• Maconha faz mal?

    Saiba mais sobre a fundamentação científica acerca dos efeitos da maconha sobre o organismo.

Ressocialização para Dependentes Químicos

As estatísticas criminais são claras e preocupantes.

Ao final de 2010 o Brasil contabilizou mais de 500 (quinhentos mil presos) e desde então assumiu a incômoda posição de 4º maior encarcerador do planeta.
Deste total, a maioria é composta pelas seguintes incidências penais, quantitativamente: 1º) roubo qualificado; 2º) tráfico de drogas; 3º) roubo simples; 4º) furto qualificado, e 5º) furto simples.
A realidade forense evidencia que na quase totalidade dos casos quem está preso em razão da prática de crime contra o patrimônio – preso provisório ou condenado – praticou a conduta com o objetivo de obter recursos para consumir drogas.
De igual maneira, na esmagadora maioria dos casos, quem está preso por tráfico também estava praticando crime com vistas a obter droga para consumo pessoal; para satisfazer a toxicodependência.
A dependência química é doença catalogada pela Organização Mundial de Saúde e o art. 196 da Constituição Federal assegura a todos o direito de acesso universal à saúde, cuja prestação constitui dever do Estado.
O art. 26 da Lei de Drogas assegura ao dependente a disponibilização de tratamento pelo Estado, conforme especifica, mas a realidade prática é bem diversa do ideal normativo.
O § 7º do art. 28 da Lei de Drogas também constitui letra morta, rotineiramente desrespeitado na prática judiciária, e o desprestígio sempre está fundamentado na dificuldade de execução da determinação, dificuldade que é real, mas que não justifica a deliberada negativa de vigência da regra – que é impositiva – até porque tal linha de raciocínio poderia levar ao extremo de se deixar de impor determinada pena ou regime prisional, também sob o fundamento da não menos real dificuldade de execução.
A toxicodependência é algo que se deve combater a qualquer custo (dentro da legalidade, é claro), até porque, nos dias que correm, tem determinado sensivelmente a elevação das estatísticas criminais, além, é claro, de destruir vidas e famílias.
Isso está a reclamar uma nova leitura de algumas regras jurídicas, e nesta linha de pensamento é que retiramos do art. 1º da LEP autorização para afirmar que o tempo de internação visando tratamento contra a dependência química pode e deve ser abatido do tempo de “pena a cumprir”.
De tal sorte, se o executado for dependente químico e estiver no cumprimento de pena privativa de liberdade no regime aberto; livramento condicional ou penas e medidas alternativas, caso interrompa a execução para se submeter a tratamento contra dependência química, é juridicamente possível que o prazo de tratamento seja abatido do total da “pena a cumprir”.
A execução penal tem por objetivo a harmônica reintegração social do executado (LEP, art. 1º), e nesse passo, nada mais inteligente e ajustado do que estimular o tratamento contra toxicodependência daquele que se enveredou no mundo do crime exatamente por estar impulsionado pelo consumo de drogas. Em casos tais, nada mais eficaz para a reintegração e útil para a sociedade do que o tratamento, conforme a gravidade do caso recomendar.
Comunicado nos autos que o executado descontinuou o cumprimento da pena/livramento e está internado para tratamento, suspende-se a execução até superveniente informação sobre eventual interrupção ou cumprimento total do prazo de internação estabelecido pelo corpo técnico da clínica em que se encontrar.
Se o executado interromper o tratamento de forma precoce, intempestivamente, não será beneficiado com o abatimento e deverá cumprir toda a pena que restava ao tempo da internação.
Se, ao contrário, se submeter ao cumprimento integral do tratamento, o prazo de duração deste deverá ser abatido do total da pena ou do período de prova do livramento condicional, sendo caso.
Na falta de regulamentação específica na LEP, esta é a interpretação que melhor atende aos ideais da execução penal.

Fonte-Renato Marcão

Internação compulsória é caminho a ser percorrido

Internação compulsória é caminho a ser percorrido

Entrevista Dráuzio Varella - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
Para o médico, medida pode não ser a ideal, mas politizar a questão torna a discussão inútil; segundo ele, ninguém tem receita exata para tratar dependentes de crack

Folha de São Paulo - CLÁUDIA COLLUCCI - DE SÃO PAULO

Revoltado. É assim que o médico e colunista da Folha Drauzio Varella, 69, diz se sentir com a polêmica envolvendo a internação compulsória de dependentes de crack, adotada há uma semana pelo governo Alckmin.
Cancerologista de formação e com profundo conhecimento em dependência química, Varella considera a discussão "ridícula".
"Que dignidade tem uma pessoa jogada na sarjeta? Pode ser que internação compulsória não seja a solução ideal, mas é um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, é questão de corrigir."
Ele defende que as grávidas da cracolândia também sejam internadas mesmo contra a vontade. "Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá."
A seguir, trechos da entrevista concedida à Folha, na última quinta, em seu consultório no centro de São Paulo.

