Uso, abuso e dependência de cocaína
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| Cocaína | 
Nem todos os  usuários de cocaína tornam-se dependentes da droga. Da mesma forma,  nenhum dependente de cocaína, ao iniciar o consumo, tinha a intenção de  se tornar dependente da substância. No entanto, não existe um limite  nítido entre o início do consumo, o uso continuado e o desenvolvimento  dos transtornos decorrentes do uso da droga (principalmente Abuso e  Síndrome de Dependência). A experimentação da cocaína se desenvolve  sempre em um meio (contexto) social definido, promovendo efeitos  estimulantes e euforia pronunciada. Nenhuma das conseqüências negativas  do consumo está presente (nos primeiros meses de consumo ocasional),  parecendo ao usuário iniciante que os avisos e informações que tinha  sobre a droga antes da primeira experiência, eram exagerados ou simples  "propaganda enganosa". Em busca dos efeitos inicias, o consumo da  cocaína continua; o sujeito passa a visitar outros usuários com mais  freqüência, dando-se a desculpa que "estes são verdadeiros amigos" por  compartilharem sensações e prazeres semelhantes, diferentes dos amigos  "caretas" de antigamente.
 
Pela  primeira vez acontece a compra da cocaína de um destes amigos e o  consumo se intensifica. Até este momento poucos efeitos negativos são  evidentes. A família nota alguma mudança, mas como o indivíduo mantém  (quase) todas as suas atividades anteriores (trabalho, estudo, pernoitar  em casa, etc.), a desconfiança muitas vezes não é revelada ao usuário;  este se sente ainda mais confiante, também pelas próprias  características da droga. Mais um período de consumo e entra em contato  com fornecedores de quantidades maiores, traficantes ou "aviões" (outros  usuários que mantém seu consumo por meio de comércio de pequenas  quantidades da droga). 
Descobre, então que quando adquire maior  quantidade ocorre um barateamento de seu consumo; compra grande  quantidade "para usar ao longo do mês"; infalivelmente consumindo em  período muito menor. Algumas conseqüências negativas já são evidentes,  mas sua importância é muito menor do que o prazer obtido pelo consumo da  substância. "Perco de um lado, mas ganho de outro", pensa o usuário, já  atrelado ao caminho determinado pela droga. 
Podem começar a ocorrer  episódios de consumo de grandes quantidades durante várias horas ou  poucos dias, as orgias de consumo ("binges" em inglês). Neste ponto suas  atividades e atribuições anteriores ao consumo já sofrem de negligência  importante, contribuindo ainda mais para o retorno ao consumo. A situação tem a gravidade intensificada e o usuário muito se assemelha  ao camundongo de laboratório que fornece aos pesquisadores inúmeras  informações sobre as drogas de abuso, passando a consumir  compulsivamente a despeito das evidências claras de prejuízos sobre sua  vida e daqueles que o cercam. Neste ponto qualquer pessoa identifica o  dependente de cocaína. 
O tratamento tem como objetivo interromper o  consumo, restaurar suas conseqüências e mudar o estilo de vida do  indivíduo, que facilita o retorno ao uso. O fator mais relevante  deste pequeno exemplo, de um dos padrões de consumo que evolui para a  Síndrome de Dependência, é que o indivíduo não necessita chegar a este  estado terminal para ser considerado dependente. Qualquer pessoa (não  dependente) concorda que muito antes disto, o indivíduo perdeu a sua  capacidade de controlar o consumo de cocaína. A perda deste controle  parece ser o fato central do estabelecimento do estado de dependência; a  cocaína passa a controlar o indivíduo, e não o contrário, que ocorreu  no momento da experimentação inicial.Quanto mais cedo se detecta a  dependência maior o sucesso que intervenções terapêuticas podem obter. 
Com este último conceito como foco tanto a Organização Mundial de Saúde  (OMS), como a Associação Psiquiátrica Norte-americana (APA), estabelecem  critérios que direcionam o diagnóstico da Síndrome da Dependência, com o  intuito de diagnosticar precocemente este Transtorno com enorme custo  social.
Conforme  descrito acima, a Dependência é uma Síndrome, cujos sintomas se  manifestam em áreas de funcionamento social, psicológica e biológica do  indivíduo e estes critérios privilegiam estas áreas de impacto. 
 Critérios diagnósticos da Síndrome de Dependência
Síndrome de Dependência – diretrizes diagnósticas
 
Um  diagnóstico definitivo de dependência deve usualmente ser feito somente  se três ou mais
 dos seguintes requisitos tenham sido experienciados ou  exibidos em algum momento durante o ano anterior: 
- Forte desejo ou compulsão para consumir a substância; 
 
- Dificuldade para controlar o comportamento de consumir a substância, em termos de seu início, término ou níveis de consumo; 
 
- Estado de Abstinência fisiológico quando o consumo da substância cessou ou foi reduzido, como evidenciado por:
 
-  Sintomas característicos para a abstinência da substância 
 
- Retorno ao uso da substância (ou similar) para alívio ou evitação destes sintomas 
 
- Evidência de Tolerância, de  tal forma que doses crescentes da substância são requeridas para  alcançar efeitos originalmente produzidos por doses mais baixas. Se o  indivíduo mantém a dose estável, outra forma de verificar a presença  deste critério é a redução dos efeitos da substância; 
 
- Abandono progressivo de  prazeres ou interesses alternativos em favor do uso da substância,  aumento da quantidade de tempo necessário para obter ou tomar a  substância ou ainda para se recuperar de seus efeitos 
 
- Persistência no uso da substância, a despeito de evidências claras de conseqüências manifestamente nocivas. 
 
