RIO BRANCO, Brasil
As regiões de fronteira do Brasil estão deixando de ser apenas áreas de passagem do tráfico de drogas para se tornar mercados consumidores.
O aumento do narcotráfico e outros crimes na fronteira do Acre com o Peru e a Bolívia fez com que, em setembro, o governador do estado, Tião Viana, solicitasse ajuda da Força Nacional de Segurança Pública, tropa de choque subordinada ao Ministério da Justiça.
Em 30 de setembro, o governo federal autorizou o uso da Força Nacional no estado por 180 dias, prazo que pode ser prorrogado. Com uma área de 164.123 km2 e 776.463 habitantes, o Acre tem 2.000 km de fronteira com a Bolívia e o Peru. Esta região é cortada por rios, o que facilita o tráfico de drogas e dificulta o trabalho das forças de segurança.
“A proximidade dos estados de fronteira com mercados produtores de drogas faz com que este tipo de mercadoria seja barata aqui”, diz Bernardo Albano, promotor de justiça de Xapuri, cidade do Acre com 17.021 habitantes. “No nosso caso, a proximidade com os dois maiores produtores de drogas do mundo torna a luta contra o narcotráfico um desafio diário.”
A situação alarmante de Xapuri é similar em todas as regiões de fronteira do Brasil, segundo o promotor.
“O preço e a proximidade do mercado produtor fazem com que o consumo atinja moradores de todas as classes sociais”, afirma Albano. “O problema começou nas periferias, mas hoje já temos ocorrências até nas reservas extrativistas [onde há apenas comunidades sustentáveis formadas por populações tradicionais].”
A situação nas regiões da fronteira piorou com a chegada do crack a partir da década de 90, diz o padre Mássimo Lombardi, reitor da Catedral Nossa Senhora de Nazaré e coordenador da Pastoral Diocesana em Rio Branco, capital do Acre.
“Um grama de cocaína se transforma em dezenas de pedras de crack”, diz o padre. “Com apenas R$ 2, a pessoa se droga nas bocas de fumo das periferias.”
Padre Mássimo, 68 anos, faz um trabalho pastoral nas prisões do estado uma vez por semana. Ele diz que é nítido o aumento no número de detentos jovens por conta de envolvimento com drogas.
“A droga é um incentivo para que os jovens roubem, assaltem e matem”, diz o padre. “Eles acham que vão melhorar de vida vendendo droga. Vão até a Bolívia e trazem um carregamento na mala. Isso dá certo dez vezes, mas um dia não dá e eles vão parar na prisão.”
A violência associada às drogas tem aumentado também nas escolas da região.
“Os traficantes praticamente invadem as escolas para assediar os jovens. Até mesmo naquelas que oferecem apenas Ensino Fundamental, onde estão os mais novinhos”, diz Padre Mássimo.
Nas áreas de fronteira, 1 kg de cocaína custa cerca de US$ 1.200. Nas outras regiões do país o preço chega a ser seis vezes maior, segundo o delegado Maurício Moscardi, chefe da Delegacia de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal no Acre.
Moscardi diz que o reforço no combate ao tráfico aumentou na mesma proporção que o consumo. Ele afirma que as apreensões crescem a cada ano.
“No ano passado, foram apreendidos 700 kg de cocaína no estado do Acre, 180 kg a mais do que no ano anterior”, diz o delegado.
Para ele, os acordos internacionais com a Bolívia e o Peru têm sido fundamentais na repressão ao tráfico de drogas.
“Essas parcerias permitem muita troca de informações de inteligência. Como não temos soberania no país vizinho, muitas vezes precisamos, por exemplo, de informações sobre um determinado traficante que está naquele país. Só eles podem ajudar.”
Os acordos incluem operações em conjunto e intercâmbio de policiais entre os países.
Em 6 de janeiro, a Polícia Federal (PF) anunciou que 2013 teve um recorde na apreensão de cocaína, maconha e bens de organizações criminosas do tráfico de drogas em todo o Brasil. Foram apreendidos mais de 256 t de drogas – 35,7 t de cocaína e 220,7 t de maconha – e R$ 80,1 milhões em bens.
A PF creditou o recorde ao reforço policial nas fronteiras por meio das iniciativas do governo federal Crack É Possível Vencer e Plano Estratégico de Fronteiras.
“As polícias trabalham de forma integrada e o resultado vem aparecendo não só com apreensões, mas também como condenações de traficantes”, diz o promotor Albano, destacando que apenas repressão não é suficiente. “Precisamos de mais políticas públicas para prevenir o uso das drogas e recuperar pessoas que já entregues ao vício.”
O delegado Moscardi também defende a bandeira da prevenção.
“Como é um caso de saúde pública, tem que ser feito um esforço grandioso para tentar implementar uma cultura preventiva, principalmente nas escolas”, diz Moscardi. “Mas não é dar uma palestra e achar que resolveu. É preciso um trabalho contínuo e eficaz de prevenção.”
Fonte - Infosurhoy
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