Folha - Muito se discute sobre a ineficácia das internações compulsórias. Na opinião do sr., elas se justificam?
Drauzio Varella - Não conhecemos bem a eficácia ou a ineficácia porque as experiências com internações compulsórias são pequenas no mundo. Mesmo as de outros países não servem para nós. O Brasil tem uma realidade diferente.
Neste momento, temos uma quantidade inaceitável de usuários. E muitos chegando aos estágios finais. Estão nas ruas, nas sarjetas. O risco de morte é muito alto, e nós estamos permitindo isso.
Qual o tratamento ideal?
Depende da fase. Você tem usuários que usam dois ou três dias e param. Tem gente que usa um, dois dias, repete e nunca mais fica livre. E você tem os que chegam à fase final.
A gente convive com essa realidade, e quando o Estado resolve criar um mecanismo para tirar essas pessoas da rua de qualquer maneira começa uma discussão política absurda. Começam a falar que essa medida não respeita a dignidade humana. Que dignidade tem uma pessoa na sarjeta daquela maneira?
Está na hora de parar com essa discussão ridícula. Pode ser que internação compulsória não seja a solução ideal, mas é um caminho que temos que percorrer. Se houver exagero, é uma questão de corrigir. Vão haver erros, vão haver acertos. Temos que aprender nesse caminho porque ninguém tem a receita.
O debate está ideologizado?
Totalmente. É uma questão ideológica e não é hora para isso. Estamos numa epidemia, quanto mais tempo passa, mais gente morre.
Sempre faço uma pergunta nessas conversas: 'Se fosse sua filha naquela situação, você deixaria lá para não interferir no livre arbítrio dela?'
Eu, se tivesse uma filha grávida, jogada na sarjeta, nem que fosse com camisa de força tiraria ela de lá.
Quando vemos essa discussão nos jornais, parece que estamos discutindo o direito do filho dos outros de continuar usando droga até morrer. É uma argumentação frágil, jargões vazios, de 50 anos atrás. Eu fico revoltado com essa discussão inútil.
E o que fazer com as grávidas do crack?
São casos de internação compulsória, o sistema de saúde tem que ir atrás e internar mesmo que não queiram. O crack é mais forte do que o instinto materno. Elas não param porque estão dominadas pelo crack. Tem uma relação de uso e recompensa e acabou. Nada vale tanto quanto essa dependência.
Como prevenir a gravidez na cracolândia?
É a coisa mais fácil. Há anticoncepcionais injetáveis, dá a injeção e dura três meses.
Haveria mais polêmica...
A menina não engravida para experimentar os mistérios da maternidade, ela engravida porque na situação em que ela vive não há outra forma de se relacionar com os homens. Essa é a realidade.
Precisa levar para um lugar onde terá amparo, um pré-natal decente. Não podemos ficar nessa posição passiva.
Por que é tão difícil adotar uma estratégia efetiva de enfrentamento do crack?
Pela própria característica da dependência. É uma doença crônica. Você deixa de ser usuário de uma droga qualquer, mas não deixa de ser dependente. É a mesma história do fumante. Há 20 anos sem fumar, um dia fica nervoso, pega um cigarro e volta a fumar. Ou do alcoólatra.
Com o crack, é a mesma coisa, a dependência persiste para sempre. Você pega uma pessoa que fuma crack, interna, passa por psicólogo, reata laços com a família, passa um ano sem fumar. Aí, um belo dia, recomeça tudo. Você não pode dizer que o tratamento falhou. Ele ficou um ano livre. Isso não invalida que ele seja tratado novamente.
Fazendo uma analogia com a especialidade do sr., é como tratar um tumor avançado?
Exatamente. Eu pego uma paciente com câncer avançado, faço um tratamento agressivo com quimioterapia e ela passa seis meses com remissão da doença.
Acho ótimo. Pelo menos passou seis meses bem, com a família, tocando as coisas. Aí, quando sai da remissão [volta do tumor], a gente tenta outro esquema. A gente não se dá ao direito de não tratar um doente porque a doença vai voltar. Por que não se faz isso com usuário de drogas?
Isso acontece porque há muito preconceito com as dependências de uma forma geral?
Sim, temos muito preconceito. Nós usamos drogas também, uns fumam, outros bebem, só que temos controle. E temos o maior desprezo pelos que perdem o controle.
Qual o futuro do tratamento das dependências?
A medicina não sabe tratar dependência. Vejo na cadeia meninas desesperadas, me pedindo ajuda. Eu fico olhando com cara de idiota. Não tem o que fazer. Só posso dizer: fique longe da droga.
Não tem um remédio que você diga: você vai tomar um remédio bom em que 30% dos casos ficam livres da droga.
O problema é o prazer. Se você conseguir uma pequena molécula que inative os receptores dos neurônios que recebem a cocaína, o sujeito deixa de ter prazer. Há experiências com anticorpos para tentar desarmar essa ligação, mas estamos em fase inicial.
O sr. acredita que veremos o fim dessa epidemia do crack?
Droga é moda, e a moda do crack vai passar ou ficar restrita a pequenas populações.
Mas para isso acontecer não é preciso uma política nacional de enfrentamento do crack?
Acho que temos que ter uma política nacional para definir as grandes diretrizes. Mas não acho que vamos definir isso com políticas nacionais. Temos que particularizar. Cada cidade tem que criar estruturas locais de atendimento.
Nós perdemos muito tempo. Não fizemos campanha educacional, não trabalhamos as crianças. Agora todos ficam horrorizados. Temos que ter aulas nas escolas, aprender desde pequeno. Precisamos chegar antes da dependência.


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Proposta torna inelegíveis usuários e dependentes de drogas

Proposta torna inelegíveis usuários e dependentes de drogas

Agência Câmara de Notícias

De autoria do deputado Dr. Grilo (PSL-MG), o Projeto de Lei Complementar 220/12 torna inelegíveis usuários e dependentes de drogas. Pelo texto, são consideradas drogas substâncias entorpecentes especificadas em lei ou relacionadas em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo.

Ainda pela proposta, os critérios de inelegibilidade estabelecidos pela Lei Complementar 64/90 – a ser alterada pelo texto – passam a valer também nas eleições dos membros de órgãos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Dr. Grilo argumenta que a medida já encontra respaldo na legislação nacional. Segundo ressalta, o Código Civil (Lei 10.406/02) “estabelece, expressamente, que são incapazes, relativamente a certos atos, os viciados em tóxicos”.
Tramitação

Tramitação
O projeto tramita em regime de prioridade pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (inclusive no mérito) e pelo Plenário.


Reportagem - Maria Neves
Edição – Regina Céli Assumpção


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A política antidrogas da Holanda e a descriminalização da maconha

A política antidrogas da Holanda e a descriminalização da maconha

 Radar Global

A política anti-drogas na holanda - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
A pesquisadora Vanda Felbab-Brown, professora da Universidade Georgetown e analista do Brookings Institution, falou ao Estado sobre vantagens e desvantagens da descriminalização da maconha e deu detalhes de como funciona a política holandesa antidrogas. A seguir, alguns trechos da extrevista.

O que a sra. acha da descriminalização de drogas leves, como a maconha? É uma solução?
A legalização não reduzirá o estrago nas sociedades que consomem e produzem droga. No entanto, não acredito que só essa política de repressão funcione. Colocar os usuários na cadeia, também não adianta. É errado. O foco deveria ser na prevenção. As pessoas deveriam aprender a não usar drogas, do mesmo modo como são bombardeadas com informações antitabagistas.

Legalizar aumentaria o consumo?
Há evidências indicando que aumentaria. O que a gente ainda não sabe é quanto. A prioridade de uma boa política antidrogas deveria ser tratamento e prevenção. Outro problema da legalização é que ela não funcionaria no campo internacional. Existem boas razões para que algumas substâncias tenham sua venda restrita ou proibida. Por exemplo, não acho que deva haver um comércio legal de urânio. Além disso, os grupos criminosos não desaparecerão por causa da legalização. Em Mianmar, quando erradicaram a papoula, os bandidos passaram para o contrabando de madeira, com resultados ainda piores. Criminosos simplesmente passarão para outro tipo de crime. Eles podem até começar a controlar a economia legal. Foi o caso da máfia nos EUA, nos anos 30, depois da Lei Seca. Eles passaram a controlar os sindicatos. O crime não retrocedeu e o nível de violência voltou a ser o mesmo. Em Chicago, acabaram os tiroteios com a polícia, mas os criminosos passaram a controlar os políticos da cidade, a viver de extorsão e do contrabando de cigarros. Em alguns aspectos, ficaram até mais fortes e perigosos porque se misturaram com a vida política e em atividades legais.

Como você avalia a política antidrogas da Holanda?
É bastante efetiva, mas tem coisas mal resolvidas. Em primeiro lugar, os holandeses não legalizaram nada. Eles apenas descriminalizaram a maconha para uso pessoal. Mais do que isso, permitiram a venda legal de alguma quantidade de maconha em determinados lugares. No entanto, a produção e o comércio de grandes quantidades de maconha continuam ilegais. Isso é muito problemático porque se você é o dono de um coffee shop, está autorizado a vender para um usuário, mas não pode legalmente comprar para seu estabelecimento. É importante lembrar também que as drogas pesadas continuam proibidas na Holanda.

