Uso precoce de maconha piora a memória, diz estudo
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS
DE SÃO PAULO
Folha de São Paulo
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Adultos que se tornam dependentes de maconha antes dos 18 anos tiveram
resultados piores em testes de memória e inteligência do que não
usuários, indica um estudo que acompanhou cerca de mil neozelandeses do
nascimento até os 38 anos.
Durante esse tempo, os participantes da pesquisa, realizada por
cientistas da Universidade Duke (EUA) e do King's College de Londres,
foram submetidos a entrevistas periódicas, para dizer se estavam usando
maconha e com que frequência, e a testes de QI (coeficiente de
inteligência) e outros exames de memória, raciocínio, processamento
visual, entre outros.
Segundo Terrie Moffitt, professora de psicologia e neurociência do
King's College, a longa duração do estudo dá segurança para afirmar o
risco trazido pela maconha para jovens e a relativa segurança de uso com
início na idade adulta.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Antes dos 18 anos, o cérebro ainda está sendo remodelado para se tornar
mais eficiente, por isso é mais vulnerável aos danos causados por
drogas, diz a cientista.
Os usuários de maconha que já estavam dependentes aos 18 anos tiveram um
declínio médio do QI (coeficiente de inteligência) de oito pontos entre
os 13 e os 38 anos de idade. Uma pessoa normal marca cem pontos em
teste de QI. Entre os não usuários, não houve declínio.
"Os participantes que não usaram maconha até chegarem à idade adulta e
terem o cérebro completamente formado não tiveram esse declínio mental",
diz Moffitt.
Foram levados em conta fatores como uso de álcool e de outras drogas e a
escolaridade. Segundo Madeleine Meier, pesquisadora da Duke e também
responsável pelo trabalho, a variável que fez a diferença foi o ponto de
início do uso da maconha.
"A maconha não é inofensiva, especialmente para adolescentes. Uma pessoa
que perde oito pontos de QI pode ficar em desvantagem depois." Números
mais altos de QI são associados a maior renda e vida mais longa.
Segundo o 2º Levantamento Nacional de Álcool e Drogas, divulgado no
início deste mês, dos 8 milhões de brasileiros que já usaram maconha,
62% o fizeram pela primeira vez antes de completar 18 anos e 37% (1,5
milhão) são dependentes da droga.
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, professor livre-docente da
Unifesp e especialista em dependência química, destaca a metodologia
cuidadosa do novo estudo, que dá mais força a achados anteriores
mostrando a maior vulnerabilidade dos adolescentes à maconha.
"Nos adultos, as alterações neurocognitivas foram pequenas e
reversíveis. Nos adolescentes, essas mudanças são mais detectáveis."
A reversão dos efeitos nocivos da maconha foi menor para quem começou a
usar mais cedo e depois parou, mas, segundo Silveira, isso não deve
servir para desencorajar o fim do vício. "Vale a pena parar. Sempre
melhora um pouco."
O psiquiatra destaca que o declínio cognitivo, mesmo nos piores casos,
foi pequeno, e que o efeito da maconha não é pior do que o causado pelo
álcool, por exemplo.
Fonte-Folha de São Paulo
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