ATENÇÃO! DADOS SOBRE DROGAS DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ AFRONTAM A ARITMÉTICA ELEMENTAR OU: PARA A FIOCRUZ, MACONHA NÃO É MAIS DROGA?
Blog do Reinaldo Azevedo
O
desastre da política federal de combate ao crack está evidenciado de
várias maneiras. O levantamento do site Contas Abertas ilustra com
números inquestionáveis o que se percebe nas ruas. Nesta quinta, vieram a
público dados de uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Eles
já me pareceram escandalosos o suficiente como demonstração da incúria
oficial. Escrevi a respeito. Lembrei as promessas jamais cumpridas de
Dilma Rousseff também nesse particular e apontei, em face dos números, a
irresponsabilidade daqueles que advogam a descriminação das drogas, a
começar de Paulo Gadelha, presidente da Fiocruz, um verdadeiro fanático
da causa. ATENÇÃO, LEITOR, PARA O QUE VEM AGORA. Ainda que os números da
Fiocruz já sejam, por si, devastadores, ESTOU COM A DESAGRADÁVEL
DESCONFIANÇA DE QUE FOMOS ENGANADOS. Li a respeito, conversei com
especialistas, e a equação não fecha. Parece que a Fiocruz está tentando
fazer com que diabo pareça menos feio do que é.
Vamos ver.
A primeira restrição importante parte do deputado Osmar Terra
(PMDB-RS), que é médico. Ele é demonizado pelas hostes favoráveis à
descriminação das drogas por ser um duro crítico da proposta. A Fiocruz,
por meio de um dos coordenadores da pesquisa, estimou em 700 mil o
número de usuários de crack no Brasil — 370 mil deles estariam nas
capitais e no Distrito Federal. Fato: o crack está disseminado em todo o
país. Fato: não há cidade, por menor que seja, aonde não tenha chegado
essa praga. Fato: consome-se crack até em aldeias indígenas. Fato: o
crack, há muito tempo, não é mais um problema de áreas marginais de
grandes centros urbanos.
Ora, ora… As capitais brasileiras, lembra o deputado, somam 44,7
milhões de habitantes. No país, somos 200 milhões. Uma regra de três
simples apontaria, então, mantida a proporção, para algo em torno de 1,6
milhão de usuários em todo o país — e não os escandalosos em si, mas
modestos, 700 mil, como estima representante da fundação. Ainda que se
possa considerar que o crack se distribui desigualmente país afora, a
desproporção seria gigantesca.
Vou aqui fazer uma continha. Segundo o Censo de 2010, a população das
capitais está um pouco acima dos 44,7 milhões: 45.940.041. Arredondo
para 46 milhões. Se é verdade que os usuários de crack nessas cidades
somam 370 mil, temos uma taxa de 804,34 usuários por 100 mil habitantes,
certo? Segundo os mesmos dados de 2010, a população brasileira somava
190.755.799 — arredondo para 191 milhões. Desse total, então,
145.000.000 viviam fora das capitais. A Fiocruz sustenta que o total de
usuários de crack em todo o país chega a 700 mil. Se 370 mil estão nas
capitais, os outros 330 mil se espalham nos demais municípios (é mesmo,
é?), nesse caso, então, a taxa de usuários por 100 mil habitantes seria
de 227,58. A Fiocruz pretende, assim, que acreditemos que a taxa de
usuários de crack por 100 mil habitantes do resto do Brasil corresponde a
apenas 28,29% do que se registra nas capitais.
Mas não é só isso, não! Prestem atenção ao que vem agora.
A pesquisa da Fiocruz utiliza uma metodologia segundo a qual “usuário
regular” é aquele que utilizou crack por pelo menos 25 dias nos últimos
seis meses. Na apresentação dos resultados, diz-se explicitamente que
não se trata de 25 vezes, e sim de dias de utilização, “pois usuários de
algumas substâncias (como cocaína em pó e crack), frequentemente, fazem
uso das mesmas de forma repetida, num curto espaço de tempo, no
contexto de um mesmo dia”.
Cabe, então, perguntar: dadas as características da droga e a relação
dos consumidores com ela, não seriam estes “usuários regulares”, na
verdade, DEPENDENTES? Afinal, numa continha simples, trata-se de
indivíduos que utilizaram a droga AO MENOS um dia por semana nos últimos
seis meses, em média!
Os dados divulgados, de 370 mil “usuários regulares” de crack nas
capitais, tudo indica, esconde uma realidade bem mais perigosa: eles são
mesmo é dependentes. Os usuários podem atingir um número dramaticamente
maior.
Não por acaso, Ilona Szabó, tratada por setores da imprensa como uma
espécie de Schopenhauer da descriminação das drogas, aproveita os
números mais do que inconsistentes da Fundação Oswaldo Cruz para negar a
epidemia, indagando em O Globo: “Por que o crack incomoda tanto?”. Ah,
sei lá, vai ver se trata de uma conspiração de reacionários capitalistas
contra esses revolucionários…
A hipótese sociológica
Como afirmei aqui, tudo o que é ruim nas sociedades é pior para os pobres, incluindo fenômenos e catástrofes naturais, como tempestades ou terremotos. Com o crack não é diferente. Estão tentando emprestar um viés sociológico meio vagabundo ao fato de que a pesquisa constatou que há mais consumidores da droga no Nordeste e ao fato de que os mais pobres são as maiores vítimas.
A tese sub-reptícia é a de que estamos diante de um problema de luta
de classes. Se corrigidas as desigualdades, haveria menos consumo da
droga — o que, por sua vez, dispensaria outras políticas públicas como
repressão ao tráfico, intimidação do consumo e internação de
dependentes.
O Lenad (Levantamento Nacional de Álcool e Drogas), coordenado pelo
psiquiatra Ronaldo Laranjeira, também evidencia um aumento do consumo no
Nordeste, sinal de que o tráfico ganhou capilaridade e, numa estratégia
típica de negociantes, foi buscar mercados menos hostis ao produto que
vende — vale dizer, onde a repressão é menor.
Uma nova frente de estudos, aliás, se abre com essa evidência.
Segundo o Mapa da Violência, enquanto o número de homicídios caiu
bastante na região Sudeste nos últimos anos, atingiu índices alarmantes
no Nordeste. Fica cada vez mais evidente a associação entre o uso de
drogas, especialmente o crack, e os crimes violentos, outra realidade
que a nossa Schopenhauer da descriminação pretende ignorar. O sujeito
parte do assalto para o latrocínio não porque esteja sendo perseguido
pela polícia em razão de seu vício. Mata, dona Ilona, porque está doidão
e já não sabe distinguir um crime menor de um crime maior. E já não
sabe a diferença entre a vida de um ser humano e a de um rato.
Ultima observação
A pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz também mede o percentual de consumidores de drogas ilícitas das capitais que consomem crack: seria de 35%. Por alguma razão que não consegui descobrir, a maconha foi excluída da conta. Ou por outra: não se sabe quantos dos consumidores de maconha também consomem crack.
Vai ver maconha deixou de ser droga…
Fonte - Por Reinaldo Azevedo
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