É importante diferenciar as drogas leves das pesadas do ponto de vista legal?
Existe uma polêmica sobre a droga leve servir de trampolim para a droga mais pesada. Alguns especialistas acham que se você fuma maconha, está mais propenso a experimentar uma droga mais forte. Se você acredita nisso, tem de lutar para que a maconha não seja descriminalizada. Os holandeses não acreditam nisso. Para eles, o usuário de drogas leves só completa essa transição porque o mesmo traficante que vende o baseado é aquele que vende a cocaína. Se ele conviver com o mesmo traficante, eventualmente, ele acabará oferecendo a cocaína para seus compradores. Os holandeses quiseram separar os dois mercados. Para eles, essa estratégia funcionou bem. Quando analisamos os índices de prevalência do uso de maconha, verificamos que os da Holanda são ligeiramente superiores aos da Europa Ocidental, mas menores do que os índices dos EUA. O uso de drogas pesadas na Holanda está na mesma média da Europa e é menor do que nos EUA.

A sra. não acha que é muito fácil manter essa política em um país com recursos financeiros, como a Holanda?
É claro. A chave para o sucesso da Holanda, além da descriminalização, é um programa forte de prevenção, de tratamento e um sistema de saúde eficaz, que cobre quase toda a população. Se você não tiver essa base, não adianta descriminalizar que não terá o mesmo efeito. A política antidroga de um país deve ser moldada a sua realidade, muito mais do que importada de outro lugar.

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Ex-usuários contam histórias de vitória contra o crack

Ex-usuários contam histórias de vitória contra o crack

A assistente social Vera Lucia ajudou a ex-dependente química Terezinha Andrade (à esquerda), que hoje trabalha e deixou o vício para trás. (Foto: Pedro Carlos Leite/G1)  

O crack é conhecido por ser uma droga que provoca forte dependência, mas apesar da dificuldade de se livrar do vício, há casos de usuários que conseguem vencer o problema. Em Mogi das Cruzes, Região Metropolitana de São Paulo, a ex-dependente Terezinha Andrade Freitas, de 55 anos, hoje trabalha como faxineira e comemora a nova vida. “Fiquei oito anos morando na rua, bebendo pinga e fumando crack. Agora que a gente está fora é que vê a feiúra que a gente fazia”, afirma. Terezinha conta que perambulava nas ruas de Mogi das Cruzes ao lado do marido, também dependente químico. 'Eu tomava dois banhos por semana, às vezes um só e tinha vezes que eu ficava semanas sem tomar banho”. Ela deixou as ruas há cinco anos e diz que deve a mudança à assistente social Vera Lúcia de Freitas.


“Fizemos um trabalho de insistência. Ela começou a ficar muito enfraquecida, doente mesmo. A Terezinha e o esposo perceberam que tinham que parar. Hoje eles ainda são acompanhados pela Secretaria de Assistência Social e participam de programas de transferência de renda”, explica a assistente Vera. A ex-moradora de rua diz estar feliz. “Hoje tenho meu barraquinho e trabalho, tenho outra vida”.

De usuária a monitora
Outra história de superação é a de Vanderli Pereira Duarte, de 44 anos. Ela conta que morou nas ruas por 20 anos e foi usuária de crack. “Perdi família, casa, fui presa... Vi muita coisa e ainda vejo pessoas que estavam na rua na minha época”. Vanderli deixou as ruas há 13 anos e hoje trabalha como monitora da Secretaria de Assistência Social, recebendo os usuários de drogas e moradores de rua que chegam ao Centro Pop, órgão da Prefeitura que faz uma espécie de cadastramento destas pessoas. “Quem me ajudou foram meus filhos e Deus. Já ajudei bastante gente, levei pessoas de volta para a família”, se orgulha.
 
Hoje Vanderli avalia os estragos provocados pela droga. “O crack na vida da gente acaba com o corpo e acaba psicologicamente. As pessoas não sabem como lidar com a gente, mas o que a gente precisa é de um desabafo”.


Internação
O governador Geraldo Alckmin assinou termos de cooperação técnica com o Tribunal de Justiça de São Paulo, Ministério Público e Ordem dos Advogados de Brasil (OAB) no dia 11 de janeiro para apressar a internação de dependentes de crack.

Saiba mais:
'Antes de comprar comida compro crack', afirma dependente
Viciados de São Paulo migram para Mogi, diz secretaria

Segundo o governo, os viciados serão avaliados por médicos, que vão oferecer tratamento adequado. Se for atestado que o usuário não tem domínio da sua própria saúde e condição física e este se negar a receber tratamento, o juiz poderá determinar sua internação imediata. A medida deverá ser tomada sempre em conjunto com a família do viciado.

A Secretaria de Assistência Social de Mogi das Cruzes afirmou que houve aumento no número de abordagens no município depois que um posto foi estruturado na região central da capital para agilizar as interdições.
 
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Justiça volta atrás e diz que não houve internação compulsória

Justiça volta atrás e diz que não houve internação compulsória

Folha de São Paulo


O desembargador Antônio Carlos Malheiros, do Tribunal de Justiça de São Paulo, afirmou que não houve ainda nenhuma internação compulsória de viciados em droga. Segundo ele, a divulgação de que teria ocorrido o primeiro caso desse tipo ontem foi provocado por um equivoco jurídico.

 
De acordo com Malheiros, o jovem apontado inicialmente como o primeiro caso de internação compulsória foi internado de forma involuntária, mas a pedido de sua mãe, que estava no Cratod (Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas) e ficou responsável por ele, podendo inclusive pedir a desinternação depois.
Justiça volta atrás e diz que não houve internação compulsória - http://www.mais24hrs.blogspot.com.brPara ser um caso de internação compulsória, a Justiça tem que autorizar, após atestado médico e parecer da Promotoria (a família não precisa pedir). Além disso, o dependente só pode deixar a internação com alta médica ou ordem judicial.
Após o início do programa de internação compulsória houve uma corrida pela internação, o que fez com que o governo Geraldo Alckmin (PSDB) anunciasse a ampliação da estrutura de atendimento, com novos funcionários e a contratação de 66 novos leitos específicos para esse público. 

