Mais de mil viciados em crack perambulam pelas ruas de Salvador

Mais de mil viciados em crack perambulam pelas ruas de Salvador


Mais de mil viciados em crack perambulam pelas ruas de Salvador
 “Hoje, a população em situação de rua em Salvador é de 3.500 pessoas, segundo o IBGE. Desses, 10% são menores e pelo menos metade usa crack. A criança é  muito mais susceptível à influência da  droga”, diz o secretário municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza, Maurício Trindade. Partindo dessa estimativa, há pelo menos 175 menores viciados em crack vivendo espalhados pelas ruas da capital baiana.
O mapeamento da Secretaria de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) indica que a maioria das crianças e adolescentes que consomem a droga - assim como os usuários de todas as faixas etárias – está concentrada onde o dinheiro circula. “Para alimentar o vício é a forma que elas encontram, na abordagem dos turistas ou em bairros nobres”, de acordo com a coordenadora da Proteção Social Especial da Semps, Dinsjani Pereira, que indica o Centro Antigo como área de maior concentração.
Para o secretário, o maior problema da cidade é o enorme contingente de moradores de rua que perambulam pela cidade. Um grave problema social, que nos últimos anos ninguém quis saber. “40% dos moradores de rua usam crack ou álcool. Para internamento só temos o hospital Juliano Moreira, que está superlotado. O problema é grande e estamos nos preparando para enfrentá-lo. A prefeitura já está preparando cinco prédios para transformá-los em abrigos – Estão em obras um na San Martin, dois na Suburbana, um na Baixa dos Sapateiros e um nas Sete Portas”, afirmou.
As crianças e adolescentes em situação de rua em Salvador têm no crack um refúgio. O secretário Maurício Trindade, afirma que pelo menos 50% deles usam a droga. Ele acredita que a política desenvolvida até agora para atendimento a esse contingente de pessoas esteve equivocado. Os Caps – Centros de Atendimento Psicossocial – realizam apenas atendimento ambulatorial. Quer dizer: a pessoa tem que procurar, para ser atendido por consulta. Muitos vão e não voltam para continuar o tratamento, observou.
De acordo com levantamento feito pela Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate a Pobreza – SEMPS, os lugares que mais concentram viciados em crack são: Pelourinho, Baixa dos Sapateiros, Sete Portas, Nazaré, Barbalho, Avenida Sete, Rua Chile, Carlos Gomes, Dois de Julho, Piedade, Forte de São Pedro. Graça, Vitória Campo Grande, Canela e Centenário. Comércio Roma, Mares e Ribeira, Barra, Ondina, Rio Vermelho, Pituba, Iguatemi e Paralela. Baixa do Fiscal, Suburbana e Base Naval. Cabula, Pernambuém, Liberdade, Pau Miúdo, IAPI, Pero Vaz. Patamares, Imbuí, Mussurunga, São Cristóvão, Itapuã, Stella Maris, Aeroporto, Federação, Vasco da Gama, Tororó, Bonocô e Brotas,. Pirajá. São Caetano, Fazenda Grande, Marechal Rondon e Largo do Tanque. São Rafael, Pau da Lima, São Marcos, Cajazeiras, Águas Clara e Boca da Mata.

Prevenção, combate e educação

O combate às drogas é um desafio para todos os gestores municipais. Qualquer ação de enfrentamento às drogas tem de ser pensada em nível de prevenção, combate e educação. Os municípios, em dezembro de 2012, teve seu poder de ação ampliado pela alteração da Lei Nacional Antidrogas (Lei 11.343/06). Com isto as redes de serviço de saúde municipais ganharam condição de desenvolverem programas de atenção ao usuário e ao dependente de drogas. Os municípios também ganharam direito de conceder benefícios às instituições privadas que desenvolverem programas de reinserção no mercado de trabalho, do usuário e do dependente de drogas encaminhados por órgão oficial. Diante destas condições e da realidade vivenciada em toda a Bahia do aumento do consumo de crack e outras drogas é preciso cada vez mais uma articulação dos poder público para enfrentamento deste problema.
Trata-se de um programa do governo federal que articula a ação nos três eixos: prevenção, combate e educação. A área de prevenção ou cuidado como é chamado na cartilha do programa, apresenta as diretrizes que devem ser tomadas como medida de prevenção: serviços diferentes para necessidades distintas, ampliação da oferta de serviços, rede SUS preparada para atendimento, reinserção do usuário, apoio integral aos usuários e família.  Este é um trabalho que vem sendo realizado em conjunto.
Dentro da previsão das ações conjuntas, começou a ser implantado no início deste mês, nove bases móveis de videomonitoramento para o enfrentamento do crack em seis municípios. A ação da Polícia Militar integra o programa do governo federal  “Crack, é possível vencer!”, com ações estruturadas nos eixos: cuidado, autoridade e prevenção. A medida foi anunciada no mês passado, em reunião no auditório do Quartel dos Aflitos, com a presença do comandante de Operações Policiais, coronel Nivaldo dos Anjos, e do coordenador do Policiamento Comunitário, tenente coronel Admar Fontes. A iniciativa alcança municípios com mais de 200 mil habitantes. Na Bahia, começaram a ser instaladas três bases em Salvador, duas em Feira de Santana e uma nas cidades de Camaçari, Itabuna, Juazeiro e Vitória da Conquista. O coordenador do Núcleo de Prevenção à Violência da Secretaria da Segurança Pública, major Elsimar Leão, destacou que o programa, já está pactuado em 13 estados e Distrito Federal.

