Moradias assistidas são opção pós-internação por crack |
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Luis Kawaguti
Da BBC Brasil em São Paulo
Tratamento pode ser em moradia assistida
O governo de São Paulo lançou um mecanismo médico e jurídico para agilizar internações forçadas para dependentes de crack no Estado. A iniciativa começou a funcionar na segunda-feira em um centro especializado próximo à Cracolândia, no centro da capital.
Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em geral, as internações motivadas por dependência do crack não devem superar um período superior a dois meses. Depois disso, segundo o médico, o paciente deve ser levado para a casa de um familiar e submetido a um tratamento ambulatorial – frequentando clínicas ou centros médicos especializados regularmente.
O governo de São Paulo lançou um mecanismo médico e jurídico para agilizar internações forçadas para dependentes de crack no Estado. A iniciativa começou a funcionar na segunda-feira em um centro especializado próximo à Cracolândia, no centro da capital.
Segundo o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em geral, as internações motivadas por dependência do crack não devem superar um período superior a dois meses. Depois disso, segundo o médico, o paciente deve ser levado para a casa de um familiar e submetido a um tratamento ambulatorial – frequentando clínicas ou centros médicos especializados regularmente.
Porém, grande parte dos frequentadores da Cracolândia não só perderam
seus empregos e família, como por vezes não possuem vínculos familiares
fortes o bastante para tornar essa realidade possível.
Laranjeira afirmou que uma alternativa para o governo nesses casos é
enviar os viciados em recuperação para as chamadas moradias assistidas.
Tratam-se de alojamentos onde o dependente de drogas recebe, além do
teto, apoio para conseguir um emprego e recomeçar sua vida.
No exterior essas moradias são conhecidas como "halfway houses',
(casas a meio caminho, em português) e têm como característica oferecer
também um monitoramento do processo de desintoxicação.
Segundo Rosangela Elias, responsável pelo setor de tratamento de
dependentes químicos da Secretaria de Saúde do Estado, São Paulo tem
atualmente cerca de 300 vagas em moradias assistidas e residências
terapêuticas estaduais e municipais.
Segundo o psiquiatra Antonio Geraldo da Silva, presidente da
Associação Brasileira de Psiquiatria, independente de onde os
dependentes em recuperação estiverem instalados, o governo precisa
estudar medidas para obrigá-los a frequentar semanalmente as clínicas
especializadas.
Melhorias
O psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, também da Unifesp, afirmou
que é necessário melhorar a qualidade do atendimento em parte da rede de
clínicas de tratamento ambulatorial conhecidas como Capsad (Centros de
Atenção Psicosocial Álcool e Drogas). Segundo ele, embora algumas sejam
exemplares, outras ainda precisam melhorar.
Já Silva foi mais longe, afirmando que falta especialização na rede pública de atendimento médico em geral no Brasil.
"Não há treinamento específico direcionado e capacitado para isso
(tratamento de dependentes químicos). São raras as ilhas de exceção,
precisamos de treinamento especializadíssimo, pois é um processo de alta
complexidade", disse.
Metodologias
Todos os especialistas ouvidos pela BBC Brasil concordam que deve
haver um planejamento específico para o tratamento dos viciados em
crack. Eles divergem porém sobre a metodologia a ser adotada.
Silveira, que é contrário à internação (exceto em casos específicos,
como o de pessoas que corram risco de cometer suicídio ou sofram
alucinações), disse que independente da forma de tratamento, as taxas de
recuperação atualmente são muito baixas.
"Os melhores serviços do mundo têm taxas de eficácia de 35% a 40%, no máximo", disse.
Segundo ele, o tratamento ambulatorial deve promover a abstinência total das drogas em um primeiro momento.
Contudo, se o dependente não conseguir se desligar totalmente do
entorpecente, uma abordagem de "redução de danos" deve ser empregada.
Isso significa que ele pode começar a diminuir aos poucos a
quantidade de entorpecente utilizada e eventualmente substituí-la por
outra substância tóxica, porém um pouco menos danosa que o crack.
Silveira estudou um grupo de 50 usuários de crack. A característica
específica deles era o fato de afirmarem não ser capazes de lidar com a
compulsão gerada pela abstinência da droga.
Todos afirmavam porém que quando usavam um cigarro de maconha
conseguiam deixar de fumar o crack momentaneamente. Silveira passou
então a endossar esse comportamento (sem prescrever entorpecentes,
certamente).
"Foi um acompanhamento de um ano ao todo: 68% deles abandonou crack
em três meses. Depois de seis meses esse grupo abandonou também a
maconha", disse.
Já Silva afirmou que a abordagem de redução de danos não é recomendada pela Associação Brasileira de Psiquiatria.
O que todos os especialistas concordam porém é que o tratamento pode
ser multidisciplinar. Ou seja, pode ser acompanhado de atividades
esportivas e religiosas.
Mas eles dizem que a fé não pode substituir o tratamento clínico dos
pacientes – o que ocorreria em algumas comunidades terapêuticas ligadas a
religiões.
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