Estudo aponta abuso e dependência de álcool e drogas entre idosos

Estudo aponta abuso e dependência de álcool e drogas entre idosos


Revisão bibliográfica divulgada pelo Centro de Informações sobre Saúde e Álcool – CISA, organização não governamental que se destaca como uma das principais fontes no País sobre o tema, indica prevalência crescente de problemas decorrentes do uso de álcool e outras drogas entre idosos.

Este é um tema que vem preocupando os profissionais da área da saúde devido ao aumento observado no número de admissões em unidades de pronto-atendimento e busca por tratamento associados ao uso dessas substâncias. No entanto, faltam estudos científicos que avaliem esta questão de forma abrangente.

Dados epidemiológicos recentes e relevantes sobre uso dessas substâncias na terceira idade (acima de 60 anos) foram analisados por pesquisadores do Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP (NEP-IPqFMUSP), que publicaram uma revisão bibliográfica sobre o tema na revista Current Opinion in Psychiatry, na edição de julho de 2013.

Com relação ao padrão de consumo do álcool, o termo “uso nocivo” ou “de risco” é empregado para indicar um padrão de utilização que expõe o sujeito a maior propensão a prejuízos físicos e psicológicos. Para indivíduos com 65 anos ou mais, saudáveis, e que não estejam fazendo uso de medicamentos, o National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA)* recomenda que não bebam mais que 3 doses** por dia para evitar problemas, sendo que não se deve ultrapassar 7 doses por semana. Ademais, para a Sociedade Americana de Geriatria, o consumo de 5 ou mais doses de álcool em uma mesma ocasião é definido como “beber pesado episódico” (BPE).

De acordo com dados do National Surveys on Drug Use and Health (NSDUH 2005-2007), abuso/dependência de álcool e sintomas de dependência foram relatados por 11% dos adultos com idades entre 50 e 64 e quase 7% entre aqueles com mais de 65 anos. De 15,4% a 20% dos idosos norte-americanos relataram que fizeram uso de álcool no último ano, sendo que a grande maioria apresentou sintomas subsindrômicos de dependência (12% a 12,5%), ou seja, reportou quase todos os sintomas necessários para definir o transtorno. Entre estes sintomas, os mais relatados foram a tolerância (48%) – a necessidade de doses crescentes para atingir o mesmo efeito obtido com doses anteriormente inferiores ou efeito cada vez menor com uma mesma dose da substância –, e muito tempo é gasto em atividades necessárias para a obtenção do álcool e para recuperar-se de seus efeitos (37%).

O padrão de “beber de risco” foi mais prevalente entre idosos do sexo masculino, com co-ocorrência de um ou mais transtornos associados (por exemplo, depressão) e maiores chances de sofrer quedas ou acidentes decorrentes do uso de álcool. Por exemplo, mais de 8% dos idosos homens na Finlândia relataram consumir 5 ou mais doses de bebida no último ano, comportamento este compatível com BPE. Já na Ucrânia, o diagnóstico de abuso e dependência do álcool foi elevado entre homens com mais de 50 anos, embora não tenha sido significativamente associado à depressão.

No Brasil, os dados de uma pesquisa nacional*** são preocupantes: 12% dos entrevistados com mais de 60 anos foram classificados como bebedores pesados (consumo de mais de 7 doses por semana), 10,4% como bebedores pesados episódicos (considerado por este estudo como o consumo de mais de 3 doses em uma única ocasião) e quase 3% foram diagnosticados como dependentes.

Na revisão bibliográfica, verificou-se que o padrão BPE e os transtornos relacionados ao álcool (abuso e dependência) em idosos estão mais associados ao sexo masculino e ser economicamente desfavorecido. Em paralelo, as idosas representam um subgrupo que merece atenção específica, já que para elas a progressão do uso à dependência tende a ocorrer mais rapidamente e as consequências adversas iniciam-se mais precocemente. Além disso, as idosas estão especialmente mais propensas que os homens a utilizar medicamentos de prescrição como tranquilizantes, analgésicos, sedativos, estimulantes e antidepressivos.

Em suma, os autores enfatizam a necessidade de avaliar sistematicamente todos os idosos em relação ao uso de álcool e drogas de prescrição por meio de instrumentos simples de rastreamento nas consultas rotineiras. Para este grupo, pode ser necessário diminuir o limiar diagnóstico para detectar o uso nocivo de substâncias e implementar programas de tratamento consistentes com suas necessidades específicas. Como os dados sobre a prevalência crescente de uso de substâncias entre idosos se referem àqueles de países desenvolvidos, os autores recomendam análises transculturais para estimar a prevalência global, compreender a amplitude do problema e as diferenças entre regiões desenvolvidas e em desenvolvimento.

* Special Populations & Co-occurring disorders. National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism (NIAAA). Disponível em: http://www.niaaa.nih.gov/alcohol-health/special-populations-co-occurring-disorders/older-adults. Data do último acesso: 06/09/13.

** Dose: segundo o NIAAA, 1 dose contém aproximadamente 14 g de álcool puro, o equivalente a 1 lata de cerveja de 355 ml, 1 taça de vinho de 150 ml ou 1 dose de destilado de 45 ml.

*** Castro-Costa E, Ferri CP, Lima-Costa MF, Zaleski M, Pinsky I, Caetano R, Laranjeira R (2008). Alcohol consumption in late-life - the first Brazilian National Alcohol Survey (BNAS). Addict Behav, 33(12), 1598-1601.

Título do estudo - Epidemiology of alcohol and drug use in the elderly
Autores - Yuan-Pang Wang & Laura Helena Andrade
Fonte - Curr Opin Psychiatry, 2013

Autor - Analina Arouche
Fonte - SEGS


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