Tratamento é especializado

Para o funcionamento das bases móveis serão disponibilizadas 180 câmeras; 9 viaturas; 18 motocicletas; 450 pistolas de condutividade elétrica e 1.350 espargi dores (gás de pimenta). Além disso, cada base contará com um efetivo de 40 policiais militares com ações integradas aos agentes das polícia Civil e Técnica, e profissionais da Guarda Municipal e das secretarias de Saúde do Estado e Município e Secretaria de Desenvolvimento Social.
Com o objetivo de aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção aos usuários, enfrentar o tráfico de drogas e as organizações criminosas, profissionais das diversas áreas inseridos no processo serão capacitados com os cursos: Nacional de Multiplicador de Polícia Comunitária; Redes de Atenção e Cuidados; Abordagem Policial às Pessoas em Situação de Risco.
Por outro lado, policiais da Ronda Escolar e a coordenadora do projeto Aliança de Redução de Danos Fátima Cavalcanti (ARD-FC), serviço da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (Ufba), desenvolvem ações ligadas à Central de Orientações e Referências em Atenção ao Uso de Álcool e Outras Drogas (TeleCorad).
A iniciativa, desenvolvida pela Secretaria da Educação, em parceria com a Ufba, integra o projeto Prevenção do Uso Abusivo de Drogas em Ambientes Escolares do Estado da Bahia e busca dar suporte aos educadores da rede estadual para lidarem com situações relacionadas ao uso de drogas.
O Telecorad funciona como uma central telefônica, que oferece gratuitamente atendimento à comunidade escolar. O serviço pode ser acionado pelo telefone 0800-075-547 e disponibilizam ainda informações para encaminhamentos aos serviços de saúde, assistência social, assistência jurídica, entre outros.
Para o coordenador de Acompanhamento da Rede Escolar, Sérgio Brachmans, o trabalho pioneiro envolve, justamente, o esclarecimento e ações educativas. “Esta é uma iniciativa inovadora. A ação deve ser vista não com um olhar punitivo ou repressivo, mas como um trabalho executado por profissionais que estão ao lado dos nossos jovens com o objetivo de educar”.

Uma questão de saúde pública

O major da Polícia Militar, Ricardo César Santana, coordenador da Ronda Escolar, ressaltou a importância de alinhar as ações de um projeto que traz, na sua essência, o debate sobre a prevenção. “Compreendemos que a prevenção do uso abusivo de drogas é também uma questão de saúde pública”.
Segundo ele, o Telecorad é uma ferramenta importante nesse processo “e o trabalho da Ronda vem sendo aprimorado constantemente, principalmente no que se refere à nossa aproximação com os estudantes, a peça-chave desse processo, para que eles percebam que a polícia é amiga deles e que está ali para ajudá-los”.
O coordenador da Aliança de Redução de Danos (ARD), o professor e médico Tarcísio Matos de Andrade, fez uma exposição sobre o eixo de atuação e a metodologia de trabalho da ARD, criada em 2004, com o objetivo de oferecer à comunidade atividades de prevenção, assistência, ensino e pesquisa. De acordo com ele, é uma prática “que privilegia menos as intervenções e dá importância ao contato com o paciente e o cuidado com a saúde”.

Ronda escolar

A Secretaria da Educação, também desempenha o seu papel por meio do programa Todos pela Escola, com uma política de fortalecimento da educação básica que utiliza 10 compromissos. Dentro do eixo gestão escolar um dos projetos é a Ronda Escolar, “que assumiu papel de educador. É uma ação inovadora na Bahia”, como explica a diretora de Gestão Descentralizada do órgão, Euzelinda Dantas.
A Ronda Escolar, que atende a todas as escolas de Salvador, consiste na circulação das viaturas no entorno das escolas e no atendimento a chamados das unidades, apoiando e orientando o gestor na resolução de conflitos, além de outras atividades de prevenção. “Hoje existe uma polícia cidadã de proximidade com a comunidade escolar, que tem sido aprimorada para lidar com diferentes situações. Inclusive, já percebemos uma receptividade maior do nosso efetivo entre os estudantes”, diz a Euzelinda.

Fonte - Tribuna da Bahia

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