(OMS, 1993)
 
O  Abuso da cocaína é um transtorno com diagnóstico de exclusão, ou seja,  só pode ser diagnosticado quando a dependência não se encontra presente.  Este diagnóstico, descrito pela APA (Associação Psiquiátrica  Norte-americana), focaliza fundamentalmente o consumo problemático e  recorrente da cocaína, ou seja, o indivíduo que passa a ter  comprometimentos sociais, médicos, psicológicos ou legais e mesmo assim  mantém seu uso por período mínimo de um ano (12 meses), mesmo não sendo  dependente (por não apresentar os sintomas descritos para a dependência  da cocaína, descritos acima).
Esta pessoa geralmente tem um menor  impacto da droga sobre sua vida (representado por conseqüências  geralmente mais brandas do que na dependência), porém caso não seja  submetido ao mesmo tratamento que o dependente terá (quase que)  infalivelmente o destino da Síndrome de Dependência. Por ter,  teoricamente, menores conseqüências negativas, pode-se considerar o  Abuso de cocaína como um transtorno que tem a possibilidade de obtenção  de melhores resultados terapêuticos do que a Dependência.  
Formas de consumo da cocaína  - a droga e seus derivados
  
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| Crack - Derivado da pasta base de cocaína ou da cocaína em pó | 
Embora  o termo "Crack" venha sendo veiculado há pouco mais de 15 anos, a  história do consumo dos produtos da cocaína é bastante antiga. Relatos  sobre o uso das folhas do Arbusto Erythroxylon, natural da América do  Sul, mais especificamente encontrado na região Amazônica, são  encontrados em tribos peruanas 2000 anos antes do descobrimento de nosso  continente. A folha mascada libera baixas doses de cocaína, substância  ativa da planta, que promove todos os seus efeitos. 
O uso, porém, era  controlado, associado exclusivamente aos propósitos religiosos,  ocupacionais ou como prerrogativa da mais alta casta deste povo. Esta  forma de uso se manteve até a civilização Inca, mesmo quando da chegada  dos espanhóis, que logo verificaram suas propriedades de estímulo na  exploração do ouro da Terra Nova. Contudo a tentativa de transporte da  planta para a Europa, naquela época, destruía a substância ativa contida  nas folhas, perdendo todos os seus efeitos estimulantes. Esta razão foi  responsável pelo esquecimento da substância nas publicações européias  dos séculos seguintes, até que na metade do século passado foi  conseguida a extração da substância pura, a cocaína, em forma de pó.
 
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| Consumo na forma aspirada | 
A  apresentação aspirada produzia um efeito muito maior do que o observado  na mascagem das folhas, tornando-se coqueluche no final do século  passado no Velho Continente – a primeira epidemia de consumo da coca. Ao  mesmo tempo a medicina inventava um método novíssimo para administração  de remédios, a injeção. Assim, as principais formas de consumo na  virada do século eram intranasal e intravenosa. (Nota Mais 24 Hrs -  Na sua forma de consumo via intravenosa, vale destacar o perigo de  contração de doenças como hepatite C, AIDS, e infecções, provocadas por  seringas não esterelizadas, e pelo sangue coagulado, devido a  perfurações mal sucedidas, disto, vale salientar que podem advir  inclusive amputação de membro (braço), ou infecção generalizada, choque,  e quadros de consequência ao sistema cardíaco)
 Em  seguida, porém, a sociedade foi obrigada a se confrontar com um imenso  rol de complicações e conseqüências desastrosas do consumo de cocaína e  em 1914 a cocaína passava a ser proibida tanto nas Américas como na  Europa. A sociedade moderna tomava consciência, pela primeira vez, do  potencial destrutivo desta droga.
  
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| Cocaína usada na forma injetável/intravenosa | 
De  uma forma extremamente interessante, a proibição surtiu efeitos  importantes e o uso da cocaína praticamente desapareceu por pouco mais  de meio século. A cocaína ressurge no início da década de 1970 e  surpreendentemente, ganha a reputação de droga segura e "light", a  "vitamina dos anos 90". O resultado disto foi a explosão do consumo na  América do norte, atingindo seu pico em 1985 nos Estados Unidos da  América e cinco anos mais tarde em nosso país. O Brasil passa a ser  reconhecido como uma das principais vias de exportação da droga,  principalmente para a Europa.
  
Em  meados da década passada a sociedade teve contato com o "crack".  Denominado de "pedra" pelos usuários em nosso meio, é consumido por  "via" fumada. A pedra unitária tem preço mais acessível, promovendo a  impressão que o usuário economiza quando troca o consumo do pó pela  pedra. Grande ilusão: a "pedra" tem quantidade mínima de substância  ativa, muito menor do que o pó; seus efeitos, porém são mais  pronunciados pela liberação da cocaína diretamente na corrente sangüínea  através dos pulmões. Reputado como "uma nova droga" o crack não passa  de um novo método de consumo de uma droga muito antiga. 
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| Merla - Derivado da pasta base de cocaína  | 
Próximo às áreas  de produção, entretanto, uma outra forma de fumar a cocaína, há muito  era utilizada: a pasta-base. Esta é uma mistura das folhas com solventes  químicos, que apresenta enorme toxicidade (40% de impurezas). Uma outra  forma de fumar a cocaína é conhecida em várias regiões do Brasil com o  nome de Méla ou Merla. Esta é mais tóxica ainda que a pasta base, sendo  que as complicações médicas são ainda mais precoces no curso do uso da  cocaína. Outra forma ainda que o organismo absorve a cocaína é através  de mucosas. As complicações médicas deste consumo são imprevisíveis e  freqüentemente letais.
  