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Moradias assistidas são opção pós-internação por crack

Moradias assistidas são opção pós-internação por crack




Luis Kawaguti
Da BBC Brasil em São Paulo

Moradias assistidas são opção pós-internação por crack - http://www.mais24hrs.blogspot.com.b
Tratamento pode ser em moradia assistida
O governo de São Paulo lançou um mecanismo médico e jurídico para agilizar internações forçadas para dependentes de crack no Estado. A iniciativa começou a funcionar na segunda-feira em um centro especializado próximo à Cracolândia, no centro da capital.
Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em geral, as internações motivadas por dependência do crack não devem superar um período superior a dois meses. Depois disso, segundo o médico, o paciente deve ser levado para a casa de um familiar e submetido a um tratamento ambulatorial – frequentando clínicas ou centros médicos especializados regularmente.
Porém, grande parte dos frequentadores da Cracolândia não só perderam seus empregos e família, como por vezes não possuem vínculos familiares fortes o bastante para tornar essa realidade possível.
Laranjeira afirmou que uma alternativa para o governo nesses casos é enviar os viciados em recuperação para as chamadas moradias assistidas. Tratam-se de alojamentos onde o dependente de drogas recebe, além do teto, apoio para conseguir um emprego e recomeçar sua vida.
No exterior essas moradias são conhecidas como "halfway houses', (casas a meio caminho, em português) e têm como característica oferecer também um monitoramento do processo de desintoxicação.
Segundo Rosangela Elias, responsável pelo setor de tratamento de dependentes químicos da Secretaria de Saúde do Estado, São Paulo tem atualmente cerca de 300 vagas em moradias assistidas e residências terapêuticas estaduais e municipais.
Segundo o psiquiatra Antonio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, independente de onde os dependentes em recuperação estiverem instalados, o governo precisa estudar medidas para obrigá-los a frequentar semanalmente as clínicas especializadas.

Melhorias

O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, também da Unifesp, afirmou que é necessário melhorar a qualidade do atendimento em parte da rede de clínicas de tratamento ambulatorial conhecidas como Capsad (Centros de Atenção Psicosocial Álcool e Drogas). Segundo ele, embora algumas sejam exemplares, outras ainda precisam melhorar.
Já Silva foi mais longe, afirmando que falta especialização na rede pública de atendimento médico em geral no Brasil.
"Não há treinamento específico direcionado e capacitado para isso (tratamento de dependentes químicos). São raras as ilhas de exceção, precisamos de treinamento especializadíssimo, pois é um processo de alta complexidade", disse.

Metodologias

Todos os especialistas ouvidos pela BBC Brasil concordam que deve haver um planejamento específico para o tratamento dos viciados em crack. Eles divergem porém sobre a metodologia a ser adotada.
Silveira, que é contrário à internação (exceto em casos específicos, como o de pessoas que corram risco de cometer suicídio ou sofram alucinações), disse que independente da forma de tratamento, as taxas de recuperação atualmente são muito baixas.
"Os melhores serviços do mundo têm taxas de eficácia de 35% a 40%, no máximo", disse.
Segundo ele, o tratamento ambulatorial deve promover a abstinência total das drogas em um primeiro momento.
Contudo, se o dependente não conseguir se desligar totalmente do entorpecente, uma abordagem de "redução de danos" deve ser empregada.
Isso significa que ele pode começar a diminuir aos poucos a quantidade de entorpecente utilizada e eventualmente substituí-la por outra substância tóxica, porém um pouco menos danosa que o crack.
Silveira estudou um grupo de 50 usuários de crack. A característica específica deles era o fato de afirmarem não ser capazes de lidar com a compulsão gerada pela abstinência da droga.
Todos afirmavam porém que quando usavam um cigarro de maconha conseguiam deixar de fumar o crack momentaneamente. Silveira passou então a endossar esse comportamento (sem prescrever entorpecentes, certamente).
"Foi um acompanhamento de um ano ao todo: 68% deles abandonou crack em três meses. Depois de seis meses esse grupo abandonou também a maconha", disse.
Já Silva afirmou que a abordagem de redução de danos não é recomendada pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
O que todos os especialistas concordam porém é que o tratamento pode ser multidisciplinar. Ou seja, pode ser acompanhado de atividades esportivas e religiosas.
Mas eles dizem que a fé não pode substituir o tratamento clínico dos pacientes – o que ocorreria em algumas comunidades terapêuticas ligadas a religiões.

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Juiz diz que 1º dia de plantão judiciário na Cracolândia foi 'histórico'

Juiz diz que 1º dia de plantão judiciário na Cracolândia foi 'histórico'

Folha de S. Paulo -
DE SÃO PAULO
"DO AGORA"

Mesmo sem ninguém internado à força, o juiz Samuel Karasin, que estava no primeiro dia do plantão judiciário na Cracolândia na segunda-feira (21), no centro de São Paulo, disse que o dia foi "histórico".

"Porque, pela primeira vez, o Judiciário volta sua atenção especificamente para pessoas que nunca foram privilegiadas, que não tinham acesso à Justiça."
Conforme o Tribunal de Justiça, antes de decidirem, os magistrados irão analisar laudos médicos e conversar com cada dependente químico.
Entre os que fugiram do tratamento estava um jovem. De passagem pela rua Prates, onde funciona o Cratod ele parou após ver os militantes da luta antimanicomial.
Enviado para o serviço de "orientação", em uma hora, seria atendido. "Não vou aguentar", gritava.
Acabou aproveitando a comoção que tomou conta dos repórteres, recolheu R$ 6,50 (que disse serem para comprar um prato feito) e saiu.
O plantão funciona diariamente, das 9h às 13h, com juiz, promotor e advogados designados pela OAB, no centro de saúde, na região central.
Quando a internação for recomendada por um médico e o usuário refutar o tratamento, caberá ao juiz de plantão decidir --com base em parecer do membro da Promotoria.
Plantão judiciário na cracolandia - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
Segundo o governo, porém, essas internações serão exceções. As mães à procura de internação para os filhos eram maioria ontem.
Um jovem que mordeu o pai e ameaçou fazer um roubo com a réplica de uma pistola é um caso de internação que aguarda a Promotoria. A Secretaria de Estado da Saúde não divulgou o número total de atendimentos realizados.
 (LAURA CAPRIGLIONE, AFONSO BENITES, TALITA BEDINELLI E FABIANA CAMBRICOLI)
Editoria de arte/Folhapress   

