Nova York acabou com cracolândias com o aumento do policiamento

Nova York acabou com cracolândias com o aumento do policiamento

 

Nova York acabou com cracolândias com o aumento do policiamento Policiais à paisana compravam drogas para identificar os criminosos. Na década de 80, NY era dominada por traficantes, usuários e mendigos.

Nova York também já teve suas cracolândias e conseguiu acabar com elas. Veja na reportagem de Hélter Duarte, Sérgios Telles e Anna Camaducaia, como a epidemia do crack surgiu na cidade, nos anos 80, e como a sociedade e as autoridades enfrentaram o problema. Júlia é uma sobrevivente. Aos 47 anos, ela valoriza as coisas mais simples da vida, como o ato de respirar.

Uma nova-iorquina conheceu o inferno muito cedo. "Eu comecei a usar drogas quando eu tinha dez anos. Aos 17 já estava usando o crack. Era uma droga barata. Fiquei no crack até os 25". Oito anos de vício fizeram Júlia perder quase tudo. "Eu perdi todos os meus amigos, perdi meu emprego, fiquei sem dinheiro, sem lugar para morar. Mas eu tinha uma filha pequena que eu amava”, diz.

Essa era a realidade de milhares de moradores de Nova York na metade da década de 80. Quem vê hoje áreas super valorizadas da cidade, como o Bryant Park, no coração de Manhattan, e bairros como Hells Kitchen, cheios de prédios de luxo, ou o West Village não imagina que já foram grandes cracolândias, muito parecidas com as que existem hoje em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.

Um mercadão de drogas. Territórios dominados por traficantes, usuários e mendigos, em plena luz do dia, para quem quisesse ver.

Dados do governo revelam que no ano de 87, 60% de todos homicídios em Nova York estavam relacionados ao uso de drogas. Mais da metade desse total (32%) tinha relação específica com o crack.

Robert Stutman era o chefe do DEA em Nova York, o órgão federal responsável pelo combate às drogas. Em entrevista pela internet ele diz: "Agosto de 85, foi quando vi crack pela primeira vez no nosso escritório. Um policial entrou na sala e falou: chefe, estamos encontrando essa droga por todo o Harlem e estão chamando de crack e a gente não sabe nada sobre ela".

O jornalista Richard Behar se lembra bem daquela época. "Parecia uma zona de guerra quando você andava à noite. Não havia tiroteio, era raro. Mas havia violência física, principalmente quando a gente tentava denunciar os traficantes para a polícia. E havia também prédios e apartamentos que eram ocupados para o uso da droga. Você poderia levar uma facada”.

Vinte e oito anos atrás, seria muito difícil imaginar essa cena: o Bryan Park completamente livre do crack, e as pessoas aproveitando a tarde com toda segurança. A droga, claro, ainda existe em Nova York e em outras cidades americanas. A diferença é que ela deixou de ser um problema fora de controle. Agora, essa mudança só aconteceu depois que o governo a sociedade e o governo passaram a trabalhar juntos.

Na década de 90, a quantidade de policiais em Nova York aumentou 45%. Homens à paisana compravam drogas para prender traficantes. E a lei era dura: no mínimo 15 anos de cadeia para quem fosse preso com 110 gramas de qualquer tipo de droga.

E houve ainda a política de tolerância zero do então prefeito Rudolph Giuliani, com punição automática para infrações como pichação.

Mas a maior mudança veio da mentalidade dos moradores. Richard vivia no East Village, onde existia uma cracolândia.

Um dia, ao sair de casa, ele disse: ‘basta!’. "Eu convoquei os vizinhos para uma reunião. Para minha surpresa todo mundo apareceu, até os bombeiros vieram com os caminhões da corporação, e começamos a exigir que a polícia tirasse os traficantes da área", conta.

Fonte - Bom Dia Brasil

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