No  processo de produção da droga, éter, acetona, querosene, ácido  sulfúrico, ácido clorídrico, amoníaco são usados, contribuindo para a  toxicidade da droga. Outras substâncias igualmente tóxicas (gasolina,  talco, etc.) freqüentemente são acrescidas à cocaína já produzida, com a  finalidade de aumentar o lucro do tráfico. Mudam os processos de  produção, as vias de utilização e os produtos finais, porém em comum a  todas encontramos a mesma substância ativa: a cocaína.
 
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| Oxi - Derivado da pasta base de cocaína | 
Também  em comum às diversas formas de consumo temos a Dependência, o uso  compulsivo, as complicações em várias áreas de funcionamento do  consumidor (família, saúde, ocupação, entre outras), o imenso custo  social e de saúde (estimado em até 300 bilhões de dólares  norte-americanos por ano, apenas nos EUA), a criminalidade e enfim, a  morte.
  
Utilizaremos,  nesta publicação o termo cocaína abrangendo todas as formas de consumo  citadas acima, não exclusivamente ao consumo do pó. Vale ressaltar que  muitos usuários relatam mais de uma via de administração da droga,  freqüentemente citada como: "a que estiver disponível, consumimos".  Acrescentaremos, sempre que necessário, as características que diferem  as formas nos tópicos abordados. 
Quais os efeitos imediatos (agudos) do uso da cocaína?  
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| Rompimento do palato pelo uso de cocaína | 
O  consumo intranasal de cocaína produz seus efeitos entre 1 e 2 minutos  após o uso, tendo duração de 30 minutos, em média. Tanto o uso  endovenoso como o fumado, produzem efeitos quase imediatos, porém estes  se dissipam mais rapidamente (até 10 minutos), muitas vezes obrigando o  indivíduo a voltar a utilizar a droga após 5 minutos. Os metabólitos  (produtos ou "restos" do uso da substância ativa) podem ser detectados  alguns minutos após poucas aspirações (ou injeção), permanecendo por até  três dias.
  
O  efeito imediato esperado pelo consumidor é a euforia produzida pela  cocaína. Conjuntamente com a estimulação produzida, dá a falsa sensação  ao indivíduo de aumento de suas capacidades físicas, intelectuais e  energia. Diminui o apetite e a necessidade de sono, o indivíduo fica  mais ansioso e às vezes passa a suspeitar que está sendo observado ou  perseguido. Usuários contam que a sensação do tato torna-se mais  intensa, bem como a disposição para manter relações sexuais. A cocaína  pode promover até ejaculação espontânea, dependendo da dose e da via  utilizada. Este efeito repetido, porém, tem como conseqüência, em muitos  usuários, a perda da capacidade de obter prazer sexual convencional,  que se mantém por meses após a interrupção do consumo da droga.
 
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| Infográfico | 
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A euforia se  transforma rapidamente em depressão e irritabilidade, aumentando a  necessidade de voltar a acender o cachimbo ou "esticar" mais uma  fileira. O sujeito passa a ter uma autoconfiança irreal, podendo ainda  apresentar alucinações (auditivas e visuais) e delírios de perseguição,  indistinguíveis da patologia psiquiátrica (ex. Esquizofrenia). Sintomas  físicos do consumo são observados: aumento da pressão arterial, aumento  da freqüência dos batimentos cardíacos, constrição dos vasos sangüíneos  (desaparecimento de veias), aumento da temperatura corpórea, liberação  de açúcar no sangue, e aumento da força da contração do músculo  cardíaco. 
A droga tem a capacidade de promover anestesia local, fato que  motivou sua utilização médica no século XIX. A cocaína possibilitou, de  fato, a primeira cirurgia oftálmica – como conseqüência indireta deste  fato, o primeiro oftalmologista a realizar esta cirurgia tornou-se  dependente da droga, interrompendo precocemente sua carreira  profissional. Devido aos riscos da droga e ao desenvolvimento de outros  anestésicos seguros, tal utilização foi completamente banida da Medicina  até 1914. Quando os efeitos da droga dissipam, o usuário conta que  apresenta sintomas contrários (depressão, angústia, etc.) , levando-o ao  desespero por uma nova dose ("fissura" – característica mais  proeminente de todas as formas de consumo da cocaína).  
 Quais as conseqüências do uso continuado (crônico) da cocaína?
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| Paranoia causada pela cocaína | 
Se  os efeitos agudos da cocaína já são perigosos, os efeitos e  conseqüências do uso continuado são letais. Suas conseqüências são quase  sempre desastrosas sobre a vida do usuário, promovendo prejuízos em  suas mais diversas áreas de funcionamento. Depressão intensa com risco  de suicídio, desmotivação, sonolência, irritabilidade crônica, episódios  paroxísticos de ansiedade (ataques de pânico) e finalmente psicose  paranóide (O indivíduo tem certeza que está sendo perseguido, mesmo  confrontado com a inexistência de indícios reais) são os efeitos  psíquicos mais observados na utilização crônica da droga. As  complicações médicas são destacadas no próximo capítulo. Se antes do uso  o indivíduo já apresentar sintomas depressivos, estes se tornam mais  severos ainda, resultando ocasionalmente em tentativas de suicídio.
  