Grupos de Mútua Ajuda

GRUPOS DE MUTUA AJUDA E A (RE) CONSTRUÇÃO DA SUBJETIVIDADE


Edemilson Antunes de Campos

Mútua-Ajuda - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
Nas últimas décadas um fenômeno novo vem chamando atenção pelo ritmo com que se propaga na sociedade brasileira. Trata-se dos Grupos de Mútua Ajuda; agrupamentos em que se reúnem pessoas de diferentes idades e classes sociais em busca de apoio mútuo para superar vícios ou comportamentos compulsivos que as levaram a uma vida destrutiva e, na maioria das vezes, a um contexto de exclusão social.
No Brasil funcionam hoje pelo menos dezessete grandes associações de mútua ajuda, com centenas de filiais nas maiores cidades brasileiras. Entre essas associações destacam-se: os Narcóticos Anônimos, os Jogadores Compulsivos Anônimos e os Alcoólicos Anônimos.
A principal matriz dos grupos de mútua ajuda é a Irmandade dos Alcoólicos Anônimos (AA), fundada em 1935, em Akron, Estado de Ohio, nos Estados Unidos, e desde seus primórdios reconhecida como um dos mais eficientes Programas de Recuperação de alcoólatras. A Irmandade Alcoólicos Anônimos conta hoje, em números aproximados, com 2,8 milhões de membros no mundo inteiro, em 90 mil grupos espalhados por 151 países. (Alcoólicos Anônimos, 1997) No Brasil, o primeiro grupo de AA surgiu em 1947 e hoje há cerca de 5700 grupos, perfazendo um total em torno de 120000 membros, segundo dados do Escritório de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos.
Outra importante Irmandade em escala mundial são os Narcóticos Anônimos. Esta é uma das mais antigas e maiores associações de drogadictos em recuperação que se conhece no mundo. O método de N.A para recuperação da adicção às drogas é inteiramente não profissional, contando apenas com o apoio mútuo dos seus membros. A Irmandade N.A é organizada localmente na forma de grupos auto-geridos e auto sustentados. Devido ao sucesso de seu programa de recuperação, os Narcóticos Anônimos atende 1 milhão de pessoas em 150 países. No Brasil, funcionam 400 grupos, freqüentados por 20000 dependentes em recuperação. Atualmente, aqueles que não têm condições para freqüentar as reuniões do grupo presencial, podem fazê-lo pela internet através do grupo virtual N.A on-line. Com o objetivo de auxiliar os familiares dos dependentes químicos também encontramos o NAR-ANON.
Utilizando um método totalmente não profissional e não mantendo vínculos institucionais com o Estado, as Irmandades desenvolvem uma série de atividades pessoais conhecidas como Doze Passos, cuja base é o programa da Irmandade Alcoólicos Anônimos, com o intuito de promover a recuperação de seus membros. Estes “passos” incluem a admissão de que existe um problema, a busca de ajuda, a auto-avaliação, a partilha em nível confidencial, a disposição para reparar danos causados e para trabalhar com outros adictos a drogas que queiram se recuperar.
Mas, qual a importância dos grupos de mutua ajuda para a (re) construção do sujeito? Como os grupos, entendidos como entidades autônomas, sem vínculos institucionais com o Estado, contribuem para a recuperação dos indivíduos?
Em seu livro Para além da esquerda e da direita, Anthony Giddens atesta a notável importância dos grupos de mutua ajuda nas sociedades contemporâneas: “Nas sociedades contemporâneas, um número muito maior de pessoas pertence a grupos de auto-ajuda do que a partidos políticos”. (Giddens, 1996: 25) Os grupos de mutua ajuda à medida que se baseiam num intercâmbio de elementos da vida emocional, contribuem para uma interação entre os indivíduos, tornando-os mais responsáveis e preparados para o exercício da cidadania. Para Giddens, essa interação emocional entre os indivíduos pode ter também como efeito um maior amadurecimento dos indivíduos, dotando-lhes de maior autonomia. Exemplo disso é a Irmandade Alcoólicos Anônimos, pois “possui uma forma organizacional que inibe as hierarquias fixas. Ele (sic) [os AA] propositadamente se dispõe a criar o máximo de espaço discursivo para seus membros; além disso, também está interessado no desenvolvimento de autonomia. A comunicação com os outros, produzida por uma autocompreensão aumentada e para ela contribuindo, é o meio pelo qual a pessoa que padece de um vício torna-se capaz de supera-lo” (Giddens, 1996: 139).
Embora importantes no resgate que fazem dos grupos de mutua ajuda, as análises de Giddens não abordam os grupos internamente. Ou seja, não analisam o conteúdo das práticas e narrativas produzidas no interior dos grupos. Creio assim, que para um correto entendimento da originalidade e importância dos grupos de mutua ajuda ser fundamental uma apreciação, ainda que inicial, dos conteúdos das narrativas produzidas pelos seus membros. Com isso podemos visualizar de que modo os grupos contribuem para a (re) construção da subjetividade. Para tanto é fundamental estabelecer o elo existente entre adicção, doença e pessoa, a partir da interpretação dos conteúdos narrativos expressos pelos membros dos grupos de mutua ajuda, em torno da experiência da doença da adicção.
Para efeito de interpretação selecionei a narrativa: “Quem é um adicto?”, extraída do Texto Básico da Irmandade Narcóticos Anônimos (N.A). A escolha dessa narrativa é estratégica, pois permite compreender como a adicção/doença, entendida como uma experiência vivida de modo dramático, é construída e legitimada intersubjetivamente, juntamente com a construção da noção de pessoa. A narrativa se apresenta, assim, como uma importante ferramenta de acesso à experiência, pois permite que se mantenha “o elo fundamental entre saber e contexto” (Rabelo, 1999: 75). Na narrativa de doença é possível captar o modo como os indivíduos vivenciam intensamente seus dramas, negociam e legitimam sua situação de doentes, ao mesmo tempo em que modulam sua subjetividade.
Aqueles de nós que encontram o Programa de Narcóticos Anônimos não precisam pensar duas vezes sobre: ‘Quem é um adicto?’ Nós sabemos! Nossa experiência é a seguinte. Como somos adictos, o uso de qualquer substância que altere nossa mente ou nosso humor provoca um problema em qualquer área da vida. A adicção é uma doença que envolve mais do que o uso de drogas. Alguns de nós acreditam que a nossa doença já estava presente muito antes de termos usado pela primeira vez (...) Não escolhemos nos tornar adictos. Sofremos de uma doença que se manifesta de maneiras anti-sociais, e que torna difícil a detecção, o diagnóstico e o tratamento (...) Nossa doença nos isolava das pessoas, a não ser quando estávamos obtendo, usando e arranjando maneiras e meios de conseguir mais. Hostis, ressentidos, egocêntricos e egoístas, nós nos isolávamos do mundo exterior (...) O mundo se estreitava e o isolamento tornou-se a nossa vida. Usávamos para sobreviver. Era a única maneira de viver que conhecíamos (...) Quando a nossa adicção era tratada como crime ou deficiência moral, nós nos rebelávamos e éramos confinados ainda mais em nosso isolamento. (...) Entendemos que não há nada de vergonhoso em ser um adicto, desde que aceitemos honestamente o nosso dilema e comecemos a agir positivamente. Estamos dispostos a admitir, sem reservas, que somos alérgicos a drogas. O bom-senso nos diz que seria insanidade voltarmos à fonte da nossa alergia. ( Narcóticos Anônimos, 1993: 3-5 - grifos meus)
O que ressalta na narrativa acima é a compreensão da adicção como uma doença, vivenciada como uma experiência-problema. Essa definição nos remete, para o fato de que a experiência da adicção é vivida como um problema; um distúrbio que rompe a atitude natural e exige dos indivíduos medidas normalizadoras, que lhes permitam desenvolver esquemas interpretativos que possam servir para reintegrá-la ao mundo da vida cotidiana. Isso explica inclusive a polissemia que envolve o par adicção/doença, uma vez que a profusão de sentidos aponta para o processo de negociação e legitimação vivido pelos adictos na tentativa de expressar, interpretar e comunicar suas experiências de aflição.
Nota-se que a adicção é apresentada como “uma doença que envolve muito mais que o uso de drogas”, que conduz o adicto a se isolar, rompendo os vínculos com os outros. Assim, embora o diagnóstico e o tratamento sejam difíceis, trata-se de “uma doença que se manifesta de maneiras anti-sociais”. Ou seja, a adicção é vivida como uma ruptura, que distancia o adicto do convívio social, desenvolvendo nele um comportamento “hostil, ressentido, egocêntrico e egoísta”: “o isolamento tornou-se a nossa vida”. Essa compreensão projeta a idéia de um mundo à parte, separado, “nossa doença nos isolava das pessoas (...) Era a única maneira de viver que conhecíamos”. O que é reforçado pela leitura moralista do problema da adicção, que a vê como uma “fraqueza de caráter” ou um “vício”, aprofundando ainda mais o isolamento.
