 
em laudo elaborado por uma comissão técnica. Tal comissão seria formada 
por três profissionais de saúde com experiência no tratamento de 
dependência de drogas - e pelo menos um deles teria que ser médico. Além
 disso, Ana Amélia diz que a internação compulsória seria aplicada nos termos da Lei 10.216, de 2001, também conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica.
Multa
O
 projeto esteve na pauta de votações da Comissão de Assuntos Sociais na 
última quarta-feira (15), mas deixou de ser votado após Paulo Davim 
criticar a multa aos usuários prevista no relatório de Ana Amélia. Para 
Paulo Davim, que é médico, a multa pode se tornar "mais uma punição para
 as famílias de baixa renda que têm entre seus membros um dependente químico". Ao responder ao senador, Ana Amélia destacou que a ideia da multa lhe foi apresentada por psiquiatras especializados na área.
Waldemir
 Moka (PMDB-MS), outro senador com formação em medicina, concordou com 
Paulo Davim. Moka disse temer que "esses especialistas estejam atendendo
 uma camada que talvez não represente a realidade que nós vemos, 
sobretudo, no interior do país".
Com o impasse, Ana Amélia aceitou
 um pedido de vista coletivo para discutir a questão, o que adiou a 
votação da proposta. Se for aprovado pela CAS, o texto será então 
enviado à Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania do Senado (CCJ).
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