Separação  conjugal, abandono de atividades ocupacionais (ex. perda de emprego),  incapacidade de cumprimento de obrigações sociais, dependência  financeira ou engajamento em atividades criminais são descritos por  muitos usuários "crônicos".
 
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| Possíveis danos cocaína - Hemorragia nasal | 
Aos efeitos crônicos associam-se os  efeitos potencialmente letais da droga. O uso de cocaína é a principal  causa de infarto agudo de miocárdio em jovens (até 40 anos) nos EUA. A  cocaína altera o ritmo elétrico cardíaco, produzindo arritmias, que  podem ser visualizadas no eletrocardiograma. O aumento da pressão  arterial descrito no capítulo anterior contribui para a ocorrência de  hemorragias (sangramentos) em diversas partes do corpo, inclusive no  cérebro, possibilitando a ocorrência de acidentes vasculares cerebrais  (conhecidos como "derrame"). O aumento de temperatura corpórea pode  atingir mais de 42º, provocando a morte por hipertermia. Doses maiores  estão relacionadas com parada respiratória.  
Uma  das conseqüências mais importantes do consumo da cocaína é o surgimento  de convulsões. A cocaína é um potente facilitador da ocorrência de  convulsões de todos os tipos, principalmente tônico-clônicas  (indistinguíveis daquelas da epilepsia). Em animais de laboratório  (geralmente ratos e macacos) "tratados" com cocaína, observamos mortes  por convulsões (acompanhados de inanição e exaustão) após 17 dias de  consumo da droga. Imagina-se que caso o ser humano tivesse acesso  irrestrito à droga, o resultado seria muito semelhante.  
Complicações médicas do consumo de cocaína (crack, merla, óxi)
Podemos dividir as complicações associadas à droga em:
Complicações médicas do consumo de cocaína: 
- Decorrentes dos efeitos próprios da droga: complicações médicas e psiquiátricas 
 
- Decorrentes das substâncias adicionadas à cocaína (adulterantes) 
 
- Decorrentes da via de consumo utilizada 
 
- Decorrentes do estilo de vida do usuário de cocaína 
 
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| Usuário de crack | 
As  conseqüências médicas do consumo vão desde um ligeiro sangramento nasal  após um uso isolado, até comprometimentos irrecuperáveis e morte, como  enfatizado no capítulo anterior. Alguns dos mais dramáticos  comprometimentos da cocaína ocorrem sobre o Sistema Cárdio-respiratório.  Angina de peito, infarto agudo do miocárdio e aumento do volume  cardíaco são os efeitos mais proeminentes observados sobre o coração.  Usuários crônicos apresentam capacidade respiratória reduzida e maior  dificuldade de transporte de oxigênio. Um quadro agudo relatado por  usuários por via fumada é conhecido como "Pulmão de crack": dor intensa  no peito, falta de ar e tosse sanguinolenta. Freqüentemente o indivíduo  se queixa de impotência sexual, incapacidade de ejaculação ou de obter o  orgasmo. Diminuição do desejo sexual é observada em usuários crônicos  de ambos os sexos. Tentativas de suicídio são comuns entre usuários de  grandes doses. As oscilações entre a euforia produzida pelos efeitos da  droga e a depressão posterior estão relacionadas às tentativas, bem como  o próprio estilo de vida do indivíduo.
 
As complicações pela via de  consumo ocorrem em conjunto com as complicações pela via de consumo  preferencial. As mais comuns são infecções de pele (injeções  contaminadas), infecção na válvula cardíaca, AIDS e Hepatite. A pele  infectada se apresenta inchada, dolorida, avermelhada e quente; quando  presentes febre e calafrios podem ser indicativo que a infecção atingiu o  sangue e/ou outros órgãos (Sepsis). Esta é uma conseqüência letal se o  indivíduo não se apresentar para tratamento imediato. O uso por via  intravenosa transmite infecções de um usuário para outro, sendo as mais  dramáticas a Hepatite por vírus e a Síndrome de Imunodeficiência  Adquirida (AIDS). 
  As lesões no fígado podem ter ainda causas tóxicas, pelas substâncias  adicionadas, somando-se aos efeitos do álcool que é consumido  conjuntamente à cocaína.
 
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| Possíveis danos cocaína - Endocardite bacteriana | 
Endocardite  bacteriana é a denominação médica para a infecção sobre as válvulas  cardíacas. Bactérias encontradas na própria pele do usuário ou na água  utilizada para diluir a droga, são injetadas conjuntamente à coca e  encontram dentro do coração um local seguro para se instalar e  reproduzir. As válvulas cardíacas passam a ter funcionamento  prejudicado, com dificuldades para deixar passar o fluxo de sangue ou  ainda não conseguindo evitar que o sangue bombeado pelo coração reflua.  Ao exame físico são ouvidos sopros cardíacos e a ultra-sonografia  (Ecocardiografia) comprova o diagnóstico. A condição deve ser prescrita  com antibióticos por períodos longos, e mesmo quando tratada  adequadamente pode necessitar cirurgia cardíaca para reposição da  válvula acometida.
O estilo de vida do usuário crônico  predispõe a complicações de outra ordem. É mais comum que o usuário  crônico de cocaína também utilize álcool e outras drogas, podendo  desenvolver dependência a estas. Dependência de mais de uma substância  representa potencialização dos efeitos danosos de cada uma. O usuário  crônico usualmente se engaja em atividades ilícitas (criminais) para  obtenção da droga e manutenção do consumo. O envolvimento criminal, por  sua vez, resulta muitas vezes em acidentes e homicídios, que podem ser  considerados também como complicações médicas do consumo da droga, além  de suicídio, citado anteriormente. 
 