Mas, como o par adicção/doença remete à construção da noção de pessoa? Um exame das metáforas presente na narrativa de adicção pode ser útil para responder a essa questão. Como aponta Paul Ricoeur (1976), as metáforas não são apenas ornamentos nos discursos, mas oferecem uma inovação semântica. Em particular, nas narrativas de doença as metáforas desempenham um papel central, permitindo aos indivíduos organizarem suas experiências subjetivas, de modo a transmiti-las aos outros: familiares, amigos, terapeutas, desencadeando, assim, uma série de atitudes condizentes com a nova situação.
As funções mentais e emocionais mais relevantes, como a consciência e a capacidade de amar, foram fortemente afetadas pelo nosso uso de drogas. Nossa habilidade de viver ficou reduzida ao nível animal. Nosso espírito estava em pedaços. Tínhamos perdido a capacidade de nos sentirmos humanos (...) Enquanto usávamos, vivíamos em outro mundo. Experimentávamos apenas pequenos períodos de realidade e de auto-consciência. Finalmente, parecia que éramos duas pessoas, e não uma - o médico e o monstro. Corríamos de um lado para o outro para recompor nossas vidas antes do próximo desvario. Às vezes, conseguíamos faze-lo muito bem, mas depois tornou-se cada vez menos importante e mais difícil. Por fim, o médico morreu e o monstro assumiu (...) Tivemos que chegar ao nosso fundo-de-poço antes de estarmos dispostos a parar. (Narcóticos Anônimos, 1993, 5-7)
A narrativa acima opera com três metáforas importantes para a compreensão da relação entre adicção, doença e pessoa. Trata-se fundamentalmente de um dilaceramento do eu, vivido pela imagem de um eu despedaçado, que se reduz ao “nível animal”. O par adicção/doença é vivido como um conflito que dilacera o sujeito, apontando para um distanciamento e um estranhamento em relação a si mesmo, comprometendo a própria humanidade do adicto. Esse conflito é vivido como uma luta interior entre “duas pessoas - o médico e o monstro”, remetendo à idéia de uma duplicidade interior; de que existe um Outro dentro de si mesmo, que não conseguimos controlar. Tal qual no clássico de Stevenson, Dr. Jekyll e Mr. Hyde, o eu aparece aqui cindido, dilacerado, dividido em duas metades em conflito entre si. A vivência deste conflito interior desemboca na imagem de que se chegou no “fundo-do-poço”, momento derradeiro, em que o “monstro venceu”. Todavia, a vitória do “monstro”, aponta para a morte simbólica do indivíduo soberano, idêntico a si mesmo, capaz de controlar a própria vida pela consciência e vontade.
Mútua-Ajuda - http://www.mais24hrs.blogspot.com.brAs metáforas constituem, assim, num importante instrumento discursivo pelo qual os indivíduos constroem e expressam suas aflições, permitindo a elaboração de um sentido para suas experiências de doença. Com efeito, somos remetidos à noção da adicção entendida como uma doença incurável:
Como adictos, temos uma doença incurável chamada adicção. A doença é crônica, progressiva e fatal. No entanto, é uma doença tratável (...) Compreendemos que nunca estaremos curados e que conviveremos com a doença pelo resto de nossas vidas. Temos uma doença, mas nós nos recuperamos. A cada dia é-nos dada uma nova oportunidade. Estamos convencidos de que, para nós, só existe uma maneira de viver: o caminho de N.A. (Narcóticos Anônimos, 1993: 8-9)
Ser um adicto, portanto, remete à idéia de que se é portador de uma doença incurável, mas que pode ser detida. A doença aqui se confunde com o próprio eu, comprometendo sua integridade e sua centralidade. Trata-se agora de eu descentrado, que deve aprender a conviver com o Outro dentro de si mesmo. O caminho para esse aprendizado é um só: “o caminho de N.A”. O grupo de mutua ajuda se apresenta, assim, como alternativa à desintegração e fragmentação completa do sujeito, estabelecendo uma rede prático-discursiva, que permite configurar a experiência da adicção como uma doença “crônica, progressiva e fatal”, mas que é tratável e ao mesmo tempo permite a modulação e a construção da noção de pessoa.
O processo de recuperação implica na abstinência e na prática dos Doze Passos. No Primeiro Passo encontramos: “Admitimos que éramos impotentes perante nossa adicção, que nossas vidas tinham se tornado incontroláveis”. Fazer esse passo é condição necessária para o início da recuperação e significa admitir para o adicto, que há forças maiores que a consciência e a vontade. Nesse primeiro passo, o adicto, ao invés de afirmar “eu quero”, “eu posso”, “eu consigo”, tão ao gosto do egocentrismo, próprio à ideologia moderna, reconhece sua impotência. Esse passo implica, assim, um momento decisivo para o reconhecimento de que o sujeito não é um, mas antes múltiplo, pois há nele forças que o guiam e que o controlam independentes do ego, implicando num distanciamento da representação da pessoa moderna. Em outras palavras, trata-se de um distanciamento da concepção de indivíduo autônomo e soberano, centrado na consciência, próprio à tradição cartesiana e uma ênfase no aspecto relacional como constitutivo do próprio sujeito. É preciso, assim, admitir que existe um Outro dentro de si mesmo e que não o controlamos a partir de nossa vontade. Assim, em oposição à representação da pessoa individualizada, cujo centro está na consciência, a narrativa aponta para a alteridade como constitutiva do próprio sujeito. Com efeito, enquanto a representação individualista da noção pessoa ressalta o caráter egocêntrico do sujeito, aqui se trata de uma noção de pessoa cuja abertura para o Outro tem um papel central.
Admitir a impotência implica também estabelecer uma relação de rendição ao Poder Superior, tal como expresso no segundo passo: : “Viemos a acreditar que um Poder Maior do que nós mesmos poderia devolver-nos à sanidade.” A construção da noção de pessoa passa também por uma relação hierárquica entre o indivíduo e o Poder Superior. Com efeito, a identidade do adicto se constrói na relação existente entre o todo - Poder Superior - e a parte - adicto em recuperação: “Qualquer um que tenha o desejo de parar de usar pode tornar-se membro de N.A . Somos adictos e nosso problema é a adicção” (Narcóticos Anônimos, 1993: 71 - grifos meus). E aqui se coloca a importância do princípio do anonimato. Com efeito, o anonimato aponta para o fato irremediável de que se é portador de uma doença incurável e que a única forma possível de recuperação é através da rendição ao Poder Superior.
O apoio mútuo entre os membros da Irmandade é uma das chaves para o êxito do processo de recuperação. Pois é, na medida em que partilha suas experiências com outros adictos, que o membro de N.A reata um vínculo que tinha perdido com o Outro. O que é confirmado pelo Décimo Segundo Passo que afirma: “Tendo experimentado um despertar espiritual, como resultado destes passos, procuramos levar esta mensagem a outros adictos e praticar estes princípios em todas as nossas atividades”. Aquele que se sentia diferente dos outros pelo uso de drogas, e as usava para se diferenciar em tudo e se isolava por isso, descobre-se igual a muitos outros com o mesmo problema. Trata-se de uma relação de igualdade entre pessoas que se reconhecem como diferentes; outras em seu problema da adicção. É, portanto, no encontro das diferenças que se torna possível a emergência de uma relação mais igualitária, sem as pressões da culpa e da marginalidade social: “Quando nos identificamos como adictos, a ajuda torna-se possível. Podemos ver um pouco de nós mesmos em cada adicto e ver um pouco deles em nós” (Narcóticos Anônimos, 1993: 8)
A alteridade, inscrita simbolicamente na presença do Outro adicto em recuperação, funda a possibilidade de se pensar numa noção de pessoa descentrada, que passa agora a incorporar o Outro no seu interior. Com efeito, numa primeira aproximação creio que as práticas dos grupos de mutua ajuda sinalizam para uma sensibilidade social centrada no reconhecimento simbólico do Outro. Vistos desta forma pode-se dizer que os grupos de mutua ajuda pautam-se no seu interior por uma verdadeira ética da alteridade, na qual o apoio mútuo e a reciprocidade entre seus membros é a pedra de toque para a recuperação do adicto.

