Pesquisa revelou dados alarmantes sobre o consumo de crack. Os 'zumbis' chegam a manter o vício por cerca de oito anos e 80% quer ajuda para deixar as drogas
São 370 mil usuários de crack e similares nas capitais brasileiras.
Isso corresponde a 0,81% da população dessas cidades. Para além dos
números, o levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), encomendado
pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad) e divulgado
no fim de setembro, mostrou que a “pedra” é um problema mais difícil de
enfrentar do que imaginávamos. E, se o senso comum dizia que o Sudeste
concentrava os usuários, a pesquisa veio para mostrar o contrário.
O
Nordeste lidera em números absolutos a maioria dos rankings propostos
pela análise. Nas capitais da região estão o maior número de usuários
regulares, 148 mil, e também a maior quantidade de crianças e
adolescentes que consomem crack, 28 mil. O Sudeste, região seguinte na
contagem, tem menos da metade disso, 13 mil. Especialistas ouvidos pelo O POVO dizem que a questão está na utilização da droga em locais públicos ou não. Em São Paulo, por exemplo, existe a cracolândia.
Para
a médica psiquiatra Analice Gigliotti, os resultados da pesquisa
mostraram que o crack não é uma droga que “mata de primeira”. “O estudo
revelou que as pessoas ficam usando continuamente e, a cada dia, se
degradando mais. O crack já está aí corroendo a sociedade há muito
tempo, mas não podemos pensar que é um problema sem solução”, explica.
Analice
é chefe do Setor de Dependências Químicas e Comportamentais da Santa
Casa do Rio de Janeiro e também possui uma clínica particular em
Botafogo, bairro nobre da capital carioca. Segundo ela, não pode mais
ser levado em conta o estigma do crack como uma droga de classes menos
favorecidas. “No setor público chegam pessoas que estão muito mal. Mas,
no setor privado, também atendemos dependentes de crack. Gente de classe
alta que é internada e internada novamente. É um vício barra pesada”,
afirma.
De fato, a pesquisa revelou que 40% dos usuários
regulares moram em imóveis próprios, 55% possuem ensino fundamental, 65%
conseguem dinheiro com trabalhos temporários e existe ainda uma
minoria, de 4,2%, que tem até trabalho fixo com carteira assinada. O
titular da Senad, Vitore Maximiano, admitiu que os resultados são
bastante preocupantes e disse que a prevalência do uso de crack nas
capitais nordestinas chamou atenção, mas, para ele, o alto número de
usuários já era esperado.
“Deveremos intensificar as ações de
cuidado, especialmente com a instalação de equipamentos de apoio social
e com equipes que fazem o contato de forma ativa com o usuário,
oferecendo-lhe tratamento. 80% dos usuários manifestaram desejo de se
tratar. Vamos ampliar as ações em todo o País, e ainda mais
especialmente nas regiões Nordeste e Sul, onde registramos as maiores
prevalências do uso do crack”, pontuou o gestor.
O Ciência
& Saúde vai detalhar os resultados da pesquisa e contar histórias de
quem buscou tratamento contra o vício. Como a de Joana (nome fictício,
foto). Grávida de oito meses, ela passa por tratamento na Unidade de
Acolhimento Silas Munguba. Mostraremos ainda o que os especialistas
dizem sobre os números. Boa leitura!
O POVO solicitou
à Senad dados sobre a utilização de crack em Fortaleza, mas o órgão
informou que os índices locais ainda não estão disponíveis.
Números
80% do total de usuários utiliza a substância em espaços públicos
14% dos usuários de crack das capitais são crianças e adolescentes
Serviço
Veja a íntegra da pesquisa pelos links:
Saiba mais
A pesquisa
foi realizada entre o fim de 2011 e junho de 2013. Foram enviadas
equipes para as 26 capitais, o Distrito Federal, municípios de grande
porte das regiões metropolitanas e para uma amostra de cidades de
pequeno e médio porte. No total, 7.381 pessoas foram entrevistadas pela
Fiocruz.
As equipes de
campo recrutavam os usuários de crack que consumissem a droga com
regularidade (25 dias nos últimos seis meses, segundo definição da
Organização Panamericana de Saúde – Opas), e que tivessem 18 anos ou
mais. Crianças e adolescentes não foram entrevistados, seguindo a
decisão do Comitê de Ética da Fiocruz.
A metodologia
da pesquisa é denominada Network Scale-up Method (Nsum). Segundo o
documento, esse é o único método estatístico disponível capaz de
estimar de forma mais precisa as populações de difícil acesso.
A abordagem
é indireta. Não se pergunta diretamente ao entrevistado sobre o seu
comportamento, mas sobre o comportamento de outros indivíduos
pertencentes à rede de contatos do respondente e residentes no mesmo
município.
Fonte - O povo
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