Cocaína e mulheres
Até  pouco tempo atrás, pensava-se que todos os dependentes eram iguais e  assim formariam um grupo homogêneo. Somente nos últimos 25 anos os  serviços de tratamento perceberam a necessidade de identificar subgrupos  de dependentes, com a finalidade de ajustar as propostas terapêuticas  para cada subgrupo.
 
Com  o aumento da procura de tratamento por pacientes do sexo feminino foram  verificadas características diferenciais, próprias desta população. O  consumo de álcool e drogas em mulheres carrega um estigma social e moral  mais intenso, as mulheres costumam procurar tratamentos médicos  clínicos gerais ao invés de serviços especializados em tratamento de  dependência química, suas razões para início e manutenção do consumo são  diferentes (p.ex. os homens costumam consumir com amigos e a mulher,  sozinha), bem como o impacto das drogas sobre sua saúde.
Também é  mais freqüente encontrarmos co-morbidade psiquiátrica (associação de  transtornos psiquiátricos, principalmente Depressão, com Abuso e  Síndrome de Dependência) em mulheres do que na população dependente  masculina, demandando tratamento associado de ambos os quadros clínicos.  O organismo da mulher parece mais frágil ao impacto da cocaína, com  maiores alterações hormonais, que acarretam desde produção de leite até  ausência dos ciclos menstruais.
As  complicações clínicas costumam ser também precoces, sendo de  fundamental importância (e gravidade) a associação de gravidez com o  consumo de cocaína. A cocaína atravessa rapidamente a placenta,  exercendo todos os seus efeitos físicos sobre o feto (hipertensão,  constrição de vasos sangüíneos), levando à falta de oxigenação e  suprimento de sangue adequado. Recém-nascidos de gestantes consumidoras  apresentam diversas complicações que incluem baixo peso ao nascimento,  morte logo após o parto, malformações (genitais, urinárias, redução do  tamanho do cérebro, entre outras), hemorragia cerebral, alterações de  padrão de sono, diminuição de alimentação, aumento de reflexos e  disfunções musculares. 
Estas últimas podem durar até 2,5 meses após o  parto. Uma parcela das mulheres dependentes de cocaína se engaja em  prostituição como forma de obtenção de droga. O inverso também parece  ser verdadeiro, havendo uma alta prevalência de prostitutas que consomem  cocaína, álcool e outras drogas. Problemas relacionados à  impulsividade, dificuldades interpessoais e dificuldade no julgamento  foram associadas às dependentes de cocaína. Porém não se conseguiu  definir se estas características eram anteriores ou conseqüências do  consumo da droga.
 
Algumas considerações adicionais, relativas ao  tratamento de mulheres dependentes, devem ser enfatizadas, com a  finalidade de possibilitar melhores resultados terapêuticos: 
Prover  possibilidade de cuidados para os filhos, no mínimo durante os momentos  que a paciente se encontra em contato com o serviço de tratamento. 
Identificar  rapidamente padrões de consumo compulsivo (ou Abuso/Dependência) de  medicações prescritas, que dificultam o engajamento da paciente no  processo de recuperação e mudança do estilo de vida (por exemplo,  "calmantes"). 
Treinamento intensivo de auto-estima, geralmente mais abalada do que na população dependente do sexo masculino. 
Modelagem dos papéis sociais da mulher (por exemplo, familiar e ocupacional).  
Cocaína entre adolescentes
O  período que abrange o final da adolescência até o início da idade  adulta é a fase da vida em que existe maior risco para o início do uso  de cocaína. A adolescência é considerada uma fase crítica da vida do  indivíduo, onde ocorrem diversas modificações internas (características  da personalidade) e externas, como por exemplo, o surgimento de  caracteres sexuais secundários. O indivíduo se afasta dos pais e  aproxima-se de colegas e amigos, fazendo uso da "liberdade" conquistada  (de forma gradativa ou abrupta). Esta fase também é reconhecida como  tendo um grande componente de ansiedade e estresse. O adolescente  apresenta também uma tendência natural para o envolvimento em situações  de risco. A dificuldade na previsão de conseqüências no futuro  (prospecção) faz que o indivíduo jovem viva exclusivamente o "aqui e  agora". Estes fatores parecem contribuir para a experimentação de álcool  e drogas, particularmente a cocaína em nosso meio.
 