Referências Bibliográficas:
Alcoólicos Anônimos em sua comunidade. (1997) São Paulo, Junta de Serviços Gerais de Alcoólicos Anônimos no Brasil - JUNAAB [folder de apresentação].
Narcóticos Anônimos. (1993) (trad.) da quinta edição do livro Narcotics Anonymous, Narcotics Anonymous World Service, Inc. Chatsworth, Califórnia USA.
GIDDENS, Anthony. (1996) Para além da esquerda e da direita: o futuro da política radical., (trad.) Álvaro Hattnher, São Paulo: Editora da UNESP.
RABELO, Miriam Cristina M. (1999) Narrando a doença mental no nordeste de Amaralina: relatos como realizações práticas. In RABELO, Miriam Cristina M. Experiência de doença e Narrativa, Rio de Janeiro: FIOCRUZ.
RICOEUR, Paul. (1976) Teoria da interpretação: o discurso e o excesso de significação, Lisboa: Edições 70.

Edemilson Antunes de Campos
Autor do livro A tirania de Narciso: alteridade, narcisismo e política, São Paulo: Annablume/FAPESP, 2001, é doutorando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e professor de antropologia da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero e Centro Universitário Capital.

Artigo interessante, que amplia a visão e opinião, a respeito da importância, e do conhecimento a respeito dos grupos de mútua ajuda. 

Mais 24 Hrs de Paz e Serenidade

Prevenção ao uso de drogas

 Prevenção ao uso de drogas


Prevenção - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br
É muito difícil convencer alguém a não fazer algo que lhe dá prazer - e a droga, antes de qualquer outra coisa, é algo que oferece prazer imediato.
Por causa disso, fazer terrorismo com histórias macabras ou exagerar na descrição dos efeitos das drogas só piora as coisas: a maioria dos jovens são melhor informados sobre drogas do que os próprios pais, mesmo quando não são usuários. Portanto, a preveção ao uso de drogas começa muito antes.
Para o psiquiatra Flávio Gikovate, a prevenção passa necessariamente por um tipo de educação não apenas aberto ao diálogo, mas também à independência. "O tipo de educação que se vê hoje cria adolescentes fracos. E um ser imaturo, sem paixão, que não consegue enxergar a vida com seriedade, é altamente predisposto à influência do meio".
Mas este "meio" não são apenas os amigos, embora a pressão do grupo seja um fator importante, ainda mais nesta idade: "Os exemplos que o adolescente tem em casa também contam muito. Muitos deles ouvem discursos que os incentivam à responsabilidade e ao auto-controle, por exemplo, mas vêem os pais comendo compulsivamente, bebendo, ou fazendo coisas irresponsáveis. Isto não significa que os pais estejam sendo levianos ou mal intencionados, mas é importante que os pais observem a coerência entre o que dizem e o que fazem".
Prevenção - http://www.mais24hrs.blogspot.com.br Incentivar os filhos a terem uma vida saudável e produtiva, portanto, é a melhor forma de mantê-los longe das drogas e de outros tipos de dependência, como a do consumo, do jogo e tantas outras. Dar-lhes suporte afetivo e cuidar de sua auto-estima são tarefas muito mais complexas, mas também mais eficazes tanto para evitar o problema das drogas, quanto para formar adultos mais corajosos e conscientes de si mesmos.

Terra - Vida e Saúde

'A cracolândia nunca acabou', diz mãe de dependente químico em SP

'A cracolândia nunca acabou', diz mãe de dependente químico em SP

Cabeleireira diz que o filho, usuário de crack há 12 anos, continua no local.
Para ela, combate à droga é tratado com 'romantismo' pelo estado. 

Lívia Machado e Paulo Toledo Piza Do G1 São Paulo
    Renato pichou a parede do banheiro do local onde usa mãe trabalha com questionamentos e pedidos de perdão (Foto: Lívia Machado/G1)
    Renato pichou a parede do banheiro do local onde
    a mãe trabalha com questionamentos e pedidos
    de perdão (Foto: Lívia Machado/G1)
A cabeleireira Rosana convive há mais de uma década com o vício em crack do filho Renato, de 28 anos. Ela já perdeu as contas de quantas vezes o jovem deixou a casa onde mora rumo à cracolândia, no Centro de São Paulo. Um ano após Prefeitura, governo do estado e forças de segurança intensificarem as ações na região, a mãe garante que "a cracolândia nunca acabou".
Ele não saiu da cracolândia. Ele se desloca de um lugar ao outro, quando a pressão policial ocorre. O dependente de crack anda muito, muitos quilômetros por dia, e sempre fica com os pés feridos de tanto andar ou correr"
Rosana, mãe de dependente de crack
 
(O G1 publica, nesta semana, uma série de reportagens sobre o consumo de crack e como é feito o tratamento de dependentes. Foram ouvidos os órgãos públicos responsáveis pelo atendimento aos usuários e pelo combate ao vício, como o Ministério da Saúde e Secretaria Nacional de Segurança Pública, além de pesquisadores, médicos e pacientes. O governo federal liberou recursos para estados e municípios sem conhecer a dimensão do problema.)