O indivíduo jovem  busca, então, ser admitido em um grupo social de "iguais", o que inclui  a aquisição dos comportamentos deste grupo, e a experimentação de  álcool e drogas geralmente consiste em um dos principais comportamentos.  A cocaína ocupa a 8ª posição entre as drogas de abuso no Brasil, tendo  seu consumo quadruplicado nesta população entre 1987 e 1997 (0,5% para  2% entre estudantes de 1º e 2º graus). O mesmo levantamento aponta o  crescimento do consumo ao longo da vida, bem como o aumento de usuários  "pesados" nesta população em 8 entre 10 capitais pesquisadas, sendo que  as taxas de uso freqüente aumentaram em 6 cidades pesquisadas. Entre  1993 e 1997 o crescimento do uso durante algum momento na vida do  estudante de primeiro e segundo grau foi da ordem de 80%, indicando a  importância do problema do consumo dessa droga entre adolescentes  (Galduróz, J.C.F.; Noto, A.R.; Carlini, E.A.).
  Entre os adolescentes em tratamento no Hospital de Clínicas em São  Paulo, a cocaína é a segunda droga mais consumida, perdendo apenas para a  maconha (Scivoletto, S.; Andrade, E.R.).
 
A  adolescência é considerada como um período crítico para o surgimento de  complicações pelo consumo de substâncias psicoativas. Adolescentes tem  progressão mais rápida do consumo e de seus resultados danosos. Os  prejuízos que o consumo acarreta levam a conseqüências de difícil  reversão: interrupção do desenvolvimento da personalidade, resultando em  deficiências futuras do funcionamento do indivíduo. O consumo afeta  ainda o desenvolvimento das funções sociais do sujeito, bem como o  estabelecimento de relações interpessoais (p.ex. afetivas). Este quadro  apresentado acima torna o consumo de álcool e drogas nesta população um  problema ainda mais catastrófico do que o observado em indivíduos na  fase adulta. O tratamento, portanto, deve ter início o quanto antes.
 
O  tratamento deve ter a orientação para a abstinência total e de todas as  drogas (e álcool), da mesma forma que deve ocorrer na população adulta.  Porém esta tarefa é muito mais difícil para o adolescente, pelo fato do  adolescente não dispor, ainda, de um sistema de suporte social  (trabalho, relações afetivas, etc.). A família constitui a única  exceção. Outro problema adicional para os adolescentes é representado  pelo modelo assistencial, que vem sendo desenvolvido neste século  voltado à população adulta. Isto resulta em dificuldades intrínsecas  para a obtenção de sucesso terapêutico. Adolescentes dependentes têm,  por exemplo, poucas (ou nenhuma) atividades alternativas ao consumo de  álcool e drogas, e inúmeras vezes só tem relacionamentos com outros  usuários, traficantes e dependentes. Piorando ainda mais a situação, o  engajamento em micro-tráfico ("avião") é uma das maneiras freqüentes de  obtenção da droga.
 
Os objetivos terapêuticos do tratamento da  população de adultos jovens devem incluir proposta de mudança global do  funcionamento do indivíduo e de seu estilo de vida, desenvolvimento de  valores "saudáveis", atitudes e comportamentos que propiciem a interação  social positiva e esforço para a reabilitação ocupacional (escola,  preparação vocacional, etc.), de forma ainda mais intensiva que para a  população adulta.
Muitos usuários começam a utilizar cocaína durante o  período acadêmico, e uma parcela deste grupo passa a consumir a droga  também em outras situações, mantendo e agravando o consumo da cocaína,  propiciando as condições ideais para o desenvolvimento da Dependência.  Um corolário dos aspectos apresentados neste capítulo é o uso de drogas  entre estudantes universitários, que se encontram na fase de vida  imediatamente posterior à adolescência. Este aspecto é de extrema  importância, uma vez que os universitários irão a futuro breve,  constituir a massa crítica da nação. Em nosso país a situação também  merece cuidados especiais; estudo realizado na Universidade de São Paulo  detectou taxas de até 8% de consumo de cocaína na população estudante  (Andrade, A.G.; Queiroz, S.; Villaboim, R.M.C.).
 
A melhor abordagem  do problema, apresentando também a melhor relação custo-benefício  possível é a prevenção ao abuso de drogas. Prevenir significa  desenvolver programas junto às comunidades (em geral), pesquisando as  características próprias cada uma delas e, de acordo com suas  particularidades, elaborar estratégias para evitar tanto o início do  consumo como o caminho rumo aos transtornos decorrentes das substâncias  psicoativas (abuso e dependência), incluindo da cocaína. Estes programas  há muito já se fazem necessários para a efetiva abordagem do problema  do consumo de drogas entre adolescentes. 
Cocaína e a família
Familiares  compartilham genes que podem contribuir para o abuso de drogas. Isto é  verificado na dependência do álcool, quando se observa que gêmeos  separados ao nascimento têm grande concordância no diagnóstico de  Dependência de álcool quando atingem a adolescência ou a idade adulta.  Por outro lado, familiares também compartilham o mesmo meio ambiente,  cultura e eventos vitais, havendo a possibilidade da aprendizagem de  comportamentos, inclusive de consumo de álcool e drogas.  
 