Na visão de Rosana, a medida provocou um falso êxodo. A migração dos dependentes para outras áreas da cidade não destituiu a cracolândia do posto oficial da venda e consumo. "Ele não saiu da cracolândia. Ele se desloca de um lugar ao outro, quando a pressão policial ocorre. O dependente de crack anda muito, muitos quilômetros por dia, e sempre fica com os pés feridos de tanto andar ou correr".
Renato é um rapaz inteligente, interessado por literatura e esportes. No futebol, tinha talento, segundo a mãe, e era benquisto nos times de bairro. Perdia a vaga de titular (e os colegas) quando passava a ser supeito de furtos. "Ele jogava bem, e era sociável. Mas quando começou a usar droga, roubava pra custear o vício. Era ágil e dissimulado nessas horas", conta.
Dentro de casa, ele também perdeu espaço por conta da delinquência. Quando retorna, não tem mais quarto, tampouco cama. Rosana mantém um armário no canto da sala, onde guarda uma coberta e os objetos de higiene pessoal de Renato – itens liberados mediante negociação. "Ele só tem acesso se estiver disposto a mudar de vida, se tratar. Tem que ter uma troca. Não posso facilitar", diz.
Ela impõe um controle para evitar novos prejuízos. A camiseta do time de futebol inglês Chelsea é a preferida do rapaz, e uma das poucas roupas que sobrou no armário. "Se deixar, ele vende na rua". A mãe controla até o uso do cortador de unha. "Falo que, se ele levar e vender, ficará sem quando retornar, e não terá como cortar as unhas. Ele sempre gostou de se cuidar, de estar limpo, arrumado."
Rosana já resgatou o filho na cracolândia e pagou dívidas de drogas do rapaz. Hoje, ele é jurado de morte no bairro onde a família vive por dever a traficantes locais. Renato tentou se tratar pela primeira vez aos 16 anos e já soma 10 internações ao longo dos 12 anos de vício.
mapa_cracolandias_sao_paulo_300 (Foto: Editoria de Arte / G1)
Ação policial completa 1 ano
Em 3 de janeiro de 2012 foi intensificada a Operação Integrada Centro Legal, com objetivo de combater o tráfico e dar tratamento aos usuários com ações de agentes de saúde, sociais e da Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana.
Um ano depois, dados da administração municipal e da Defensoria Pública, relatos de policiais militares, guardas-civis e ex-dependentes químicos, além e flagrantes do G1, indicam que ruas e avenidas da região central seguem ocupadas por usuários e traficantes de drogas. A chamada cracolândia resiste e ganha "filiais".
Depois de a operação começar, o número de vias da região frequentadas por usuários saltou de 17 para 33. O levantamento é da Coordenadoria de Atenção às Drogas, órgão ligado à Secretaria de Participação e Parceria da Prefeitura.
A Operação Integrada Centro Legal existe desde 2009, mas, no início do ano passado, quando passou a contar com policiais militares e guardas-civis, parte dos viciados da cracolândia começou a migrar para outras regiões da cidade, numa fuga chamada por eles de "procissão do crack".
De acordo com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, já foram identificados grupos de viciados em entorpecentes em dez bairros: Sé, Santa Cecília, República e Bela Vista (no Centro); Cambuci e Itaim Bibi (Zona Sul); Pari (Zona Norte); Mooca e Belém (Zona Leste); e Barra Funda (Zona Oeste).
Internação compulsória
A cabeleireira acredita que, no caso do crack, não existe outra opção a não ser a internação involuntária. "O dependente químico do crack não tem como decidir, pensar, já que a droga atua tão destrutivamente que o cérebro fica comprometido", defende.
O dependente químico do crack não tem como decidir, pensar, já que a droga atua tão destrutivamente que o cérebro fica comprometido"
Rosana, mãe de dependente de crack
Os especialistas que se posicionam contra a internação compulsória costumam argumentar que as intervenções sem a vontade do dependente geram uma taxa de fracasso alta no tratamento e o consequente retorno ao uso da droga. Para a psicóloga Miriam Debieux Rosa, do Instituto de Psicologia da USP, a internação compulsória não pode ser usado como tratamento ao usuário.
“Penso que a internação compulsória é um procedimento de emergência psiquiátrica em casos específicos e sempre de tempo curto. Sou contra este procedimento, que não é tratamento, como política pública para um conjunto de pessoas com diferentes condições físicas e mentais. Além de não ser tratamento, a internação compulsória tem efeitos nocivos e envolve outras problemáticas - sociais, políticas e psíquicas”, disse ao G1.
Apesar dos argumentos contrários à prática, há quem defenda a internação compulsória. "Não tem jeito, somente recolhendo todos eles para uma internação compulsória é que poderemos, após os primeiros 30 ou 60 dias, oferecer uma opção de tratamento para esse indivíduo", diz o consultor Fabian Penyy Nacer, ex-viciado que não vê êxito em abordagens quando o usuário está sob efeito da droga.
"Abordando-o na rua, você só vai conseguir falar com o demônio do crack que se instalou dentro dele e não conseguirá, de fato, conversar com o ser humano que existe dentro dele", defende. Sabendo da dificuldade em conversar com alguém sob efeito da droga, os agentes da saúde não abordam viciados durante o consumo.
Amoroso
Semanas antes da última das inúmeras vezes que saiu de casa, Renato recomendou um link em sua página pessoal no Facebook. A reportagem indicada falava sobre a crise no Palmeiras, time pelo qual sempre foi torcedor aficionado. No post, ele pedia força ao clube, que na época cambaleava na série A do Campeonato Brasileiro. O rapaz voltou para as ruas antes do rebaixamento do time.
No banheiro do trabalho da mãe, Renato deixou inúmeros recados e desabafos. Quase todos pichados em inglês. "Quando ele está bem, é amoroso, pede ajuda, diz que quer se tratar", lembra a cabeleireira.
 
'Epidemia' de crack
Para a mãe, o estado minimiza danos do que define como "epidemia de crack", e não se empenha em combatê-lo. "As pessoas que estão comandando esta guerra tratam o assunto com romantismo em verso e prosa. Falta muito arsenal e gente para cuidar disto", disse.
O atendimento proposto aos usuários é feito pelo Centro de Atenção Psicossocial (Caps). A assistência é ambulatorial, voluntária, e pede a participação da família no processo. Mesmo com o filho na rua, Rosana frequenta o serviço semanalmente. Avalia como positivo o suporte, mas questiona o método.
"Meu filho já foi internado mais de 10 vezes em diversas instituições. Algumas vezes por vontade própria. Há dois anos ele iniciou o tratamento no Caps. Não posso afirmar que o sistema é ineficaz, mas para o meu filho não funcionou. Falta um serviço que tenha condições de lidar com o dependente resistente", afirma.
Organizações ligadas a igrejas tentam vencer o crack pela fé. Uma delas é a católica Missão Belém, que afirma ter recuperado dezenas de viciados. A diferença na abordagem é que boa parte dos agentes algum dia já dividiu o cachimbo do crack com outros usuários.
Paredes pichadas por Renato em banheiro do trabalho da mãe  (Foto: Lívia Machado/G1)
 (Foto: Lívia Machado/G)

"Perdi toda a família, acabei na rua completamente cego pela droga. Pegava lixo para comer", lembra o barman Fabrício Gomes, de 28 anos. Após frequentar por dois anos a "terra do crack", ele foi convidado a frequentar a missão. Depois de abandonar o vício, voltou à cracolândia. "Vou lá para fazer o mesmo convite que recebi." 


Fonte - G1Exelente Matéria - Mais 24 Hrs de Paz e Serenidade