A  Dependência de substâncias psicoativas é definida como um transtorno  individual. Muitos especialistas aceitam, porém, o conceito da  dependência como doença familiar, por atingir diretamente não só o  usuário, mas aqueles que o cercam. As reações familiares à dependência  na família abrangem um enorme leque que vai desde a expulsão de casa até  a aceitação do consumo dentro do ambiente familiar. Costumamos  denominar este último de "FACILITAÇÃO" (favorecimento de comportamentos e  atitudes relativos ao consumo de drogas), que sempre acarreta  conseqüências desastrosas. Embora compreensível, aceitar que o familiar  utilize qualquer tipo de drogas dentro de casa (geralmente para evitar  as complicações legais) estimula os múltiplos comportamentos  relacionados à intensificação do consumo, aceleração do desenvolvimento  da dependência, dificuldade de trazer o indivíduo para o tratamento e  ocorrência de complicações precoces (médicas, psicológicas e sociais). 
Entre os principais exemplos de facilitação encontram-se a liberdade  excessiva, a preocupação em ocultar as falhas que o usuário apresenta  (desculpas para a escola, trabalho, etc.), falta de limites (dinheiro,  horários, aceitação de agressividade) ou mesmo "fechar os olhos" para as  demais conseqüências que o usuário passa a apresentar quando se torna  abusador ou dependente. 
A  família necessita participar ativamente do tratamento e do processo de  recuperação do dependente, como núcleo de suporte fundamental do  indivíduo. Esta tarefa, porém, não é nada fácil, dados os prejuízos  sofridos pelos familiares durante o curso da dependência do álcool e/ou  drogas (agressões, furtos domésticos, doenças do paciente, etc.). Para  tanto, paralelamente ao tratamento individual, uma intervenção  terapêutica familiar é sempre aconselhável.
Intervenções familiares no tratamento da Dependência  
MODELOS DE TERAPÊUTICA FAMILIAR 
NÍVEL DE INTERVENÇÃO 
OBJETIVOS 
Orientação familiar  
 
Orientar os familiares da filosofia e abordagens do tratamento individual 
Informar a família sobre o programa terapêutico e a inclusão do paciente e solicitar suporte familiar 
Grupos psico-educacionais de familiares  
 
Orientação sobre aspectos vivenciais (funcionamento familiar) com ênfase em aspectos do consumo e da dependência 
Informar familiares se aspectos de relações pessoais e como estas são relevantes no abuso e dependência de substâncias 
 
Aconselhamento familiar  
 
Contrato  de tratamento familiar com o objetivo de resolução de problemas  familiares específicos identificados no tratamento do dependente. 
Auxiliar  na solução de problemas identificados pelos integrantes da família que  sejam relacionados ao consumo de drogas e/ou álcool 
 
Terapia familiar  
 
Contrato terapêutico com a família para intervenções com o objetivo de tratar disfunções crônicas e sistêmicas. 
Abordar  e procurar modificar áreas de comprometimento familiar (sistema),  relacionando-as à dependência de substâncias psicoativas 
 
Nar-Anon  (Grupo para familiares/codependentes de Narcóticos Anônimos)
Grupo de autoajuda com enfoque familiar 
 
Não é considerado tratamento, porém possibilita compartilhar experiências com outras famílias de dependentes. 
Tratamento para indivíduos com abuso ou dependência de cocaína e crack
 
A  dependência de cocaína é um transtorno passível de tratamento, ao  contrário do que muitas pessoas pensam. Porém é certo que nenhum modelo  de tratamento pode ser considerado eficaz para todos os pacientes.  Indivíduos que desenvolvem Dependência de cocaína possuem diferentes  características e necessidades. Estudos apontam uma boa relação  custo-benefício do tratamento; o resultado mais comum dos diversos  tratamentos é a redução do consumo nos anos posteriores, bem como a  diminuição das atividades ilegais e do comportamento criminal do  dependente. O tratamento, porém, necessita ser entendido como um  processo contínuo, assim como modelos médicos utilizados em doenças  crônicas, como Diabetes e hipertensão arterial. Nem todos os usuários  necessitam de tratamento; muitos interrompem definitivamente o consumo  após o surgimento dos primeiros prejuízos. Outros, todavia, continuam a  usar a cocaína apesar das conseqüências evidentes que passam a  apresentar. 
A necessidade do tratamento é muitas vezes determinada pelo  envolvimento obsessivo do sujeito com a droga que passa a prejudicar os  demais aspectos de sua vida.
O processo terapêutico inicia com  medidas para trazer o paciente para os serviços de assistência. O  dependente não procura tratamento por achar que está usando droga  demasiadamente, mas sempre frente a "situações de crise", geralmente  envolvendo trabalho, família, situação financeira, problemas legais,  emergências médicas e rompimento de relacionamento afetivo. Uma forma de  promover o acesso do indivíduo a tratamento é interromper a  "FACILITAÇÃO" familiar, conforme discutido no capítulo anterior. No  momento do ingresso ao tratamento, quase sempre o paciente tem a ilusão  de poder retornar ao uso controlado da cocaína ("dar um tempo"). 
Esta  ocorrência é impossível, pois uma vez cruzada a linha invisível da  dependência, a capacidade de retorno a consumo ocasional ou controlado é  definitivamente perdida (Washton, 1991). Muitas vezes o paciente demora  meses ou anos, com inúmeras recaídas e aumento dos prejuízos, até que  se conscientize deste fato.
Qualquer modelo de tratamento para a  dependência da cocaína deve incluir alguns aspectos básicos,  fundamentais para a obtenção de resultados positivos. A abstinência deve  ser não somente da cocaína, mas de todas as drogas de abuso, primeiro e  principal objetivo do processo terapêutico. Tanto o álcool como outras  drogas deflagram "fissuras", mesmo meses (ou anos) após a interrupção da  cocaína; como citado acima, o consumo tem um efeito desinibitório sobre  o consumo de outras drogas (reduz a capacidade de evitar o consumo),  aumentando ainda a impulsividade do paciente.
 
Aspectos  psico-educacionais, tanto sobre a cocaína, álcool e outras drogas, como  sobre a própria dependência devem sempre ser incluídos em qualquer  modalidade terapêutica empregada. Este componente auxilia o paciente a  compreender e aceitar a própria dependência. Deve incluir aspectos  farmacológicos, princípios básicos da doença, sinais de recaída e formas  de preveni-las, as conseqüências bio-psicossociais da dependência,  aspectos familiares, capacitação e co-dependência (p.ex. cônjuge do  dependente). O envolvimento familiar é fundamental. Outras medidas que  costumam ser incluídas no processo são: terapia individual e familiar,  participação de grupos de auto-ajuda, busca de atividades alternativas  ao consumo de substâncias psicoativas, cuidados médicos, nutricionais e  dentários, análises toxicológicas, intervenção farmacológica prescrita  por profissional afeito às características da dependência e tratamento  em regime de internação (hospitalar e comunidades terapêuticas). Quanto  mais abrangente e completo o programa terapêutico, maior a chance de  recuperação.
 
A  internação do dependente, ao contrário do que se acreditava  antigamente, não é solução para todos os pacientes. Ao contrário, os  estudos científicos realizados nas últimas décadas não comprovam nenhuma  vantagem de um método hospitalar em relação a ambulatório para toda a  população de dependentes que buscam, ou são levados para o tratamento.  Pelo contrário, a internação é melhor entendida como um método de  promoção de abstinência, apenas uma parte da recuperação do indivíduo,  devendo SEMPRE ser associada a seguimento ambulatorial posterior. 
O  tratamento em ambulatório, de fato apresenta algumas vantagens sobre a  internação, por ser menos custoso (possibilita ao serviço o tratamento  de um maior número de dependentes), causar menor interrupção na vida do  indivíduo (muito dependentes que procuram tratamento, por exemplo,  continuam a manter atividades sociais e ocupacionais importantes,  auxiliando na manutenção de toda sua família). A internação carrega  também um estigma social importante, que é delegado ao indivíduo. O  dependente aceita, mais facilmente o tratamento ambulatorial e este  modelo busca que o paciente lide com sua compulsão em seu "mundo real"  (ao qual irá retornar muitas vezes despreparado após período de  internação). Por outro lado, existem algumas indicações importantes de  internação, apresentadas na tabela abaixo:
Indicações de internação para dependentes
PRINCIPAIS INDICAÇÕES DE INTERNAÇÃO PARA DEPENDENTES  
- Risco de suicídio, agressividade física importante, quadro psicótico 
 
- Doenças médicas ou psiquiátricas associadas que indiquem internação (infarto de miocárdio, convulsões, etc.) 
 
- Intensa disfunção de vida do  dependente ou incapacidade de lidar com tarefas básicas de sua própria  rotina (cuidados pessoais, alimentação, etc.) 
 
- Dependência associada de substâncias que requerem tratamento hospitalar (abstinência de álcool ou opióides) 
 
- Fracasso das tentativas de abordagem ambulatorial do dependente 
 
BIBLIOGRAFIA E LEITURAS RECOMENDADAS  
- Andrade,  A.G.; Queiroz, S.; Villaboim, R.M.C. et al: Uso de álcool e drogas  entre alunos de graduação da Universidade de São Paulo. Revista  ABP-APAL, n.º 19, p. 53-59, 1997. 
 
 
- Carroll, M.: COCAINE AND CRACK. Springfield, Enslow, 1994. 
 
 
- Galduróz,  J.C.F.; Noto, A.R.; Carlini, E.A.: IV Levantamento sobre uso de drogas  entre estudantes de 1º e 2º graus em 10 capitais brasileiras, São Paulo,  CEBRID, 1997. 
 
 
- Kosten, T.R.; Kleber, H.D.: CLINICIAN’S GUIDE TO COCAINE ADDICTION. New York, Guilford, 1992. 
 
 
- Leite, M.C., Andrade, A.G.: COCAÍNA E CRACK: DOS FUNDAMENTOS AO TRATAMENTO, Porto Alegre, Ed. Artmed, 1999. 
 
 
- Peck, R.G.: CRACK.. Rosen, New York, 1993. 
 
 
- Scivoletto,  S.; Andrade, E.R.: A cocaína e o adolescente. In Leite, M.C., Andrade,  A.G.: COCAÍNA E CRACK: DOS FUNDAMENTOS AO TRATAMENTO, Porto Alegre, Ed.  Artmed, 1999. 
 
 
- Washton, A.M.: COCAINE ADDICTION: Treatment, Recovery and Relapse Prevention. New York, W.W. Norton , 1991. 
 
 
- Weiss, R.D.; Mirin, S.M.; Bartel, R.L.: COCAINE. Washington, DC , American Psychiatric Press, 1994. 
 
  
Artigo compilado a partir das seguintes fontes:
Parte Inicial Creditada a:
José da Silva é psicólogo, especialista em Dependência Química, CRP  06/98918. Atua no Núcleo Terapêutico Crisálida. Endereços eletrônicos: www.nucleoterapeuticocrisalida.com.br ou www.nucleocrisalida.blogspot.com. Mais informações pelos telefones 4255- 0404 / 6026-2446, 6459-7009 ou e-mail: pr-josedasilva@hotmail.com
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